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Nova crise global? Por que as bolsas derreteram e o dólar disparou

Ibovespa recuou quase 3% e dólar teve a maior alta contra o real desde março, negociado a 4,04 reais

OPERADORES DA BOLSA DE NOVA YORK DURANTE A CRISE DE 2008: segundo novo livro, as modelagens matemáticas usadas para prever o mercado não fazem sentido (Spencer Platt/Getty Images)

OPERADORES DA BOLSA DE NOVA YORK DURANTE A CRISE DE 2008: segundo novo livro, as modelagens matemáticas usadas para prever o mercado não fazem sentido (Spencer Platt/Getty Images)

TL

Tais Laporta

Publicado em 14 de agosto de 2019 às 17h35.

Última atualização em 14 de agosto de 2019 às 19h25.

Fazia tempo que não se via uma reação tão forte dos mercados a sinais de uma nova recessão global. Os temores de uma recaída após a crise de 2008 – da qual o mundo ainda não se livrou totalmente – bateram como um “efeito dominó” sobre as bolsas globais. O mercado brasileiro não ficou imune.

O principal índice da bolsa brasileira sofreu uma queda generalizada em todas as 66 ações, pressionado pela Petrobras e Vale, em baixa de mais de 3%. O Ibovespa recuou 2,94% nesta sessão, aos 100.258 pontos.

O temor de recessão fez o mercado correr para ativos considerados mais seguros, como a moeda norte-americana. O dólar se fortaleceu contra as moedas emergentes e acelerou os ganhos contra o real após abrir a sessão acima de 4 reais.

A moeda norte-americana terminou o dia negociada a 4,0405 reais, em alta de 1,85%. Foi a maior valorização desde 27 de março e o patamar mais elevado para um fechamento desde 23 de maio (4,0474 reais). "O mercado correu para a proteção novamente", disse à Reuters o superintendente da Correparti Corretora, Ricardo Gomes da Silva.

Reação em cadeia nas bolsas globais

Os índices de ações tiveram forte queda nas principais bolsas do mundo. Em Wall Street, o Dow Jones caiu 3,05%, indo a 25.479,42 pontos. Essa foi a maior queda no ano. O S&P 500 caiu 2,93%, a 2.840,60 pontos. Já o índice referência para as ações de empresas de tecnologia, o Nasdaq Composite recuou 3,02%, 7.773,94 pontos.

As bolsas europeias também tiveram fortes quedas nesta quarta. Após a divulgação de que o produto interno bruto (PIB) da zona do euro cresceu 0,2% no 2º trimestre e o PIB alemão retraiu 0,1%, o índice DAX, da bolsa de Frankfurt, fechou em queda de 2,19%, a 11.492,66 pontos – o menor patamar desde março. Na Itália, a bolsa de Milão recuou 2,53% e atingiu a mínima de dois meses, a 20.020,28 pontos.

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As bolsas asiáticas foram as únicas que ficaram de fora da onda de baixa. Mesmo com os dados sobre a desaceleração da economia chinesa, a bolsa de Xangai fechou em alta de 0,42%. Em Hong Kong, o principal índice do distrito, o Hang Seng subiu0,08% após três pregões de queda.  No Japão, o índice Nikkei 225 teve alta de 0,98%.

O índice de volatilidade (VIX), também conhecido como índice do medo, subiu 25,80%, a 22,04 pontos. Quando o VIX está acima dos 20 pontos significa baixa capacidade de prever o futuro, com possibilidade de alta volatilidade no curto prazo. O índice ultrapassou a marca de 20 pontos pela primeira vez no semestre no dia em que a China desvalorizou o iuane a marca de mais de 7 por dólar. Na terça-feira (13), VIX havia caído para 17,59 com o esfriamento das tensões comerciais.

O gatilho para o pessimismo

Não é de hoje que o mundo teme o retorno de uma recessão global, mas tais temores vêm crescendo diante da desaceleração das potências mundiais e da piora no conflito entre EUA e China. Mais cedo, dados econômicos ruins da Ásia e Europa acenderam o alerta dos investidores, ao passo que a inversão da curva de juros gerou uma corrida por investimentos mais seguros.

Na China, os números mostraram que a economia asiática piorou mais que o esperado em julho, com a produção industrial desacelerando para uma mínima em mais de 17 anos, um claro efeito do agravamento da guerra comercial. Outro dado preocupante veio da Alemanha. A queda nas exportações fez a maior economia europeia contrair no segundo trimestre.

Mais um sinal de alerta foi a curva de juros nos EUA. O rendimento dos títulos do Tesouro norte-americano (Treasuries) de dois anos subiu acima do retorno dos papéis com vencimento em 10 anos. Isso não acontecia desde 2007, período que antecedeu a última crise financeira internacional.

Para o mercado, sempre que os juros de curto prazo (dois anos) pagam prêmios maiores que os juros longos (10 anos), é um sinal clássico de recessão.

Há motivos reais para o pânico?

Na visão do professor de finanças do Insper, Michel Viriato, existe um certo medo exacerbado do mercado. “Na verdade, não existem indícios de uma recessão. O que há é uma redução no crescimento das principais economias”. 

As maiores economias do mundo vêm praticando taxas de juros historicamente baixas e até negativas. Com isso, há um excesso de recursos no mundo e investidores atentos ao menor sinal para antecipar o movimento dos bancos centrais sobre cortes de juros.

Segundo o analista da corretora Mirae Asset Pedro Galdi, a inversão dos juros é um efeito do mercado tentando se antecipar a um novo corte de juros nos EUA. "Não quer dizer que vai ter [uma recessão iminente]. É uma luz amarela de que a recessão esteja se aproximando”, afirma.

Os investidores estão fazendo uma relação com o passado, mas o momento é diferente do que aconteceu há pouco mais de uma década, quando uma crise do subprime no mercado de crédito norte-americano levou bancos a uma quebradeira, gerando um efeito em cadeia no mundo.

 

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