Mercados

Moody's rebaixa rating do Brasil a "Baa3" e muda perspectiva

A agência de classificação de risco rebaixou o rating soberano do Brasil e alterou a perspectiva da nota de "negativa" para "estável"


	Sede da Moody's em Nova York: a Moody's citou, entre os motivos para o rebaixamento, a fraqueza da economia
 (REUTERS/Brendan McDermid)

Sede da Moody's em Nova York: a Moody's citou, entre os motivos para o rebaixamento, a fraqueza da economia (REUTERS/Brendan McDermid)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de agosto de 2015 às 20h46.

São Paulo -  A agência de classificação de risco Moody's rebaixou nesta terça-feira o rating soberano do Brasil para "Baa3", última nota dentro da faixa considerada como grau de investimento, mas alterou a perspectiva da nota para "estável" ante "negativa", sinalizando que o selo de bom pagador do país deve ser mantido no curto prazo.

Apesar do rebaixamento, a melhora da perspectiva para o rating da dívida brasileira trouxe um certo alívio, pois havia o receio por parte dos agentes de mercado de que a Moody's pudesse manter a perspectiva "negativa", o que elevaria o risco de o país perder o grau de investimento no curto prazo.

"A notícia foi menos pior que o esperado, uma vez que os investidores estavam começando a acreditar que a Moody's alcançaria a Standard & Poor's e deixaria o Brasil mais perto de perder o grau de investimento", disse o sócio gestor da Canepa Asset Management, Alexandre Póvoa.

"Mesmo assim, é negativo. Não se pode negar que as coisas não estão funcionando como deveriam e a decisão da Moody's reflete isso." A Moody's citou, entre os motivos para o rebaixamento, a fraqueza da economia, a tendência de aumento de gastos públicos e os reflexos da operação Lava Jato na confiança de investidores no Brasil.

"O desempenho econômico mais fraco do que o esperado, a tendência ascendente das despesas do governo e a falta de consenso político sobre as reformas fiscais vão impedir as autoridades de atingirem superávits primários elevados o suficiente para conter e reverter a tendência de aumento da dívida neste ano e no próximo, e desafiarão a capacidade de fazê-lo depois", disse a Moody's em comunicado.

Mas, na visão de economistas, a perspectiva estável dá ao país mais tempo para a se recuperar e evitar a perda do selo de bom pagador. "Estão nos dando mais tempo para a recuperação do crescimento, das medidas fiscais. Acho que estão dando um voto de credibilidade para as ações da equipe econômica, o que é positivo", disse o economista-chefe do Banco J.Safra, Carlos Kawall.

Logo após o anúncio da Moody's, a Bovespa reduziu as perdas nos ajustes de fechamento e o dólar futuro abrandou a alta. A melhora na perspectiva se deve à expectativa da Moody's de que a dívida pública se estabilize na segunda metade do governo da presidente Dilma Rousseff, disse o analista sênior da agência Moody's Mauro Leos.

Ao ser questionado sobre como a Moody's reagiria a um possível impeachment da presidente Dilma, Leos disse que isso seria um "evento inesperado".

"Se houver eventos inesperados que compliquem a perspectiva, como este que você mencionou, então nós teríamos que avaliar quão significativos eles seriam", disse Leos em uma entrevista por telefone.

GRAU DE INVESTIMENTO

A equipe econômica do governo, liderada pelos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, vem tentando evitar o rebaixamento do Brasil para grau especulativo com uma série de medidas para conter o déficit fiscal, que saltou durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.

Mas em meio à queda da arrecadação e dificuldades de aprovar medidas de ajuste no Congresso Nacional, o governo reduziu a meta de superávit primário para este ano a 0,15 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), contra 1,1 por cento do PIB previsto até então.

Contudo, o governo deixou em aberto a possibilidade de fechar o ano com déficit primário de mais de 17 bilhões de reais caso não consiga obter algumas receitas com as quais conta e que basicamente dependem da aprovação do Congresso Nacional, em meio a uma intensa batalha política entre o Executivo e o Legislativo.

Para o ministro Levy, o comunicado da Moody's indica as prioridades necessárias para que o país mantenha a qualidade da dívida.

"A declaração da Moody's explica exatamente os pontos que ela achou relevante. É declaração bastante detalhada, transparente, que eu acho que dá indicação das prioridades que a gente tem que ter em relação a manter a qualidade da nossa dívida pública", afirmou Levy a jornalistas.

Segundo a Moody's, o Brasil pode melhorar sua classificação ou ter sua perspectiva melhorada caso a agência perceba que as perspectivas econômicas do país se estabilizem ou melhorem "mais rápido ou com mais segurança do que o atualmente esperado".

"Tal resultado provavelmente seria associado a reformas fiscais que reduzam a rigidez orçamentária estrutural derivada de vinculações de receitas e crescimento obrigatório em várias categorias de despesa", acrescentou a agência.

Uma fonte do governo disse que o rebaixamento do rating era esperado e salientou o fato de a perspectiva ter sido elevada. "Um rebaixamento é sempre negativo mas, por outro lado, a perspectiva negativa não se concretizou, o que reflete que o esforço do governo está tendo efeito", afirmou a fonte.

De modo geral, a perspectiva estável sinaliza que a classificação não deve mudar nos próximos 12 a 18 meses. A Moody's foi a segunda entre as três principais agências de classificação a rebaixar o rating do Brasil para mais perto do território especulativo, após decisão similar da Standard & Poor's, que tem uma perspectiva negativa para o Brasil. A Fitch Ratings ainda classifica o Brasil dois degraus acima do nível especulativo, com perspectiva negativa.

Texto atualizado às 20h46

Acompanhe tudo sobre:Agências de ratingCrise econômicaeconomia-brasileiraInvestimentos de empresasMercado financeiroMoody'sRating

Mais de Mercados

Ibovespa abre em queda em dia de posse de Donald Trump

Vitória de Trump movimenta mercados, mas incertezas econômicas desafiam investidores

Posse de Donald Trump, cessar-fogo em Gaza e juros na China: o que move o mercado

Trump 2.0: Federal Reserve tenta entender como atuar em novo mandato