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'Novo crédito consignado aumenta concessão, mas traz melhor qualidade', diz CEO do Santander

Mário Leão está otimista com novo modelo de crédito anunciado pelo governo e vê mercado com potencial de crescimento de 4 a 5 vezes

Leão: "Não somos imunes ao macro, mas intenção é reduzir sensibilidade" (Santander Brasil/Divulgação)

Leão: "Não somos imunes ao macro, mas intenção é reduzir sensibilidade" (Santander Brasil/Divulgação)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 5 de fevereiro de 2025 às 12h47.

Última atualização em 5 de fevereiro de 2025 às 12h47.

O novo modelo de crédito consignado privado, anunciado recentemente pelo governo, deve ter grande potencial de crescimento. Ao menos é o que acredita Mário Leão, CEO do Santander Brasil, terceiro maior banco privado do país e um dos líderes nessa modalidade de crédito.

Segundo Leão, essa modalidade representa "mais concessão, sim, mas com melhor qualidade". O executivo destacou que o mercado de crédito consignado privado hoje gira em torno de R$ 40 bilhões, sendo que o Santander detém 30% desse volume. "Nós e outro player temos dois terços do mercado, dada nossa presença forte em folha de pagamento. É um negócio pequeno, mas tem potencial enorme. Esperamos algo de quatro a cinco vezes maior do que o tamanho atual", afirmou em teleconferência de resultados do banco nesta quarta-feira, 5.

O último trimestre fechou com chave de ouro o ano de busca de rentabilidade do Santander. O banco registrou lucro de R$ 3,9 bilhões no quarto trimestre, alta de 5,2% em relação aos três meses anteriores e de 75% na comparação anual. Em 2024, o banco lucrou R$ 13,8 bilhões, 48% a mais do que no ano anterior.

O resultado animou o mercado. O time do Citi classificou os resultados do banco como reflexo de uma "melhoria estrutural na qualidade dos ativos". O relatório aponta que a estratégia da instituição tem sido marcada por maior rigor na concessão de crédito e esforços contínuos em eficiência. "Vemos que uma melhora estrutural do ROE (retorno sobre patrimônio) só virá com um apetite maior por risco, o que não parece ser o caso para 2025", ponderou o banco morte-americano. O ROE do Santander chegou a 17,6%, ante 17% no trimestre anterior e 12,3% no quarto trimestre de 2023.

Reduzindo sensibilidade ao macro

O Santander tem adotado uma postura disciplinada em sua estratégia de crescimento, especialmente diante do ambiente macroeconômico ainda desafiador. Durante a teleconferência de resultados do quarto trimestre de 2024, Leão enfatizou que a instituição manteve uma visão mais conservadora ao longo do segundo semestre do ano passado, prevendo um crescimento menor do que o estimado pela indústria para o crédito. "Já víamos sinais de que não fazia sentido crescer dois dígitos em crédito", afirmou o CEO.

Essa postura mais cautelosa resultou em uma estratégia focada na eficiência e na sustentabilidade do portfólio. O CFO Gustavo Viviani reforçou que o banco vem reduzindo sua sensibilidade às oscilações macroeconômicas e à taxa Selic, hoje em 13,25%.

"Todos os bancos têm sensibilidade ao macro, e não somos imunes a ele. Mas a lógica é reduzir a sensibilidade ao macro e crescer o resultado mais do que o balanço", acrescentou Leão.

A carteira de crédito segue aquecida, com avanço de 2,6% na concessão de crédito em relação ao terceiro trimestre, chegando a uma carteira de R$ 549,7 bilhões.

A carteira de pessoas físicas, a mais relevante para o Santander, cresceu 1,5% no trimestre e 6,2% em 12 meses, para R$ 254,6 bilhões no fim de dezembro.

A inadimplência acima de 90 dias ficou estável em relação ao fim de setembro, em 3,2%, mostrando-se controlada tanto na carteira de pessoas físicas quanto jurídicas.

Considerando os atrasos de mais curto prazo, de 15 a 90 dias, houve uma alta marginal no indicador geral, de 3,6% para 3,7% -- com destaque para as pessoas jurídicas, onde passou de 1,6% para 2,0%.

Para o Itaú BBA, a decisão de crescer menos em crédito foi acertada, dada a volatilidade da curva de juros e o cenário macroeconômico. "O Santander Brasil reportou resultados decentes no quarto trimestre. O lucro líquido de R$ 3,9 bilhões superou nossas estimativas em 2%, com uma melhora subjacente das tendências"

Menos custos

Parte da busca por aumento da rentabilidade vem da redução dos custos. O banco descontinuou a categoria Van Gogh, que ficava entre o serviço de massa e o Santander Select, voltado à alta renda. Com isso, diz Leão, a oferta de serviços fica mais simplificada e diminui os custos da operação. A percepção é também de conseguir crescer mais no filão de alta renda.

"Queremos ganhar mais na redução do custo de servir. Fizemos alguns progressos", diz Leão. De acordo com ele, os custos são divididos em duas frentes a serem atacadas: reduzir o custo de serviço unitário, que no segmento de varejo ainda não tem a rentabilidade desejada e reduzir o custo nominal. 

Um avanço importante na redução desses custos deve vir do fechamento das agências bancárias. A expectativa é diminuir em 30% a 40% o número de agências neste ano, numa meta de chegar a um "número ideal" de 1000 lojas, mas o prazo para isso não está definido. A expectativa é também de reduzir custos com o atendimento remoto, hoje com 10 mil colaboradores. Segundo Leão, a demanda do cliente atualmente é por atendimento mais online, o que justicaria o enxutamento do atendimento remoto.

O banco deve lançar, ainda de forma piloto, no primeiro trimestre seu novo aplicativo, o "One App", que deve consolidar a experiência digital dos clientes em uma única plataforma, tornando a jornada mais intuitiva e integrada.

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