Bolsonaro e Paulo Guedes (Sergio Moraes/Reuters)
Giuliana Napolitano
Publicado em 4 de outubro de 2018 às 13h04.
Última atualização em 4 de outubro de 2018 às 13h43.
O economista Paulo Guedes é citado por dez entre dez investidores e analistas financeiros como o ponto que dá credibilidade econômica à campanha de Jair Bolsonaro (PSL). O capitão reformado do exército, como se sabe, virou o queridinho do mercado depois que a campanha de Geraldo Alckmim (PSDB) subiu no telhado.
Os bons resultados de Bolsonaro nas pesquisas eleitorais fizeram com que a bolsa brasileira chegasse nesta quarta-feira ao maior patamar em quatro meses e que o dólar batesse o menor valor desde 14 de agosto. A euforia é tanta que parte dos investidores prevê no preço uma vitória de Bolsonaro no primeiro turno, apesar de ele ter, nas pesquisas mais recentes, 38% dos votos válidos.
A boa fase do deputado fluminense, avaliam os investidores, afasta a chance de vitória do PT e deixa Paulo Guedes e seu pacote liberal mais perto do comando da economia. Paulo Guedes é visto, portanto, como um escudo contra a visão estatizante que pautou a longa carreira parlamentar de Bolsonaro.
Acontece que, segundo EXAME apurou, o escudo também terá um escudo num eventual futuro governo. A campanha de Bolsonaro já iniciou conversas com economistas de renome para formar um conselho econômico inspirado no “economic council” dos Estados Unidos. A ideia, como nos EUA, é juntar um time de 13 pessoas que se reúna mensalmente e que ajude na discussão dos pontos importantes da agenda econômica.
Visto como um gênio instável por pessoas próximas e por analistas do mercado, Guedes foi apontado inicialmente como o superministro de Bolsonaro, acumulando pastas como Fazenda e Planejamento. A ideia não é mudar isso, ao menos não inicialmente. Mas sim criar um órgão a mais para servir de intermediador de Guedes com o mercado e com membros influentes na discussão econômica do Congresso. “O Paulo tem das suas loucuras”, afirma uma pessoa próxima.
O nome dos sonhos da equipe de Bolsonaro para presidir o conselho econômico é Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso. A pessoas próximas, Armínio disse que não toparia a tarefa.
Nos Estados Unidos, o Conselho Econômico Nacional (NEC, na sigla em inglês), foi criado em 1993, durante o governo Bill Clinton, com o objetivo de aconselhar economicamente o presidente e presar para que as medidas econômicas estejam em linha com os objetivos do governo. O NEC é composto por assessores econômicos do presidente e secretários de estado de áreas como agricultura, comércio e energia. O atual presidente do órgão é Lawrence Kudrow, um veterano de Wall Street.
Por aqui, a negativa de Armínio Fraga traz à tona outra dificuldade que pode pautar a formação de um eventual governo Bolsonaro: a atração de bons quadros, e uma articulação azeitada com o Congresso. Hamilton Mourão, general que concorre como vice na chapa, chegou a sugerir o caricato Levy Fidelix, presidente do PRTB, como presidente da Câmara. A ideia é tida como “descabida” por um analista político ouvido por EXAME.
Um governo com menos Armínios e mais Levys é um medo oculto que está guardado no fundo da gaveta de investidores e analistas. Cabe à equipe de Bolsonaro trabalhar para que ele nunca venha à tona. Antes disso, claro, é preciso ganhar a eleição. A pesquisa Ibope divulgada nesta quarta-feira dá vantagem de dois pontos percentuais para Fernando Haddad no segundo turno: 43% a 41%, dentro da margem de erro.