Tanques de armazenagem de gás natural da Petrobras, na Baia do Guanabara (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 21 de outubro de 2014 às 21h27.
São Paulo - A agência de classificação de risco Moody's cortou nesta terça-feira os ratings da dívida da Petrobras e manteve a perspectiva negativa para a nota da estatal, citando a alta alavancagem e a dificuldade da empresa de repassar custos aos preços dos combustíveis.
Os ratings em escala global em moeda estrangeira e em moeda local da Petrobras foram rebaixados para Baa2, ante Baa1, ainda dentro do grau de investimento. Há um ano a Moody's já havia rebaixado a classificação da empresa, citando a questão da alavancagem.
Proporcionalmente à geração de caixa, a Petrobras é a petroleira com maior endividamento do mundo, disse analista de energia da Moody's para América Latina, Nymia Almeida.
A agência disse que a perspectiva negativa, que indica que a nota pode ser novamente rebaixada, considera a probabilidade de que o endividamento da empresa suba por conta dos preços internacionais do petróleo mais baixos --um recente desafio adicional para a empresa-- e da flexibilidade limitada para reduzir custos.
"Definitivamente, a parte de produção é impactada quando o preço cai, (o petróleo) é o produto de exportação, e a empresa recebe menos dólares e menos reais proporcionalmente. O problema é saber se vai (o preço do petróleo) baixar mais ...", afirmou à Reuters Nymia Almeida.
O petróleo Brent, referência global da indústria, caiu a uma mínima de cerca de quatro anos abaixo de 83 dólares o barril na semana passada, devido a demanda baixa e oferta abundante.
Os preços mais baixos do petróleo afetam negativamente a operação de produção da companhia, num momento em que a Petrobras tem elevado a sua extração e tem meta de atingir crescimento de 7,5 por cento (1 ponto para mais ou para menos) no bombeamento anual de petróleo.
A agência assinalou que, até 30 de junho, a dívida da Petrobras (Moody's ajustado) alcançou 170 bilhões de dólares, um aumento de 25 bilhões de dólares ante dezembro de 2013, principalmente como consequência do câmbio e perdas relacionadas à diferença entre os preços internacionais e locais da gasolina e diesel, além do financiamento para as despesas de capital.
"Embora a Petrobras tenha sido relativamente bem-sucedida na execução do seu ambicioso programa de capital e entregue agressivas metas de produção, a alavancagem continua a crescer em 2014, principalmente pela sua incapacidade de repassar os custos relacionados com derivados de petróleo importados...", disse a agência em nota.
A alavancagem também tem crescido por conta da desvalorização do real ante o dólar e do "agressivo programa de investimento" da estatal, disse a Moody's.
A agência acredita que a alta alavancagem deve recuar de forma significativa somente bem depois de 2016. Apesar do rebaixamento, a Petrobras mantém o grau de investimento, importante para garantir a captação de recursos por um custo mais baixo.
Na escala da Moody's, a última nota dentro de grau de investimento é Baa3, uma abaixo da atual nota da Petrobras. Ou seja, mesmo que a estatal seja rebaixada novamente em um degrau, manterá o grau de investimento.
"Estar perto (da última nota de grau de investimento) é uma consequência do risco implícito da empresa", afirmou Nymia.
A Petrobras disse em nota que o rating de Baa2 é embasado por sua larga base de reservas e dominância na indústria do petróleo no Brasil.
"O rating da Petrobras considera também o suporte extraordinário do governo federal num cenário de estresse", disse a estatal em nota.
Perdas Com Combustíveis
A incapacidade da empresa de aumentar os preços locais dos derivados de petróleo vis-a-vis os preços internacionais, por conta de controle exercido pelo sócio controlador, o governo, tem provocado grandes prejuízos na área de Abastecimento, notou a agência.
"O governo impediu aumentos nos derivados de petróleo a fim de controlar a inflação", frisou.
A analista disse, contudo, que preços mais baixos do petróleo também podem trazer algum alívio para a Petrobras, na medida em que a cotação da commodity pressiona os valores dos combustíveis comprados pela estatal no exterior e vendidos no mercado interno.
"A empresa é integrada (com produção e distribuição de combustíveis), ela tem esse benefício, se de um lado o preço do petróleo prejudica, de outro beneficia", disse a analista, comentando que os atuais preços internacionais dos derivados de petróleo, se sustentados a médio prazo, reduzem a defasagem entre as cotações no exterior e as de venda no mercado interno.
Com a queda dos preços dos derivados no mercado internacional, fica mais difícil justificar um reajuste de preços no Brasil, acrescentou.
E, mesmo que os aumentos de preços de derivados ocorram, continuou a analista, eles não serão "suficientes para mudar drasticamente o perfil da dívida no curto prazo".
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