Ricardo Amorim: "Só em dois momentos a bolsa americana esteve mais cara do que agora: antes do estouro da bolha da Nasdaq e antes do crash de 1929", afirmou (Bruno Spada/ASN)
Da Redação
Publicado em 23 de dezembro de 2013 às 05h12.
São Paulo – O Ibovespa tem queda de 15% neste ano (até 19 de dezembro), enquanto o índice Dow Jones sobe mais de 20%. Terminar o ano caindo não é o único risco que paira sobre a bolsa brasileira. A Bovespa deve encerrar 2013 com o pior resultado do G-20. O economista e presidente da Ricam Consultoria, Ricardo Amorim, explica esse descolamento em relação aos países desenvolvidos e mesmo na comparação com os em desenvolvimento.
O economista assume que não sabe o que vai acontecer com a bolsa em 2014 e fala sobre as incertezas das projeções de curto prazo. Mas, para o médio e longo prazo, o investidor pode mobilizar suas esperanças. “Quem comprar bolsa em preços atuais olhando médio e longo prazo (daqui a, pelo menos, três anos, sendo cinco anos o ideal) tem chances enormes de ganhar dinheiro”. Quando? “Se vai ganhar em 2014, 2015 ou 2016, isso eu não sei”.
Acompanhe a entrevista de Ricardo Amorim à EXAME.com:
EXAME.com - Qual sua avaliação sobre a Bovespa em 2013?
Ricardo Amorim - Em poucas palavras: foi muito ruim. Dentre os países do G-20, foi a pior, teve o pior desempenho entre as maiores economias. O motivo para ter sido tão ruim é, basicamente, a decepção da maioria com o crescimento do Brasil e, por consequência, com os resultados das empresas.
EXAME.com – Por que a bolsa brasileira teve esse descolamento em relação à performance das outras?
Ricardo Amorim – O ponto é que (a bolsa) o Brasil foi pior que os outros, teve o desempenho mais negativo. Há algo exclusivo brasileiro, que é o mau desempenho da economia brasileira. Não é muito surpreendente. Só recentemente mudei minha recomendação de 2010, de vender tudo. Só fui falar diferente há quatro meses, nos 44.000 pontos, quando ficou barata para voltar a se posicionar, ainda que haja muita coisa não resolvida.
EXAME.com - O que esperar da bolsa em 2014?
Ricardo Amorim – Minhas expectativas nunca são ligadas a calendário. São ligadas a níveis de preço. Acredito que todos os ativos tendem a oscilar entre baratos e caros e isso normalmente está ligado a fundamentos e cenário econômico. Quando as coisas estão boas, tendemos a ter preços subindo, subindo mais do que deveriam, porque gera uma euforia e muita gente sai comprando sem analisar direito. Acontece o inverso quando as coisas andam mal. Por conta de uma economia muito ruim, os preços caíram e caíram a mais.
EXAME.com – A bolsa vai subir em 2014?
Ricardo Amorim – Hoje, a bolsa brasileira está 35% mais barata do que foi a média de preços das ações brasileiras desde o plano real – média dos últimos 20 anos. Agora, isso não garante que a bolsa vai subir em 2014.
EXAME.com - O que isso significa?
Ricardo Amorim – Não sei o que vai acontecer com bolsa em 2014. Quem comprar em preços atuais olhando médio e longo prazo (daqui a três anos, pelo menos, cinco anos ideal) tem chances enormes de ganhar dinheiro. Se vai ganhar em 2014, 2015, 2016, eu não sei.
EXAME.com – E a previsão de que o Ibovespa estaria em 200.000 pontos em 2015? (em 2008, o economista projetou que o índice alcançaria esta marca)
Ricardo Amorim – Essa previsão foi para as cucuias nos últimos anos.
EXAME.com – E o que saiu errado?
Ricardo Amorim – Teve alguns fatores que não considerei e que tornaram minha projeção bastante errada - não acredito que ela irá acontecer - e as duas estão ligadas à mesma coisa: o papel do nosso governo nessa historia. A lógica de que as empresas de commodities valeriam mais ou ganhariam mais dinheiro embutia aumento de preços, como no caso da Petrobras, e não foi isso que aconteceu. O segundo ponto que eu também não imaginei era que a ingerência estatal na economia brasileira aumentaria tanto com o governo com o objetivo quase aberto de reduzir a rentabilidade das empresas.
EXAME.com – Isso poderia acontecer?
