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O ‘modus operandi’ da crise de 2008 é revelado

E-mails entre banqueiros e a gestora Magnetar vem à tona e trazem detalhes sórdidos de uma especulação fraudulenta

Produtos financeiros teriam sido "criados para quebrar" (Wikimedia Commons)

Produtos financeiros teriam sido "criados para quebrar" (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 7 de agosto de 2012 às 06h12.

São Paulo – Uma troca de e-mails entre bancos e fundos durante 2006 revelada nesta semana ajuda a entender o processo que culminou na explosão de produtos financeiros que não tinham lastro ou que eram tão complicados que nem os próprios gestores os entendiam. As conversas estão relatadas em uma ação movida pelo banco italiano Intesa Sanpaolo contra o fundo Magnetar, aponta o site da organização independente de jornalismo ProPublica.

A administração da instituição italiana alega que o hedge fund americano teria criado produtos no valor de até 40 bilhões de dólares e os vendido para distribuidores ao mesmo tempo em que apostava contra os mesmos. O mecanismo fraudulento teria contribuído para a eclosão da crise de 2008, quando vários desses instrumentos alternativos de investimentos se provaram esqueletos. O Intesa afirma que alguns comprados pelo banco teriam gerado um prejuízo de 180 milhões de dólares. Segundo a acusação, eles teriam sido “criados para quebrar”.

A gestora Putnam Investments foi a gerente do acordo, denominado Pyxis 2006, que envolveu a criação de um pacote de 1 bilhão de dólares dos famigerados CDOs (Collateralized Debt Obligations) - cujos pagamentos são baseados em uma carteira de créditos hipotecários. Como ressalta o artigo da ProPublica, os gestores de produtos como o Pyxis devem agir em defesa dos interesses dos investidores. Porém, segundo o Intesa, a Putnam participou de um esquema com o Magnetar e o banco francês Calyon, que venderam o produto à Putnam.

Aposta contra

Em um e-mail de 14 de junho de 2006, um executivo da Calyon perguntava aos participantes da operação (incluindo aí o Deutsche Bank e o Magnetar) se a participação do hedge fund deveria ser mantida “atrás das cortinas e fora dos documentos” da “mesma forma que fizemos” com outro CDO da Magnetar. (veja aqui a troca de e-mails em cortes do processo editados pela ProPublica). O Intesa alega que precisaria ter sido avisado do fato que o mesmo fundo que ajudou a criar o produto apostava contra ele.

Os acusados no caso do banco italiano negam que tenham criado uma conspiração e que os e-mails foram removidos do contexto. Ou seja, afirmaram que a questão sobre esconder o Magnetar da transação não tinha a ver com o fato de o fundo apostar contra o produto, fato que até então desconheciam. A SEC (Securities and Exchange Commission), regulador do mercado de capitais americano, multou em junho de 2011 o banco JP Morgan em 154 milhões de dólares por um caso parecido envolvendo o Magnetar.


Entretanto, em setembro de 2006, um e-mail trocado entre executivos do Calyon e do Putnam mostra uma discussão sobre quem seria o investidor por trás de apostas contra o produto Pyxis. O executivo da Putnam afirma: “Com certeza é o Magnetar”. Ou seja, o gestor que era supostamente responsável por defender os interesses dos investidores (o Intesa, no caso) sabia das operações e não tomou atitude alguma.

O caso Hudson

Outro escândalo financeiro trazido às claras recentemente também ajuda a entender como os hedge funds e bancos operavam esses produtos. Com base em uma investigação do Subcomitê Permanente em Investigações do Senado americano, a revista Rolling Stone contou como o banco Goldman Sachs vendeu para investidores produtos que depois viriam a ser considerados como podres.

O banco comprou ativos hipotecários com um desconto e os revendeu para clientes com um preço maior e embolsou a diferença. “É um pouco como receber uma fatura de um decorador que, além da taxa pelos serviços, cobra de você 170 dólares um rolo de papel de parede de marca que ele está na verdade comprando atrás do caminhão por 63 dólares”, compara o jornalista Matt Taibi.

Mas o Goldman tinha uma razão para fazer isso: O banco fez apostas enormes contra os ativos. Ou seja, quão pior o desempenho do Hudson, mais dinheiro o Goldman teria. O banco tinha enviado uma ordem expressa para que toda a equipe de vendas se livrasse o mais rápido possível dos títulos atrelados às hipotecas, antes que a bolha estourasse.

"Que m... é essa?"

Uma das vítimas foi o hedge fund australiano Basis Capital. “Compramos isso e o Goldman fez a primeira chamada de margem 16 dias depois”, disse Eric Lewis, advogado fundo, ao explicar como de repente o banco pediu que o cliente colocasse mais dinheiro para cobrir as perdas do produto. “Eles disseram, ‘Precisamos de 5 milhões de dólares’. Nós pensamos, mas que merda está acontecendo?”

Em um mês, o fundo perdeu 37,5 milhões de dólares e foi forçado a pedir falência. Para explicar como funciona o produto (o mesmo CDO) vendido pelo Goldman Sachs aos clientes vale citar uma nova analogia criada por Taibbi.

É como pegar todas as crianças que foram as últimas escolhidas para um jogo de vôlei em todas as escolas do estado, jogá-las em um novo ginásio, e então dizer que os 10 primeiros escolhidos seriam jogadores de nível bom. Então, você pega todas as crianças rejeitadas e as joga em um novo ginásio com crianças de 50 estados. Os 10 primeiros você nomeia de All-Americans. Era esse o nome do produto que foi vendido ao Basis.

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