"Eles alugam a ação, soltam um relatório e usam a imprensa para dar publicidade para isso" (Gustavo Kahil/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 23 de dezembro de 2011 às 14h49.
São Paulo – O controlador e CEO do frigorífico Marfrig, Marcos Molina, negou que esteja adquirindo ações da própria empresa com o objetivo de manipular o preço. “Eu comprava durante o dia e deixava um pouco para o final, mas não era para manipular o preço e sim para defendê-las”, disse ele nesta sexta-feira em uma entrevista para EXAME.com na sede da companhia em São Paulo.
Molina afirmou em um comunicado publicado no dia 19 de outubro que começou a comprar as ações motivado pela “confiança nos sólidos fundamentos da companhia e em seu significativo potencial de criação de valor”. O executivo voltou a adquirir ações no dia 11 de novembro, assim que o período de silêncio para a publicação do balanço do terceiro trimestre se encerrou, e continuou até o dia 24.
A casa de análise Empiricus questionou em um relatório publicado no dia 14 de dezembro a atuação do controlador concentrada no final de cada pregão por meio da análise das operações feitas pela corretora Umuarama. “Em média 40% das compras [no período de 29 de setembro a 24 de novembro, excetuando o quiet period]da corretora foram feitas nos últimos 15 minutos”, destacou o texto assinado pelos analistas da Empiricus, liderados por Rodolfo Amstalden.
“Quando a ação caiu para perto de 8 reais e já tínhamos divulgado os resultados da empresa, vários fundos começaram a operar vendidos. Então, quando chegava no fechamento da sessão a ação caía uns 3% após subir 1%. Isso sem notícia alguma. A ação chegou a valer apenas 35% do patrimônio líquido. Para mim, o melhor investimento é na própria empresa e aí resolvi comprar. Estava muito barato”, justifica Molina.
Segundo ele, tudo foi feito de acordo com as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e com as compras feitas por apenas uma corretora para aumentar a transparência. “É um direito meu e isso é realizado de maneira totalmente transparente, respeitando o prazo legal”, ressalta. Molina não confirma se ainda continua a comprar as ações no mercado, mas continua de olho.
“Quando a ação estiver barata e for interessante eu vou comprar”, explica. O formulário com as movimentações do controlador em dezembro devem sair até o dia 10 de janeiro do ano que vem, segundo as regras da CVM.
Empiricus
Após sofrer com a atuação do hedge fund GWI - que por meses comprou ações da empresa com operações alavancadas e depois sucumbiu ao não conseguir cobrir as posições, derrubando as cotações -, o Marfrig voltou ao radar do mercado no dia 28 de novembro após a publicação de uma carta aberta da Empiricus questionando detalhes do balanço financeiro da empresa. Desde então, outros 13 questionamentos foram publicados pelos analistas da Empiricus.
“Ligamos para explicar os pontos, mas eles queriam as respostas no blog. Nunca tínhamos visto isso”, ressalta Molina. “Eles não participaram do call [dos resultados do terceiro trimestre] e não ligaram para nós. Além disso, eles disseram que tínhamos 23 reclamações na CVM, sendo que 19 eram nossas. Só temos duas reclamações de investidores lá”, explica Molina.
“É o jeito mais fácil. Eles alugam a ação, soltam um relatório e usam a imprensa para dar publicidade para isso. Respeitamos os analistas e os jornalistas, mas o que a Empiricus fez não é normal”, destaca. O executivo questionou ainda a comparação feita sobre a margem Ebitda com os concorrentes JBS e Minerva. Ele ressalta que a margem Ebitda ajustada no terceiro trimestre ficou em 7,8% e que na divisão de bovinos ficou em 9,5%, do Minerva 8,5% e o JBS 11,5% (caindo para 7% com o prejuízo da Pilgrim’s). Em frango, a margem foi 6% e a BR Foods 12%.
“A Empiricus comparou o nosso 11,5% com o 8,5% e 7% do JBS e disse que inflamos o resultado. É descabível isso. Por isso não os respondemos”, continua. O Marfrig contratou o escritório de advocacia Paulo Aragão para processar a Empiricus. “Uma coisa é uma discussão técnica sobre a mudança para o IFRS, mas do jeito que ela tem afirmado não é concebível”, diz. Molina admite que algumas notas explicativas podem ser aprimoradas, mas que alguns questionamentos, como a suspeita de aumento artificial dos estoques, não têm fundamento.
“Toda a transição que fizemos foi auditada e estamos tranquilos”, destaca.
Mudanças na diretoria
Molina explicou ainda que os anúncios recentes de saídas de executivos do grupo não se deram por problemas ou atritos internos, mas que já eram esperadas. A empresa anunciou ontem o desligamento de Estefan George Haddad, em dos membros do Conselho Fiscal para assumir um cargo de diretoria na auditoria BDO RCS.
“Em julho, ele já tinha anunciado que iria para BDO. Desta forma, ele não poderia mais ser conselheiro fiscal nosso. Desde então, ele não participou de mais nenhuma reunião do conselho”, afirma Molina. O outro é Mayr Bonassi, diretor de Aves, Suínos e Industrializados do Marfrig, que irá se aposentar em 2012. Um novo executivo ainda está sendo buscado.