Mercados

O que os clientes do JP Morgan pensam sobre o Brasil e a bolsa

Investidores torcem o nariz para interferência do governo em diversos setores da economia

“Os investidores não gostam do mercado brasileiro por ser muito voltado para as commodities" (Don Emmert/AFP)

“Os investidores não gostam do mercado brasileiro por ser muito voltado para as commodities" (Don Emmert/AFP)

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Da Redação

Publicado em 25 de abril de 2012 às 06h12.

São Paulo – Os clientes americanos do JP Morgan não estão lá muito empolgados com a economia brasileira, mas deram os seus “pitacos” sobre as melhores ações da bolsa. O banco visitou os investidores no país na semana passada para colher a opinião deles sobre o ambiente macroeconômico e a alocação de recursos no Brasil.

De acordo com um relatório publicado nesta semana, não há uma crença em grandes notícias que possam impulsionar a economia global ou os maiores setores do índice Bovespa. Os principais bancos centrais do mundo parecem ter encerrado a injeção de liquidez e, por aqui, o setor financeiro sobre com a intervenção do governo e o de commodities com a crise mundial.

México vs Brasil

A visão é de que a situação econômica no México está melhor que a do Brasil. Os otimistas argumentam que a fase dos países que se beneficiam com a China ficou para trás e que a partir de agora são aqueles com ligações estreitas aos Estados Unidos que vão se sair bem. Além disso, há esperança de que as eleições presidenciais em julho resultem em reformas, especialmente uma que abra mais o setor de petróleo.

“Por fim, os investidores pontuaram que os retornos da Bovespa em dólar têm sido muito maior que na moeda local (63% durante os últimos três anos) e que isso não irá mais impulsionar daqui em diante porque não existe mais espaço para a apreciação do real”, afirma Emy Shayo Cherman, que assina o relatório. O JP Morgan projeta o dólar ao redor de 1,80 real para 2012.

Vale barata

O JP Morgan notou que alguns investidores estão dobrando a posição em ações da Vale (VALE3; VALE5) com a visão de que a maior parte da desaceleração do crescimento chinês já está no preço da mineradora brasileira. Ainda assim, isso não é visto como uma posição com base em fundamentos, mas como uma operação baseada no preço da empresa e na comparação dela com outras do setor.

Ativismo do governo

A recente decisão do governo de promover cortes nos juros cobrados pelos bancos públicos como maneira de incentivar a competição no setor foi discutida em todas as reuniões, ressalta o banco. “A maioria dos investidores não estava comprada em bancos brasileiros, apesar de gostarem do setor estruturalmente”, explica o relatório.


Os investidores mostraram uma grande cautela para o que foi chamado de “ativismo governamental”, não apenas no setor financeiro, mas também no industrial, manufatureiro, de câmbio e, por último porém não menos importante, a taxa de juros, alerta o banco.

Política monetária equivocada

A política macroeconômica não foi muito discutida, explica o analista, pois a viagem teve início antes da última reunião do Copom (Comitê de política monetária) e havia um consenso sobre o corte de 75 pontos-base na Selic e o fim do ciclo de afrouxo. Foi isso que aconteceu, porém o comunicado da decisão que levou o juro para 9% deixou a porta aberta para uma queda adicional.

Um investidor chegou a dizer que o Banco Central é “pouco ortodoxo”, já que a cada seis semanas tem um novo guidance, com documentos oficiais abrindo espaço para a queda nos juros, mas com membros do BC adotando uma visão contrária. O JP Morgan lembra que visitava investidores na Europa durante a reunião de março. À época, a expectativa era por uma redução de 50 pontos-base, porém a equipe liderada por Alexandre Tombini tesourou a Selic em 75 pontos-base. “Naquele tempo, vários investidores disseram que o Brasil merecia uma reavaliação por conta de uma política monetária equivocada”, diz.

Agora, essa visão foi reiterada. “A visão final para os investidores é de que a inflação terá um grande retorno, mas achamos que essa preocupação está maior com os investidores locais do que estrangeiros”, nota o banco. Os investidores agora esperam a retomada do crescimento do PIB para voltar a apostar nas ações ligadas ao crescimento, que já tiveram uma grande recuperação no início do ano.

Ações e setores

“Os investidores não gostam do mercado brasileiro por ser muito voltado para as commodities, mas achamos que eles podem montar posições interessantes entre os diferentes setores”, aponta o banco. O setor doméstico continua na preferência, principalmente os ligados ao crescimento da classe média. Com isso, a procura está por papéis que tragam proteção contra a inflação, como a AmBev (AMBV4). O setor imobiliário está deixado de lado, mas quem aposta tem buscado as ações da PDG (PDGR3).

As ações de shopping centers estão em alta, com preferência para a BRMalls (BRML3), mas também para Sonae Sierra (SSBR3) e BR Properties (BRPR3). No varejo, poucas large caps foram discutidas, porém houve interesse na Arezzo (ARZZ3) e RaiaDrogasil (RADL3). No setor de saúde, as lembradas foram a OdontoPrev (ODPV3) e Amil (AMIL3). Educação ainda não está no radar, ressalta o JP Morgan. Para commodities, o interesse foi quase zero por quaisquer outros nomes a não ser a Vale. 

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