Ricardo Amorim – Eu sabia que previsões de nível de bolsa de curto prazo não se confirmavam. Mas achava que com prazos mais longos era mais fácil. Mas as coisas que eu não vi foram mais importantes e reverteram a força dessas premissas, o que me fez ver que o grau de imprevisibilidade no futuro é muito maior que imaginávamos.
EXAME.com – Falando em previsões, havia projeções bem mais elevadas do que o nível atual para o Ibovespa no final de 2013. Além do PIB, algum outro motivo levou a essa performance?
Ricardo Amorim – Sem dúvida, a interferência do governo foi um fator muito determinante. Outro que foi negativo é a expectativa de que o banco central americano iria reduzir estímulos. Ela levou à fuga de capitais de países emergentes. A diferença é que em muitos mercados foi um impacto de centavos em bolsas que haviam tido muita alta.
EXAME.com – Qual deve ser o impacto na Bovespa em 2014 da redução de estímulos anunciada pelo Fed na semana passada?
Ricardo Amorim – Não sei. O que sei é que a bolsa brasileira está 35% mais barata que a média e a americana está 80% mais cara que a média dos últimos 143 anos. Não sei quando a bolsa brasileira vai subir, mas ela vai subir, e sei que a americana vai cair, despencar. Não sei quando. Só em dois momentos a bolsa americana esteve mais cara do que agora: antes do estouro da bolsa da Nasdaq, no final de 2000 e antes do crash de 1929.
EXAME.com – Mas pode acontecer no próximo ano?
Ricardo Amorim – Se a bolsa americana despencar em 2014, há uma chance razoável de acontecer, isso impacta bolsas no mundo inteiro. O movimento do Fed pode ser gatilho para a bolsa americana passar para uma correção enorme. Em 2009, a bolsa americana estava cara, havia uma bolha imobiliária clara, dava para saber que ia explodir, não se sabia quando nem qual seria o gatilho, que foi a quebra do Lehman Brothers, poderia ter sido qualquer outro.
EXAME.com – Tendo em vista que o pior pode acontecer em algum momento, sua recomendação seria ficar fora da bolsa?
Ricardo Amorim – Ficar fora da bolsa depende do perfil e do horizonte de investimento. Para um sujeito não preocupado com oscilações, com um horizonte de investimento de longo prazo, de cinco anos ou mais, eu diria que é hora de ele comprar. A chance de ganhar dinheiro nesse horizonte é maior que a de perder.
EXAME.com – Qual sua impressão sobre a nova carteira do Ibovespa?
Ricardo Amorim – Vi mais com maus olhos que bons olhos. Mudanças da regra do jogo com o jogo em andamento não são coisa que tendo a aprovar e foi o que aconteceu. O lado paradoxal, quando falei que a bolsa está barata, é que algumas das empresas que, pela nova metodologia foram cortadas ou reduzidas, são algumas das que estão mais baratas. Existe a chance significativa que a perda de preço de valor dessas empresas tenha sido precificada no Ibovespa e quando a alta acontecer ela não estará refletida. As ações que entraram já estão elevadas, mais sólidas, mas com as ações mais caras. É menor a chance de subir tanto. Enfatizei o lado negativo, mas o positivo é tornar índice mais representativo de empresas mais solidas.
EXAME.com – O maior peso na carteira é da Petrobras, que teve um ano desafiante. O que esperar da petroleira em 2014?
Ricardo Amorim – A Petrobras bate nos dois eixos fundamentais que comentei. O primerio é a ingerência estatal, que joga contra. O segundo é a precificação. A Petrobras é uma das ações que hoje está muito barata em relação aos seus preços históricos, mesmo considerando perda de rentabilidade. Em algum momento vamos vê-la ter desempenho positivo. O que joga contra 2014 é esperar mudanças do governo em ano eleitoral, é pouco provável.
EXAME.com – O que esperar do câmbio nos próximos anos?
Ricardo Amorim – O dólar vai cair nos próximos anos, tenho poucas dúvidas. Não se sabe quando nem quanto e se antes de cair ele ainda pode subir mais - o fator para isso teria que ser a piora dos fatores financeiros americanos. Mas, por exemplo, de um mês para cá, vimos a venda do quadro mais caro da história, da jóia mais cara, do livro mais caro, a bolsa nos Estados Unidos está cara, a bitcoin estava batendo recordes e já retomou. Meu ponto é que vai acontecer um ajuste para baixo no preço dos ativos em dólar.