(Hiroshi Watanabe/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 16 de janeiro de 2021 às 05h58.
Última atualização em 18 de janeiro de 2021 às 13h45.
Obter performances superiores ao índice de referência (benchmark) é o objetivo de qualquer gestor, mas nem sempre isso é possível. Dos 592 fundos de ações livres ativos desde o início de 2016 (uma janela de cinco anos), a metade teve desempenho abaixo do Ibovespa na rentabilidade acumulada do período, segundo levantamento da EXAME Invest com base em dados fornecidos pelo sistema de informações financeiras Economatica.
Considerando apenas os 176 fundos de ações livres que encerraram 2020 com pelo menos 100 cotistas, o percentual dos que conseguiram bater o Ibovespa diminui para 45,45%. A fatia, no entanto, acaba sendo ainda menor, uma vez que foram desconsideradas as taxas de administração e de performance cobradas dos cotistas.
Na primeira metade da década passada, no entanto, a mediana da rentabilidade dos fundos de ações livres superou o Ibovespa em todos os anos. No período, o principal índice da bolsa brasileira encerrou apenas um ano com rentabilidade positiva. Segundo William Eid, diretor do Centro de Estudos em Finanças da FGV EAESP (FGVcef), os fundos tendem a ter performance superior ao índice em anos negativos do mesmo.
“A maioria dos fundos sempre preferiu ficar em um Beta de cerca de 0,9. Isso garante que, quando a bolsa sobe, ele também sobe -- menos, mas vai subir e o cliente fica satisfeito --, e quando cai, cai menos”, afirma. “Sempre fiz essa análise e a conclusão em quase todos os anos é que a maioria dos fundos não bate o Ibovespa”, afirma.
Eid explica que um fundo com beta acima de 1 pode ser considerado ofensivo, e abaixo, defensivo. “Se o beta for de 1,3 e o Ibovespa variar +10%, o fundo irá subir 13%. Se o beta for 0,8 e o Ibovespa cair 20%, o fundo cairá 16%. Nos últimos cinco anos, por outro lado, o Ibovespa subiu em todos eles, encerrando o período com alta de 174,55%.
O período a partir de 2016 também foi o de maior evolução da indústria de fundos de ações, que foi impulsionada pelo início do ciclo de cortes dos juros básicos. Segundo Juliana Machado, analista de fundos de investimentos da Exame Research, o desenvolvimento do mercado reduz as assimetrias, tornando mais difícil a obtenção de resultados acima da média. “Não à toa os ETFs se popularizaram no exterior. Não ter ETF na carteira não é mais uma alternativa”, afirma. Os ETFs são chamados de fundos de índice, porque acompanham performance de índices específicos.
“De acordo com a literatura clássica de finanças, em termos de desempenho, é melhor seguir o índice do que tentar bater o mercado. Bater o mercado consistentemente é muito difícil. Média é média porque tem gente acima e abaixo. Precisaria de uma habilidade muito boa para estar sempre comprado nos melhores ativos. Mas isso é segundo a teoria de finanças”, afirma Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV EAESP.
Yoshinaga, porém, pondera que, empiricamente, a história é outra. “Existem evidências de gestores fora da média. Um exemplo é o Warren Buffett, que faz uma gestão ativa desde 1964 e bateu bastante o S&P 500.”
No Brasil, o Nuevo Sumatra Ações FI, da CTM Investimentos, é um dos exemplos de que é possível obter rentabilidade acima da média de forma consistente. Nos últimos cinco anos, o fundo obteve retorno acumulado de 1.022,33%, superando o Ibovespa em todos os anos.
A segunda maior alta acumulada entre os 596 fundos de ações livres existentes desde 2016 foi do Organon FIC FIA, da Organon Capital, que obteve 960,46% de rentabilidade no período. No último ano, no entanto, seu desempenho foi negativo em 17,19% contra a alta de 2,92% do Ibovespa.
Entre os fundos de ações livres com mais de 100 cotistas (desconsiderando os de BDRs ou que investem em ações de uma única empresa), o que obteve o melhor desempenho foi o Fator Sinergia FIA, com alta acumulada de 409,22%. Moat Capital FIC FIA e E2m Intrust FIA aparecem na sequência, com rentabilidades de 400,10% e 395,56%, respectivamente.
A pior performance ficou com o Alfa FIC de FIA, que teve alta de 11,81% em cinco anos, enquanto o Ibovespa subiu 174,55%. Abrangendo apenas os fundos de ações livres com menos de 100 cotistas, o Vinci Prioritário FIA teve o pior desempenho entre os que se mantiveram ativos no período, com queda acumulada de 75,71%.