Minerva: geração de caixa é crucial para reduzir o endividamento da companhia (Marfrig/Divulgação)
Editora do EXAME IN
Publicado em 20 de março de 2025 às 17h40.
As ações do frigorífico Minerva (BEEF3) dispararam hoje, liderando as altas do Ibovespa durante todo o pregão, após a divulgação do balanço do quarto trimestre.
A companhia reverteu o lucro de R$ 19,8 milhões um ano antes de passou para prejuízo de R$ 1,57 bilhão, pressionando principalmente pelo resultado financeiro.
Mas o que chamou atenção do mercado foi o desempenho operacional, especialmente na integração de uma série de frigoríficos comprados da Marfrig.
“Os dados iniciais sobre os ativos adquiridos sugerem que as margens de contribuição não são tão ruins quanto alguns investidores temiam. No entanto, ainda há uma jornada considerável pela frente”, escreveu Thiago Duarte, do BTG Pactual.
Esse foi o primeiro balanço em que os ativos entraram completamente no balanço, mostrando uma performance melhor que a esperada pelo mercado.
O desempenho desses ativos era uma grande preocupação dos investidores, que vinham batendo nos papéis desde o anúncio da operação em agosto de 2023, por achar que a Minerva pagou caro demais pelas unidades e ficou muito alavancada num momento de juros mais altos.
De lá para cá, papéis da companhia caíram mais de 40%.
As notícias trazidas hoje pela companhia, contudo, foram positivas.
Em teleconferência hoje pela manhã, o CFO Edison Ticle disse a margem EBITDA dos frigoríficos da Marfrig ainda está quatro pontos percentuais abaixo das praticadas pela Minerva.
Mas acredita que essa diferença deve ser fechada em pouco tempo e exigindo pouco capital de giro. “Em mais dois ou três trimestres, os ativos devem operar no nível de excelência do restante”, disse o executivo.
Uma boa parte da diferença vem da utilização da capacidade instalada dos ativos da Marfrig, que operavam numa média entre 45% e 50% no quarto trimestre, contra uma média acima de 70% da Minerva.
Segundo ele, atualmente os antigos ativos da Marfrig já estão operando numa taxa de utilização mais próxima das da companhia.
Com isso, a expectativa é de uma geração de caixa mais robusta neste ano. Ticle disse que a Minerva deve conseguir gerar “algo entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões em condições normais de temperatura e pressão”, alertando que não se trata de um guidance formal.
É um valor bem acima do que estava no consenso de mercado, o que explica boa parte da reação.
A geração de caixa é crucial para reduzir o endividamento da companhia.
A Marfrig encerrou o ano com uma dívida líquida de R$ 15,6 bilhões, contra R$ 8,9 bilhões no terceiro trimestre – um avanço explicado em grande parte pelo pagamento dos ativos da Marfrig. A alavancagem era de 5 vezes dívida líquida/EBITDA.
Analistas alertam ainda que o número só não foi maior por conta de uma liberação de capital de giro muito maior que a esperada para o período – explicada em grande parte pelo adiantamento de pagamento de clientes, que pode não ser tão sustentável.
“O peso das despesas financeiras vai seguir elevado em meio a taxas de juros altos, com uma parte significativa da dívida com swap para reais”, afirma o BTG.
“Com um valor de mercado representando menos de 20% do valor da Minerva [a maior parte do valor está na dívida], a trajetória das ações vai ser essencialmente uma função da capacidade da Minerva de entregar a desalavancagem.”