O que esperar da reunião do Copom? Veja a visão de 10 economistas
BC decide nesta quarta o novo patamar da taxa Selic em meio à deterioração das expectativas de inflação para este ano e para 2023; juro está em 10,75% ao ano
Sede do Banco Central: mercado aponta suas apostas para a alta dos juros nesta quarta-feira (Ueslei Marcelino/Reuters)
Bloomberg
Publicado em 15 de março de 2022 às 06h45.
Última atualização em 15 de março de 2022 às 07h48.
Economistas e analistas do mercado esperam que o Banco Central eleve a Selic na quarta-feira, dia 16, em 1 ponto percentual, para 11,75% ao ano, sem descartarem uma decisão mais agressiva diante da piora do cenário para a inflação.
Analistas consultados pela Bloomberg acreditam que o BC adotará um tom hawkish (mais rigoroso) no comunicado da decisão, mas que deixará em aberto a sinalização dos próximos passos em razão do cenário de incertezas. Na reunião passada, no início de fevereiro, o BC indicou que iria desacelerar o ritmo de aperto monetário.
As apostas em alta de juros foram reforçadas pelo reajuste dos preços dos combustíveis pela Petrobras (PETR3, PETR4), em meio à disparada dos preços do petróleo e de outras commodities com a invasão da Ucrânia pela Rússia.
A projeção para o IPCA em 2022 na última pesquisa Focus divulgada antes do Copom, nesta segunda-feira, dia 14, avançou de 5,65% para 6,45%, enquanto a inflação implícita de dois anos atingiu 6,68%.
A maioria dos 30 economistas consultados pela Bloomberg prevê que o Copom elevará a Selic de 10,75% para 11,75% ao ano, mas dois esperam alta para 12% e outros dois estimam que o ritmo de 1,5 ponto percentual (p.p.) será mantido, levando a taxa para 12,25%.
A curva de juros precifica uma alta de 115 pontos base (o equivalente a 1,15 p.p.) da Selic nesta semana, com a taxa a 13,75% no fim do ciclo de aperto monetário, em agosto. Na B3, as opçõesde Selic apontam 65% de chances de alta de 1 p.p. e cerca de 35% de probabilidade de alta ainda maior.
Veja os comentários de alguns dos economistas consultados:
Mario Mesquita, economista-chefe do Banco Itaú
Com o aumento das pressões inflacionárias e o consequente risco de desancoragem de expectativas, o Copom deve realizar um aperto mais prolongado que o esperado antes da escalada das tensões entre Rússia e Ucrânia
A Selic deve subir 1 p.p. nesta reunião, 0,75 p.p. em maio e 0,50 p.p. em junho, encerrando o ciclo em 13%
Antes da guerra na Ucrânia, o Itaú acreditava que a taxa terminaria o ciclo em 12,50%
O balanço de riscos ficou mais complexo
A pressão adicional vinda dos preços de energia e de grãos irá resultar em inflação significativamente mais alta em 2022.
Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira, economistas do JPMorgan
“Embora não possamos descartar um movimento mais hawkish, julgamos que o BC vai elevar a taxa em 1 p.p. e reforçar a comunicação de que vai esperar por maior clareza para decidir o próximo movimento, abrindo espaço para outra alta de 1 p.p. em maio”
Em circunstâncias normais, a alta da inflação levaria a um aperto mais agressivo, mas o BC já elevou o juro em 875 pontos base (8,75 p.p.) nos últimos 12 meses, colocando a taxa em território restritivo
Também são incertos a extensão do impacto e a duração do choque global no crescimento e inflação.
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
O Copom deve elevar a taxa Selic em 1 p.p.; há 30% de chance de um aumento mais ousado, de 1,25 p.p.
O BC deve endurecer linguagem sobre a inflação e o balanço de risco
“Esperamos que o balanço de riscos para a inflação permaneça assimétrico para o lado positivo”
O Copom provavelmente não oferecerá guidance para a reunião de maio; caso ofereça, não deve ser uma sinalização ampla.
Solange Srour, economista-chefe do Credit Suisse
O BC deve elevar o juro em 1 p.p. e deixar em aberto o cenário para passos seguintes diante das elevadas incertezas
Deve alterar o trecho no qual diz que, em seu cenário de referência para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções
“A possibilidade de uma reversão do aumento nos preços das commodities, que produziria trajetória de inflação abaixo do cenário de referência, agora está na direção oposta”
Estima a Selic final a 13,25% ao ano, mas o cenário desafiador ao longo do ano deve continuar colocando em risco a expectativa para a taxa.
Luiz Fernando Figueiredo, sócio-fundador da Mauá Capital
A possibilidade de 1,25 p.p. estará na mesa do Copom, mas a decisão deve ser de 1 p.p.
O “BC não pode se antecipar demais; é cedo demais para fazer uma mudança no passo da política monetária”
O passo seguinte do BC na política monetária deve ficar em aberto diante de tantas incertezas
A autoridade monetária deve deixar claro que vai responder da forma que for necessária, mas que precisa ter mais informações.
Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual
O BCB deve manter o racional do último comunicado, elevando a Selic em ritmo menor em relação à última reunião
Mas o inesperado conflito entre Rússia e Ucrânia deverá ser pauta, uma vez que os preços das commodities
estão pressionando revisões altistas para a inflação
Dado o nível de incerteza, o BCB pode atuar mais firme no discurso, posicionando o balanço de riscos desfavorável de forma que sinalize um alongamento do ciclo de ajuste monetário
Com tudo na mesa, alteramos a visão de ajustes nas próximas reuniões para 100 pontos base/50/50/50, com Selic terminal em 13,25% ao ano
Vladimir do Vale, estrategista-chefe do CA Indosuez Brasil
“Desde o começo do conflito na Ucrânia, passei a esperar 100 pontos base (1 p.p.) de alta e não ficaria surpreso se o BC viesse até com 125 pontos”
O Brasil não pode se dar ao luxo de postergar um pouco o ajuste de política monetária, porque já estava em processo de lutar para trazer expectativas de volta às metas
O caminho mais seguro para o BC no momento é não se afastar do discurso duro sobre a inflação.
Roberto Secemski, economista para Brasil do Barclays
Prevê que o BC desacelerará o ritmo de aperto monetário para 1 p.p., embora o tamanho do reajuste dos combustíveis tenha superado as expectativas
Considerando os aumentos consideráveis dos últimos 12 meses, BC pode preferir estender o ciclo de aperto monetário, para ganhar mais tempo para coletar informações
“Não esperamos que seja muito assertivo em relação ao tamanho de um aumento de maio, preferindo manter algum grau de liberdade, mas é possível que possa aludir a ‘próximos passos’ no plural, sugerindo pelo menos mais dois aumentos depois de março.”
Gustavo Brotto, CIO da Greenbay Investimentos
“Esperamos uma alta de 1 p.p. no Copom, mas obviamente a chance de 1,25 p.p. aumentou”
O Copom deveria deixar a decisão seguinte mais dependente de dados em razão da grande incerteza sobre o cenário, e não sinalizar explicitamente o próximo passo.
"Alavanca de crescimento de receita está bem endereçada, mas obviamente vai demandar um pouco de tempo para o mercado comprar a tese", diz Renato Franklin