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O que os investidores viram na ClearSale, ação que subiu 14% desde o IPO

Empresa de soluções antifraude estreou na bolsa no dia 30 de julho no topo da faixa precificada e, desde então, se mantém acima do preço inicial

Cultura e preço 'baixo' chamam a atenção de investidores para a gigante antifraude (Cauê Diniz/Divulgação)

Cultura e preço 'baixo' chamam a atenção de investidores para a gigante antifraude (Cauê Diniz/Divulgação)

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Karina Souza

Publicado em 12 de agosto de 2021 às 19h11.

Última atualização em 12 de agosto de 2021 às 21h35.

Talvez você nunca tenha ouvido falar da ClearSale -- mas, com certeza, já foi alvo de algum dos serviços da empresa. Especializada em proteção antifraude, a companhia fundada em 2001 combina uma extensa base de dados com inteligência artificial e pessoas para proteger empresas de setores como e-commerce, o de bancos, de seguros e de companhias aéreas. 

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No fim de julho, a empresa realizou o próprio IPO no país, com uma oferta que movimentou R$ 1,3 bilhão. As ações foram precificadas no topo da faixa, que ia de R$ 21 a R$ 25 e, no mesmo dia em que foram colocadas à venda, tiveram um crescimento que levou os paéis para patamares próximos aos R$ 30. Desde essa data, as ações subiram pelo menos 14%, segundo a cotação desta quinta-feira, com os papéis negociados em R$ 28,53. A oferta captou R$ 1,3 bilhão, com a maior parte dos recursos (cerca de R$ 795,2 milhões) usados para financiar o crescimento orgânico da companhia e aquisições -- não custa lembrar que, no último ano, a Konduto (startup com atuação semelhante à da ClearSale) foi adquirida pela Boa Vista por R$ 172 milhões.

Diante de um cenário como esse, impossível não se perguntar: o que a empresa tem de tão especial para os investidores?

O principal diferencial destacado por fontes do mercado ouvidas por EXAME está relacionado ao fato de que se trata de uma empresa de tecnologia com uma operação já consolidada. Diferentemente de outras startups -- que estão no começo da própria jornada e podem ‘vender sonho’ -- a base de dados da ClearSale cria uma barreira de entrada para que outros competidores tomem o lugar da companhia.

“Trata-se de uma empresa que cresce de forma consistente e que não sacrifica rentabilidade para atingir esse percentual, de cerca de 30% a 40% ao ano. Além disso, uma margem EBITDA alta, fatores que fazem a diferença para investir em companhias de tecnologia no Brasil”, diz uma fonte.

Ainda no aspecto financeiro, uma análise mostra que a relação entre o valor da empresa e o faturamento com vendas (EV/Sales, utilizada para empresas de tecnologia) está em cerca de oito vezes, enquanto empresas similares estão em 12 vezes.

Ou seja, além de mostrar potencial em termos de geração de caixa, a empresa também está negociando as ações “abaixo” de outras empresas de tecnologia que operam no país -- ainda que não sejam necessariamente comparáveis --, o que pode encorajar ainda mais quem quer investir na companhia. 

Além disso, a cultura da empresa, com presença do fundador e uma gestão que retém talentos de tecnologia também chamam a atenção, num momento de escassez desses profissionais -- e de projeções de ausência ainda maiores de pessoas qualificadas para os próximos anos. 

Essa combinação de fatores atraiu fundos de investimento de alta qualidade, segundo informações de mercado. Fundos nacionais, estrangeiros, especializados em tecnologia e até aqueles com mais de US$ 1 trilhão em gestão se atraíram pela ClearSale, colaborando para que a empresa tivesse um dos IPOs mais bem-sucedidos do ano.

Para Wilson Adler, analista da Plural Investimentos, a concorrência foi tão grande pelos papéis que a gestora não conseguiu ficar alocada na empresa como gostaria. “Claramente, a empresa foi bem olhada. Muito disso se deve ao fato de que a companhia tem um legado e quer atuar em diversas pontas da gestão de risco”, afirma.

A estratégia lembra a da companhia israelense Riskfied, que abriu capital quase na mesma época da ClearSale, e que tem um modelo de negócio bastante semelhante. Também listada no topo da faixa da preço, a empresa teve alta de 30% no preço das ações logo na estreia.

Em relação à comparação tão próxima entre as empresas, fontes afirmam que fundos de investimento que analisaram ambas as companhias ainda tiveram uma preferência maior pela ClearSale -- justamente pelo legado e pela ampla atuação no país. 

O que o futuro reserva?

Num ano em que as novas ofertas de companhias brasileiras já somam mais de R$ 57 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg -- tendo o recente ipo da Raízen como o maior da América Latina este ano -- mostra que companhias locais veem um ambiente ainda bastante atrativo para captar recursos junto ao mercado, especialmente enquanto as taxas de juros ainda se mantêm baixas.

Especificamente no setor de tecnologia, em que a bolsa brasileira é carente de ofertas, se comparada a outros países, ofertas de empresas estruturadas têm alto valor. Usando um exemplo não tão recente, a Locaweb disparou mais de 400% desde o seu IPO, realizado no ano passado. 

Ainda assim, não basta apenas ser uma companhia de tecnologia para ver se “vale a pena” estrear na bolsa. “Para fazer IPO, o ideal é que sejam transações que visam captar, no mínimo, 800 milhões de reais. Isso já é um filtro enorme para um filtro de querer ver o IPO como uma rota”, diz uma fonte.

Isso não significa, entretanto, que o IPO seja a única saída para empresas desse setor que busquem capitalização. Nesse argumento, o Nubank continua sendo a maior expressão de como a captação privada ainda é uma alternativa que pode trazer sucesso. 

Mas, para quem quer seguir o caminho de se tornar uma companhia pública, não há dúvidas de que 2021 permanece um ano de “corrida” das companhias para irem à bolsa. Fatores políticos, como a eleição do ano que vem, podem causar certa instabilidade e afetar o preço das empresas, além de outros fatores macroeconômicos que podem afetar a liquidez encontrada hoje.

Na corrida pela captação, o fato é que a ClearSale, uma gigante originada na bolha pós-2000, trouxe a consistência necessária para chamar a atenção de quem precisava ao vir a público.

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