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Nvidia: o teste de fogo da empresa que mais se valorizou no ano e entrou para o clube do trilhão

Fabricante de chips para inteligência artificial terá o desafio de entregar o crescimento expressivo prometido para o balanço do segundo trimestre; resultado será apresentado na noite de quarta-feira

Trades na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE): investidores deverão reagir ao balanço da Nvidia nesta quinta-feira (Michael Nagle/Bloomberg via/Getty Images)

Trades na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE): investidores deverão reagir ao balanço da Nvidia nesta quinta-feira (Michael Nagle/Bloomberg via/Getty Images)

Publicado em 22 de agosto de 2023 às 16h32.

Última atualização em 22 de agosto de 2023 às 17h10.

Nenhuma empresa se valorizou mais que a Nvidia em 2023. Em menos de oito meses, a companhia mais do que triplicou seu valor na bolsa. Seu valor de mercado aumentou US$ 800 bilhões, superando a marca de US$ 1 trilhão. A diferença em relação à segunda empresa que mais se valorizou no ano, a Apple, é de mais de US$ 100 bilhões, segundo a Economatica, mesmo com a maçã mais valiosa do mundo tendo mais que o dobro do tamanho da Nvidia.

O crescimento expressivo da Nvidia se traduz em duas palavras (inteligência artificial) e um caminhão de incertezas. A primeira é se a empresa conseguirá, de fato, entregar toda a expansão prometida. Um dos gatilhos para a alta das ações da companhia, vale recordar, foi a projeção de receita de US$ 11 bilhões para o balanço do segundo trimestre. O guidance (como é chamado esse tipo de estimativa), que considera um faturamento US$ 4,3 bilhões acima do apresentado no mesmo período do ano passado, saiu cerca de 40% superior às expectativas do mercado. O guidance também é bem superior à receita do primeiro trimestre, que ficou em US$ 7,19 bilhões. 

"Em toda minha carreira, nunca vi uma empresa tão coberta pelo mercado como a Nvidia apresentar um guidance tão acima do esperado. Foi algo inédito", afirmou Richard Camargo, analista da Empiricus.

O resultado oficial será divulgado na noite desta quarta-feira, 23. O consenso de mercado da Refinitiv para o faturamento do segundo trimestre está em linha com o guidance da Nvidia, em US$ 11,13 bilhões. Para o lucro por ação (EPS, na sigla em inglês), o consenso é de US$ 2,07, quatro vezes o registrado no segundo trimestre de 2022. Mas na avaliação de Matheus Popst, sócio da Arbor Capital, o espaço para surpresas é elevado, "Será muito difícil o mercado acertar na vírgula as projeções para o resultado. Por isso, terá grande volatilidade (para cima ou para baixo). Me surpreenderia se a ação variasse só 1% após o balanço."

O grau de incerteza se deve, em partes, a dificuldade do mercado prever os impactos dos efeitos de uma nova tecnologia (considerada por muitos) disruptiva nos balanços corporativo haja visto os efeitos pós-resultado do primeiro trimestre. Até por isso, o mercado estará bastante atento ao guidance que a empresa irá apresentar para o trimestre anterior. O atual consenso de mercado para o faturamento do terceiro trimestre está US$ 12,512 bilhões.

Mas, segundo Popst, as projeções de fundos, que não revelam suas estimativas para os balanços trimestrais, a expectativa é ainda mais otimista para o crescimento da empresa. "A Nvidia tradicionalmente apresenta guidances menores do que consegue cumprir. Pelo o que apurei com os pares, do lado dos fundos, a projeção de faturamento está próxima de US$ 11,7 bilhões para o próximo trimestre." O cumprimento ou não das estimativas do mercado na noite desta quarta será seu teste de fogo, já com as estimativas ajustadas para a nova fase da Nvidia.

Demanda explosiva e oferta limitada

O crescimento explosivo da Nvidia na bolsa de valores se deve ao consenso de que a empresa é a mais beneficiada pela inteligência artificial. Ainda que não tenha entrado diretamente na corrida pelo melhor software de IA, é ela que fornece as armas necessárias para essa disputa. "É como na corrida pelo ouro: quem mais ganha dinheiro é o vendedor de pá, não o garimpeiro", disse Junior Borneli, CEO da StartSe.

Quase todas as grandes empresas de tecnologia que estão na corrida da inteligência artificial utilizam em suas estrutura hardwares da Nvidia. A Microsoft, dona da empresa do ChatGPT, é um dos clientes importantes, mas há muitas outras. "Há uma demanda enorme por essas placas da Nvidia que não está sendo totalmente atendida. Isso tem feito os preços disparem. Cada uma dessas placas é vendida a cerca de US$ 40 mil, sendo que no ano passado o preço era próximo de de US$ 30 mil. A margem bruta da Nvidia está em 80%", disse Popst.

Essa placa vendida pela Nvidia é a H100, que, inclusive, vem sendo estocada por grandes compradores, dada a sua escassez no mercado. Esses chips são produzidos em Taiwan, pela TSMC, e tem chamado a atenção do mundo inteiro. Emirados Árabes, Arábia Saudita e o Reino Unido estariam entre os grandes compradores. Mas os chineses, mesmo com as restrições impostas pelos Estados Unidos, também estão de olho na tecnologia. Como, por questões de embargo, o H100 está inacessível aos compradores chineses, a Nvidia desenvolveu uma nova linha que escapa dos embargos americanos, a H800.

"A placa H800 atende aos requisitos do embargo e também são muito boas. Os chineses sabem do risco de o embargo ser estendido para essas placas, então estão comprando o máximo possível", comentou Popst.

O ritmo de fabricação das placas da Nvidia, no entanto, é limitado pela capacidade de produção da TSMC. Isso, de certa forma, limita o crescimento de receita à valorização do produto, já que a fabricação já se encontra no máximo. A estimativa é que essa capacidade de produção passe por uma expansão daqui a 18 meses, quando novas plantas da TSMC deverão estar prontas para fabricar os chips.

A ação pode triplicar de preço de novo?

Outra questão bastante discutida no mercado é o nível de preço da ação da Nvidia. Os mais entusiastas apostam que a necessidade por processadores de inteligência artificial poderá levar o valor de mercado da Nvidia, hoje perto de US4 1,13 trilhão, a superar os US$ 2,7 trilhões da Apple. Mesmo que a projeção -- considerada bastante arrojada por maior parte do mercado esteja certa, seu potencial de valorização seria menor do que os 200% de alta registrados pela companhia no ano. Ou seja, a melhor oportunidade, muito provavelmente, já ficou para trás.

O risco maior, disse Popst, é o crescimento precificado no papel não ser tão expressivo como o esperado. "Uma fabricante de semicondutores costuma ter uma relação de preço/lucro (P/L) próxima de 20x e a Nvidia está com um P/L próximo de 45x, já considerando as projeções de crescimento para os próximos 12 meses."

Na avaliação de Camargo, o preço da ação da Nvidia já está "esticado demais". "A ação está cara. O preço até pode subir após o resultado do segundo trimestre, mas acho difícil apostar em um retorno de longo prazo, dado o atual patamar de preço. Recomendamos ficar vendido na ação."

Segundo Popst, o mercado está precificando um cenário excessivamente otimista para a Nvidia, como a falta de concorrentes a altura no longo prazo e um segundo boom de demanda pelos processadores de inteligência financeira. "Acho muito difícil esse cenário que está precificado se materializar."

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