Bitcoin: bitcoin caiu 15% em dois dias na semana passada (Getty Images/Getty Images)
Karla Mamona
Publicado em 16 de setembro de 2018 às 06h02.
Última atualização em 16 de setembro de 2018 às 06h02.
(Bloomberg) -- Quando o bitcoin caiu 15 por cento em dois dias na semana passada, surgiu uma teoria -- onde mais? -- na internet: havia uma baleia em movimento.
Começaram fortes especulações de que um grande detentor da criptomoeda com uma carteira eletrônica que remontava a 2011 -- muito antes de alguém ouvir falar em HODL -- estava tomando a iniciativa de vender. A carteira dele ou dela chegou a ter 111.114 bitcoins, o que no auge da moeda valeria cerca de US$ 2 bilhões. Os rumores que começaram a circular duas semanas atrás davam conta de que essa baleia -- como os grandes detentores são conhecidos -- estava querendo abandonar a moeda após a queda dos preços deste ano.
Houve debates no Reddit. Gráficos estilo galáxia foram disseminados. E ressurgiram histórias sobre a origem do bitcoin, envolvendo desde o Dread Pirate Roberts até a Mt. Gox.
O caso tem todos os elementos de um clássico mistério do bitcoin: carteiras famosas, um ciclo vicioso de especulações que reforça uma queda e intensas investigações amadoras na internet que podem não ser exatamente precisas. Mostra também o que torna o bitcoin único: devido à natureza pseudônima e pública de seu blockchain, qualquer um pode tentar rastrear transações.
Segundo a empresa Chainalysis, que oferece ferramentas de monitoramento de criptomoedas a empresas e autoridades, houve 50 transações envolvendo um total de 50.500 bitcoins originadas da carteira dessa baleia de 23 a 30 de agosto. Com base no preço de fechamento de 22 de agosto dos dados compostos da Bloomberg, o total valeria cerca de US$ 320 milhões. A Chainalysis afirmou que não é capaz de confirmar se as moedas entraram em alguma bolsa.
“Isso é realmente muito interessante devido ao trabalho de detetive do Reddit que está ocorrendo e pelas pessoas que estão fazendo essas suposições de que esta baleia está vendendo suas moedas”, disse Kim Grauer, economista sênior da Chainalysis em Nova York. “Isso gera teorias conspiratórias de que alguém está tentando sabotar o bitcoin -- pelo simples fato de alguém estar fazendo um movimento administrativo de seus recursos para fins de segurança, ou por algum motivo que sequer sabermos.”
A história também se complica porque embora os 50.500 bitcoins tenham se originado na conta da baleia (endereço: 1933phfhK3ZgFQNLGSDXvqCn32k2buXY8a), a maioria foi espalhada em 2014 por várias carteiras que podem ou não ser controladas pela mesma pessoa, e depois transferidas novamente para uma carteira. Segundo a Chainalysis, havia apenas pequenas transações associadas a esse montante até o ano passado, quando foram vendidos 1.000 bitcoins do endereço original. Depois disso, houve um novo período de pouco movimento -- até agosto.
Em websites de notícias sobre criptomoedas, no Reddit e no Twitter, alguns observadores especularam que a carteira esteja ligada a Ross Ulbricht, conhecido pelo apelido “Dread Pirate Roberts”, o operador condenado pelo Silk Road, um mercado on-line de produtos ilícitos que foi um dos primeiros a adotar o bitcoin. Outra teoria é que a conta esteja associada à Mt. Gox, uma bolsa de criptomoedas com sede em Tóquio que entrou em colapso e que precisa pagar credores liquidando parte de suas reservas restantes de bitcoin.