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Nubank cai 6% após dar lucro e mais que dobrar carteira de crédito

CEO David Vélez diz que maioria dos investidores não pretende se desfazer das ações da fintech após fim do período de lock-up, nesta terça

Nubank: receita com serviços atrelados a juros responderam por mais de 70% da receita no primeiro trimestre (Nubank/Divulgação)

Nubank: receita com serviços atrelados a juros responderam por mais de 70% da receita no primeiro trimestre (Nubank/Divulgação)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 17 de maio de 2022 às 06h10.

Última atualização em 13 de agosto de 2022 às 15h26.

As ações do Nubank (NU) recuaram 6,2% na Bolsa de Nova York (NYSE) nesta terça-feira, 17, após a divulgação do balanço do primeiro trimestre de 2022 na noite de ontem. O resultado foi bem recebido por analistas que, no entanto, destacaram que o momento ruim de mercado poderia impedir a valorização das ações.

"Em um mercado em alta, definitivamente esperaríamos que a ação reagisse positivamente com base nos resultados. Mas, considerando que o mercado mudou e que há uma potencial deterioração do ciclo de crédito no Brasil, não ficaríamos surpresos se os investidores optassem por ver o copo meio vazio", informou relatório do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME).

O que dizem os números

A companhia registrou lucro líquido ajustado de US$ 10,1 milhões. O banco havia dado prejuízo ajustado de US$ 11,9 milhões no mesmo período de 2021.

O lucro líquido ajustado exclui a remuneração via opções de ações. No resultado não ajustado, a fintech teve prejuízo líquido de US$ 45,1 milhões, número abaixo dos US$ 54,4 milhões registrados no mesmo período do ano passado.

A receita atingiu um recorde de US$ 877,2 milhões nos primeiros três meses do ano, um aumento de 226% na comparação anual, no que foi definido pelo CEO da empresa, David Vélez, como o “trimestre mais forte” da história da empresa.

O salto na receita está associado ao crescimento da receita média mensal por cliente ativo — ARPAC, na sigla em inglês —, que atingiu US$ 6,7. É um avanço de 63% frente ao mesmo intervalo de 2021. A métrica é observada de perto por analistas para entender se o banco digital é capaz de rentabilizar a operação em cima de sua base de quase 60 milhões de clientes.

O principal produto responsável por essa rentabilização é a carteira de crédito, que foi o grande foco do balanço do primeiro trimestre. A carteira, que une as operações com cartões de crédito e crédito pessoal, avançou de US$ 3,3 bilhões para US$ 8,8 bilhões na comparação trimestral. Em relação ao primeiro trimestre de 2021, o avanço foi de 126%. Do total da carteira, o crédito pessoal que representava menos de 9,5% há um ano, agora responde por quase 23%. 

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Vale lembrar que o crédito tem se tornado cada vez mais relevante para a operação do Nubank. O percentual da receita da fintech com produtos atrelados a juros saltou de 52% para quase 71% entre o quarto trimestre do ano passado e o intervalo entre janeiro e março deste ano. E é possível que essa fatia continue a crescer.

Após a divulgação do balanço, na teleconferência de resultados, Vélez apontou que o segmento de crédito pessoal tem menos de 5% de penetração na grande base de clientes da fintech. Como comparação, a penetração da conta corrente do banco é de 80% e a do cartão de crédito é de 60%.

A expectativa é que os empréstimos ainda tenham muito espaço para crescer, incrementando a receita média do Nubank. A estratégia é inserir o crédito pessoal na jornada do usuário por meio de cross sell (venda cruzada), em que são oferecidos produtos complementares, ou via up sell, técnica que incentiva a compra de um serviço mais completo. A mesma receita é aplicada para outros produtos e serviços da plataforma, como a venda de seguros ou o comércio no market place próprio da fintech.

Inadimplência cresce

Existe, no entanto, uma grande preocupação comum a todas as empresas que oferecem crédito pessoal: a inadimplência. O Nubank não escapou do cenário macroeconômico adverso de juros e inflação altos, que aumentam as taxas de clientes que não pagam suas dívidas.

O índice de inadimplência do Nubank, que indica atrasos de pagamentos acima de 90 dias, avançou para 4,2% no trimestre – acima dos 3,5% registrados no final do ano passado mas ainda abaixo das médias do mercado, que rondam os 5%. 

Segundo a fintech, a alta está associada, principalmente, a uma mudança na composição da carteira, que agora acomoda uma fatia maior de empréstimo pessoal – em geral, é um segmento mais arriscado. A fintech não fornece previsão (guidance) de quando ou em que faixa a taxa de inadimplência deve se estabilizar, e é possível que o indicador avance nos próximos trimestres.

A principal tática do Nubank para segurar a alta da inadimplência em um cenário adverso é ser cauteloso. Os executivos do banco digital reforçaram que a empresa é conservadora na concessão de crédito.

“Nossas taxas de empréstimo são 20% mais baixas, então isso nos força a escolher uma carteira de crédito mais segura”, argumentou o CEO. O empréstimo pessoal é encarado como um cross sell, oferecido para os clientes com melhor perfil de risco dentro da base, ou seja, os bons pagadores. A seleção é feita com base na experiência do cartão de crédito, o que nos permite uma “originação mais rentável de crédito”, segundo o executivo.

O processo é semelhante ao aplicado pela empresa no limite do cartão de crédito. O novo cliente recebe um limite baixo, que vai aumentando conforme a empresa entende o perfil do cliente e o considera um bom pagador. Uma das formas de aumentar o limite, por exemplo, é pagando as faturas em dia. 

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Temor com o lock-up

Para além do balanço, outro fator que vinha tirando o sono dos investidores era o fim do lock-up, marcado para coincidir com a divulgação de resultados. O período de lock-up é uma cláusula contratual que define um intervalo após a oferta inicial de ações no qual investidores – geralmente ligados à empresa – não podem vender seus papéis. 

Com o fim do lock-up, é natural que exista uma pressão vendedora nas ações. Mas a preocupação era de que grandes investidores usassem a janela para se desfazer das ações do Nubank, jogando uma enxurrada de papéis no mercado.

O CEO da companhia, no entanto, garantiu que esse não deve ser o caso. “Conversamos recentemente com a maioria dos nossos acionistas, e eles reforçaram que esperam continuar sendo nossos investidores por bastante tempo e, sendo assim, não pretendem vender ou distribuir parcelas consideráveis de suas ações em um futuro próximo”, afirmou Vélez.

As ações do Nubank na NYSE e os BDRs negociados na B3 fecharam a sessão desta segunda em queda, com investidores aguardando a divulgação do resultado trimestral. As ações caíram 9,75%, devolvendo parte da forte valorização da última sexta, quando os papéis subiram 20,5% – a maior valorização desde o IPO. Já os BDRs recuaram 9,65%.

Após a divulgação do resultado, as ações da fintech avançaram cerca de 5% no after-market, e continuaram subindo na pré-abertura.

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