Repórter
Publicado em 9 de abril de 2025 às 07h58.
O impacto das tarifas do presidente Donald Trump foi sentido com força na Apple (AAPL), que viu suas ações despencarem 23% nos últimos quatro dias de negociação, segundo o Wall Street Journal, resultando na perda de seu título como empresa mais valiosa do mundo.
Com isso, a Microsoft (MSFT) reconquistou a liderança, alcançando uma capitalização de mercado de US$ 2,64 trilhões, enquanto a Apple fechou a terça-feira, 8, avaliada emUS$ 2,59 trilhões.
O mercado de ações, como um todo, foi fortemente afetado pelas tarifas de Trump, mas a Apple foi a mais atingida entre as grandes empresas de tecnologia, devido à sua dependência da China. Analistas do UBS, inclusive, preveem que o iPhone 16 Pro Max poderia ter seu preço elevado em até US$ 350 nos Estados Unidos devido aos novos custos de produção.
A disputa entre Apple e Microsoft pela posição de empresa mais valiosa não é nova, com as duas companhias trocando de lugar diversas vezes ao longo dos últimos anos.
Porém, desde meados de 2024, a Apple tinha se mantido à frente, com a queda nas ações da Microsoft devido às preocupações com os elevados gastos da empresa com inteligência artificial, sem um retorno imediato garantido.
A atual política tarifária de Trump, no entanto, trouxe consequências diretas para a Apple, que produz a maior parte de seus produtos fora dos EUA e será duramente afetada pelo aumento nos custos de produção. A empresa tem avaliado como evitar os preços. Uma reportagem da EXAME revelou que a americana estuda ampliar a montagem de iPhones no Brasil para tentar escapar dos efeitos das tarifas.
Embora a Microsoft tenha registrado uma queda de 7% durante o mesmo período, a resiliência de sua estrutura empresarial fez com que a companhia se mostrasse mais protegida da incerteza provocada pelas tarifas. De acordo com analistas da Jefferies, a Microsoft é uma das empresas mais isoladas da volatilidade tarifária.
Entre as sete empresas mais poderosas do setor, conhecidas como “Magnificent 7” – Meta, Apple, Amazon, Nvidia, Tesla, Microsoft e Alphabet (Google) –, a gigante de Redmond foi uma das que melhor enfrentou a onda de vendas no mercado de ações.
Seu preço caiu cerca de 7% desde o anúncio das tarifas, enquanto os concorrentes Meta, Apple, Amazon, Nvidia e Tesla sofreram perdas muito mais expressivas, com quedas de até 16%.
O principal motivo dessa resiliência está na natureza do negócio da Microsoft, que depende menos de produtos físicos ou de consumo, mais expostos às tarifas, e mais de contratos com empresas que garantem uma base de receita estável.
O segmento de cloud computing, liderado pelo Azure, foi o maior gerador de receita da empresa no ano fiscal de 2024, responsável por 43% da receita total, o que pode ajudar a mitigar riscos financeiros causados por instabilidades externas.
O analista Daniel Newman, CEO da Futurum Group, disse à Fortune que as empresas com baixa exposição a tarifas e uma maior concentração em receitas empresariais serão “refúgios seguros” em tempos de crise.
Isso deixa a Microsoft entre as melhores posicionadas para navegar por esse cenário. “A Microsoft não é imune às tarifas, mas sua posição no mercado a torna relativamente mais protegida”, afirmou Rishi Jaluria, da RBC Capital Markets. Ele destaca que a principal área de atuação da Microsoft — o fornecimento de software empresarial e serviços de nuvem — está muito menos vulnerável a tarifas comparado a empresas como Apple e Amazon, que dependem mais de produtos físicos.
Além disso, a demanda por inteligência artificial (IA), que a Microsoft vem impulsionando por meio de seu software Copilot e serviços de IA na Azure, também pode ajudar a empresa a se proteger de uma recessão. A IA, segundo Newman, pode acabar sendo um fator deflacionário.