David Vélez, CEO e cofundador do Nubank, em frente à Bolsa de Nova York antes do IPO do banco digital no fim de 2021 | Foto: Brendan McDermid/Reuters (Brendan McDermid/Reuters)
Reuters
Publicado em 2 de fevereiro de 2022 às 21h07.
Última atualização em 3 de fevereiro de 2022 às 10h20.
A desaceleração da economia brasileira pode representar uma oportunidade para ganhar participação de mercado, apesar do ambiente de risco mais alto, disse o fundador e presidente do banco digital Nubank (NUBR33), David Vélez.
O Nubank, um dos maiores bancos digitais do mundo, com 48 milhões de clientes (até setembro), espera que a inadimplência suba neste ano com o consumidor enfrentando inflação e juros altos, além da estagnação econômica.
Mas Vélez acredita que o Nubank conseguirá manter seus índices de inadimplência abaixo das médias de mercado em razão do uso de inteligência artificial para conceder crédito. A taxa de inadimplência de 90 dias do Nubank nos cartões de crédito é de 3,3%, ante uma média do mercado de 4,8%.
A perspectiva de maior risco pode até gerar uma oportunidade para um crescimento mais rápido do Nubank, disse Vélez em entrevista por vídeo para a Reuters na terça-feira, dia 1º.
O banco digital estreou na bolsa brasileira por meio de BDRs já com o status de uma das empresas de capital aberto com a maior base acionária: 815 mil investidores compraram papeis da empresa há dois meses.
Aprenda como encontrar os melhores fundos de investimento neste curso completo da EXAME
Com depósitos elevados de seus clientes de varejo, o Nubank não depende de financiamento dos mercados e tem um grande colchão de recursos depois do seu IPO que captou 2,6 bilhões de dólares em dezembro.
"Nós podemos ter a oportunidade de acelerar e ganhar mais mercado e deixar as taxas de juros baixas para tornar nossos produtos mais competitivos," disse Vélez. A carteira de crédito tem prazo curto, em média seis semanas nos cartões de crédito e até seis meses em crédito pessoal, o que facilita a gestão de risco.
A expansão da carteira de crédito é vista por analistas como essencial para levar o Nubank a um patamar maior de rentabilidade. Cada cliente do Nubank gera uma receita de menos de 200 reais, segundo um relatório recente do Morgan Stanley, enquanto um correntista do Itaú gera cerca de 1.200 reais.
As linhas de crédito mais lucrativas para os bancos de varejo são as de financiamento imobiliário, seguido por consignado e empréstimos pessoais, disse o Morgan Stanley.
O Nubank está avaliando a melhor maneira de entrar no mercado de empréstimos consignados, disse Vélez, além de expandir a carteira de empréstimos com garantia de imóveis e carros, oferecidos pela parceira Creditas.
Vélez disse que a queda de mais de 20% das ações do Nubank em dois meses desde o IPO não o surpreende, considerando a maior volatilidade das ações de tecnologia diante da iminente alta dos juros nos Estados Unidos.
"Já vínhamos falando aos investidores durante o IPO que esperassem volatilidade. O Brasil é volátil e a América Latina também", afirmou.
O banco estreou na Bolsa de Nova York (NYSE) em 9 de dezembro de 2021 com o status de instituição financeira mais valiosa da América Latina, valendo 52 bilhões de dólares na ocasião.
Mas a queda recente reduziu o valor de mercado do Nubank para um patamar abaixo de grandes rivais tradicionais, como Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4).
Vélez prevê que a alta de juros nos EUA e no Brasil continue a afetar os preços das ações do Nubank no curto prazo, mas não interromperá a trajetória de longo prazo de crescimento, porque os consumidores continuarão procurando serviços financeiros melhores e mais baratos.
Vélez diz que o Nubank cresceu apesar das crises no Brasil, tendo atravessado duas recessões, um impeachment de presidente e a epidemia de Covid-19.
Outro canal para aumentar a receita será vender mais produtos de investimento por meio da Nu Invest, resultado da aquisição da Easyinvest em setembro de 2020.
O Nubank também está expandindo serviços a clientes em seu aplicativo, que já inclui serviços de e-commerce, games e ofertas de seguros de parceiros nos quais geralmente o Nubank tem uma participação acionária por meio de seu fundo de venture capital.
Ferrenho defensor do modelo bancário puramente digital, Vélez diz que o Nubank terá que considerar algum tipo de presença física no futuro para atender a alguns clientes específicos, embora essa ainda não seja uma prioridade atual.
"Eventualmente, se quisermos atender alguns segmentos de mercado, precisamos considerar uma presença física para atender aos clientes", afirmou, citando como exemplo investidores de altíssima renda, que procuram assessoria de investimentos, e compradores de imóveis em busca de financiamento.
O Nubank pode considerar uma parceria com bancos tradicionais para oferecer crédito imobiliário. "Ficaríamos muito felizes de fazer uma parceria com qualquer um dos grandes bancos."
No curto prazo, Nubank está se preparando para lançar contas correntes no México neste ano, depois das aprovações regulatórias da compra do banco Akala.
O crescimento no México tem sido uma surpresa positiva, disse Vélez, e o Nubank já é o maior emissor de cartões do país, com 760 mil clientes. A penetração financeira no México é menor que no Brasil e o setor tem menos competição, disse. A expansão na Colômbia, onde Vélez nasceu, vai demorar um pouco mais, com o começo do processo de busca de licenças operacionais.
Assine a EXAME e fique por dentro das principais notícias que afetam o seu bolso.