Crianças acompanham uma simulação do funcionamento das operaçãoes da Bovespa (Germano Lüders/EXAME)
Da Redação
Publicado em 11 de dezembro de 2012 às 05h00.
São Paulo - “Já atingimos o fundo do poço no que ser refere à participação da pessoa física na bolsa brasileira”. A frase é de Edemir Pinto, presidente da BM&F Bovespa, que acredita que, como a crise do risco mundial está perto do fim, as coisas vão melhorar por aqui também. Segundo ele, “a partir de agora é só recuperação”.
Rossano Foresti Oltramari, analista-chefe da XP Investimentos, rebate: “quero acreditar que seja de fato o fundo do poço, porque já faz 4 anos que está diminuindo o número de pessoas físicas na bolsa”.
“Temos que ser realistas: é uma questão cultural”, diz . Basta uma breve olhada nos números para confirmar a opinião de Oltramari. O nível de poupança no Brasil é muito baixo. Apenas 40 milhões de cidadãos têm algum tipo de produto financeiro. Rossano explica que o brasileiro não consegue se planejar e não tem uma visão de longo prazo por conta da economia que tivemos nos últimos 50 anos.
Ele acredita, no entanto, que essa cultura está prestes a mudar. “Após o boom do consumo, agora é a vez do boom da bolsa”, aposta o analista.
Na opinião dele, um dos culpados por afastar os investidores iniciantes da bolsa é a importância dada ao Ibovespa. “É basicamente um índice de commodities, ele lê mal o mercado e não reflete o atual momento da economia brasileira”, diz.
Ele afirma que quando as pessoas olham para o Ibovespa e veem que está caindo, resolvem vender suas ações e parar de investir. “Mas tem muita coisa boa acontecendo na bolsa. Setores como os de consumo, educação e saúde estão subindo de 50% a 100%”, explica.
Em 2012, a participação de pessoas físicas no volume das negociações da Bovespa está em 18,1% no acumulado do ano. Uma parcela baixíssima, quando comparada ao pico de 30,5% em 2009.
Quando comparamos nosso mercado com o de outros países, a diferença é ainda maior. A média de participação de pessoas físicas nos mercados emergentes é de cerca de 5% da população, enquanto que no Brasl não chegamos nem a 1% (mesmo quando somados os investimentos por meio de fundos). No Chile, por exemplo, desconsiderando os fundos de investimento, 3,75% da população investe em ações na Bolsa de Santiago.
A principal culpada não podia ser outra: a altíssima inflação, a qual o país esteve submetido entre os anos 1940 e o início do Plano Real, em 1994, matou o mercado de capitais.
Mas no cenário atual, com os juros caindo e a economia se recuperando, todo o ambiente econômico está preparado para essa retomada de participação. O que falta então para o brasileiro tirar seu dinheiro da renda fixa e coloca-lo na renda variável?
Para Roberto Lee, diretor de produtos da Clear Corretora, falta o otimismo para crescer de forma global. Já Oltramari acredita que as pessoas vão de fato migrar para a bolsa nos próximos 12 a 18 meses, que é quando se darão conta de que as condições econômicas mudaram. “As pessoas vão fazer as contas e perceber que é mais rentável ir para o mercado de bolsa”, diz.
Esse é um momento único para as corretoras. Com a queda na taxa de juros, quem convivia com investimentos tradicionais, como poupança e renda fixa, está vendo que nesse novo cenário, eles já não são mais tão rentáveis assim. Alguns deles terão, inclusive, juros negativos.
“O mercado de bolsa é o único caminho. As pessoas vão ter que ir pra bolsa, é uma questão de tempo”, explica o analista da XP, que acredita ser possível atingir a meta de 5 milhões de pessoas físicas na Bovespa.
Corretoras
Quem mais espera essa retomada são as corretoras que desde 2003 se preparam para um crescimento na casa de milhões de clientes. Lee explica que desde então as corretoras vem desenvolvendo e investido em infraestrutura para trabalhar com esses clientes que estariam por vir – mas que ainda não chegaram.
“É um custo altíssimo de infraestrutura para uma demanda que não existe”, diz Roberto. “Estamos preparados para atender uma massa com pouco conhecimento, mas o que temos é um público especializado, que opera mais e tem maior exigência”, explica.
Educação financeira
Com o objetivo de trazer 5 milhões de CPFs para a Bovespa, a instituição aposta na educação para incrementar o mercado de varejo. São diversos programas tocados pelo Instituto Educacional na internet, televisão e em eventos presenciais.
Embora seja muito difícil estabelecer uma relação de causalidade direta entre os programas de educação da bolsa e a entrada de novos investidores, a própria bolsa estima que cerca de 30% dos atuais investidores passaram por algum programa de educação oferecido pela instituição.
Alcides Ferreira, diretor de comunicação e marketing da BM&F Bovespa, acredita que em torno de 4 milhões de pessoas físicas já foram atendidas pelos programas educacionais.
Oltramari faz algumas críticas ao papel desempenhado pela Bovespa na atração de novas pessoas. “A bolsa é um pouco distante das pessoas físicas. É uma instituição concentrada apenas em São Paulo, não chega ao Brasil todo”.
Ele explica que a bolsa precisa se mostrar uma solução para a queda nos juros e para isso precisa estar presente em todo o país. Além disso, ele acredita que a bolsa precisaria ser mais dinâmica na criação de novos produtos para se aproximar das pessoas físicas.
Nessa transformação, as empresas listadas também tem um papel importante. Rodrigo Lopes da Luz, diretor do Ibri (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores), afirma que as empresas precisam fazer um trabalho diferenciado para atender a esse público com menos conhecimento do mercado.
Os departamentos de Relações com Investidores das empresas não podem tratar um pequeno investidor da mesma forma como lidam com o investidor institucional, usando termos técnicos, por exemplo. “A chave do sucesso é segmentar essa comunicação”, diz.