BRASKEM: a Petrobras, que detém participação na petroquímica, anunciou que irá vender sua parcela nos ativos da Braskem até o final do ano (Germano Lüders/Exame)
Tais Laporta
Publicado em 11 de agosto de 2019 às 08h40.
Última atualização em 11 de agosto de 2019 às 16h59.
São Paulo — A maior parte das empresas do Ibovespa tem colhido bons frutos este ano – mas há sempre aquelas que não conseguem aproveitar uma boa safra. Das 66 companhias que formam o índice, 10 terminaram o primeiro semestre no vermelho. No ano até agora, 14 estão no negativo. Algumas das promessas da bolsa não se cumpriram, enquanto outras já são candidatas a fiascos do ano. O que aconteceu? Uma enxurrada de notícias ruins, concorrência desfavorável ou simplesmente um resultado fraco recaíram sobre estes papéis.
Ainda há cinco meses pela frente para tentar virar o jogo, principalmente se estas empresas conseguirem surfar na "maré positiva" do mercado de ações trazida pela reforma da Previdência e a queda dos juros. O mercado aposta que a pior fase da bolsa já ficou para trás, após um semestre que alternou momentos de euforia com abalos trazidos por crises políticas. As ações flutuaram ao sabor destas incertezas, mas agora prevalece uma leitura otimista.
Na ponta positiva da bolsa em 2019, se destacam os papéis da produtora de alimentos JBS (+ 135%) e da operadora de saúde Qualicorp (+124%). Campeã de alta do Ibovespa no primeiro semestre, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi beneficiada pelo salto extraordinário nos preços do minério de ferro, com alta de 98%. Mas como rentabilidade passada não garante retornos futuros, a empresa não está blindada até o final do ano.
Ainda longe do fim, a piora no conflito entre EUA e China tem ajudado a derrubar a cotação do minério de ferro. Além disso, um grupo de empresários chineses decidiu investigar, no início de julho, o que levou à valorização da commodity, que chegou subir 50% em 2019. A notícia pesou negativamente para o setor de siderurgia e mineração no Brasil. Se for comprovado que a disparada não foi puxada pelo mercado, pode ser o começo de uma nova história para a CSN e outras ações do setor.
Seguindo esta lógica, os papéis que tiveram um desempenho ruim até agora ainda têm alguma chance de se recuperar. Mas a julgar pela leitura do mercado, o desafio é grande pela frente se o objetivo for satisfazer os acionistas. Veja as ações que tiveram o pior desempenho da Bolsa em 2019 até agora:
BRASKEM (BRKM3): -34,42%
A petroquímica Braskem é a empresa que mais perde valor na bolsa até o fechamento de sexta-feira (9), com baixa de 34%. Desde fevereiro, os papéis perdem força, após uma enxurrada de notícias negativas envolvendo a companhia. Problemas com a mina Salgema em Maceió (AL) que causaram rachaduras em casas de um bairro próximo e desencadearam consequências como o bloqueio de recursos, são apenas a ponta do iceberg.
A empresa teve cerca de 3,8 bilhões de reais bloqueados pela Justiça para garantir eventuais indenizações a afetados pelo fenômeno geológico. Além disso, concedeu seguro-garantia de 2,7 bilhões de reais para pagar dividendos aos acionistas.
A petroquímica perdeu ainda mais valor de mercado quando a holandesa LyondellBasell desistiu de adquirir a companhia, controlada pela empreiteira Odebrecht, que recentemente pediu recuperação judicial. A notícia foi um balde de água fria para investidores que apostavam no negócio como uma solução para desvincular a empresa dos problemas de sua controladora.
Para piorar, a petroquímica teve um lucro do segundo trimestre 76% menor, somando 129 milhões de reais, apesar dos melhores resultados operacionais no Brasil e nos Estados Unidos, enquanto enfrenta os efeitos de desaceleração na Europa e no México.
Não para por aí. A empresa informou que a bolsa de Nova York agendou para 17 de outubro uma audiência para analisar o recurso contestando a decisão de suspender a negociação de ADRs (recibos de ações negociados no exterior) da Braskem e início do processo de deslistagem devido ao não arquivamento de um formulário.
Em relatório a clientes, o UBS defendeu uma postura mais cautelosa com as ações da petroquímica. O principal argumento é o de que o banco não não espera uma melhora nos resultados e considera revisar as estimativas para baixo se alguns riscos se concretizarem.
ULTRAPAR (UGPA3): -26,25%
A segunda maior queda da bolsa no ano é da distribuidora de combustíveis Ultrapar, dona dos postos Ipiranga, que vê suas ações perderem ao redor de 26% no acumulado do ano. Avaliada hoje em R$ 20 bilhões, a companhia desapontou investidores no primeiro trimestre ao entregar resultados fracos de suas subsidiárias, prejudicada especialmente pela queda no consumo de combustíveis. Os reflexos da greve dos caminhoneiros em 2018 sobre os negócios do selo Ipiranga persistiram por meses após a paralisação.
Apesar dos números desfavoráveis, a baixa dos papéis é vista como oportunidade por agentes do mercado. O Bradesco BBI elevou a recomendação da ação no fim de julho de neutro para “outperform” (desempenho acima da média), o que deu um impulso momentâneo para a ação. Mas não há consenso entre os analistas. A equipe da XP prefere manter como preferidas as ações de concorrentes da distribuição de combustíveis, como Cosan e BR Distribuidora, mencionando não enxergar “um ponto de inflexão num futuro próximo”. No acumulado de agosto, o desempenho da Ultrapar na bolsa continua negativo.
SUZANO (SUZB3): - 19,14%
Vai tudo bem com as finanças da fabricante de papel e celulose Suzano, mas não se pode dizer o mesmo se suas ações. Em fevereiro, a companhia concluiu a megafusão com a concorrente Fibria após pagar R$ 27,8 bilhões aos acionistas, levando os papéis a dispararem na ocasião. A empresa anunciou que espera gerar sinergias operacionais de até 900 milhões de reais por ano (antes da tributação) como resultado da combinação de negócios. O anúncio entusiasmou investidores, mas por pouco tempo.
Os resultados do segundo trimestre vieram mais fortes que o esperado, com Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) de R$ 3,1 bilhões. Qual é o problema, afinal?
Apesar das boas perspectivas com a fusão e os lucros, o cenário tem sido desafiador para a Suzano, diante de uma forte queda nos preços da celulose no mercado internacional. O Credit Suisse chegou a cortar o preço-alvo do papel após a celulose sofrer um declínio de 35% no ano.
Além disso, a queda nas previsões de embarque do produto e a concorrência em alta são entraves adicionais para o crescimento da companhia. Por seu perfil exportador (com forte receita atrelada ao dólar), a Suzano tem a seu favor a recente valorização da moeda americana, que avançou na esteira da piora do conflito comercial entre EUA e China. Mas o futuro incerto do dólar não garante o conforto da empresa.
Para a equipe da XP Investimentos, os preços da celulose parecem próximos de chegar a um piso. Os analistas mantêm uma visão positiva para a dinâmica de oferta e demanda do produto no médio e longo prazo, com "um maior risco de alta do que de baixa no preço das ações".