Pedestre em Tóquio: bolsas asiáticas subiram 1% nesta segunda-feira (Issei Kato/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de março de 2020 às 06h42.
Última atualização em 2 de março de 2020 às 07h06.
São Paulo — Uma semana depois do agravamento da epidemia global de coronavírus, ainda sobram, entre os especialistas em saúde, dúvidas sobre a doença. No mercado financeiro, os investidores se dividem entre quem aposta que o pior já passou (a minoria) e quem busca proteção temendo que o cenário possa se complicar. Para o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, a perspectiva é de mais turbulência no curto prazo.
O principal indicador da B3 encerrou a semana passada em queda de 8,37% em 104.171,6 pontos, seguindo as demais bolsas ao redor do mundo. Desde então, durante o final de semana, o segundo caso de contaminação de um brasileiro por doença causada pelo coronavírus foi confirmado. Ocorreu também a primeira morte nos Estados Unidos e uma segunda confirmada nesta segunda-feira, 2, além do primeiro infectado na cidade de Nova York. São mais de 89.000 casos confirmados, pouco mais de 9.000 deles fora da China.
O efeito negativo mais relevante do coronavírus para os mercados brasileiros no momento diz respeito às relações comerciais com os chineses, maiores parceiros comerciais. Por ora, os segmentos que devem ser mais afetados são os das empresas exportadoras de soja, matérias-primas e produtos industriais, devido ao choque negativo da demanda chinesa.
Varejistas que dependem de produtos importados como eletroeletrônicos (Magazine Luiza, Lojas Americanas, B2W, Via Varejo) podem ser impactadas a depender dos efeitos sobre a cadeia produtiva e logística. Já companhias aéreas sofrem com a desvalorização cambial recorde, já que sua estrutura é parcialmente cotada em dólar. Motivo pelo qual Gol e Azul lideraram as baixas na última semana de fevereiro, com os papéis de ambas caindo mais de 20%.
“Ainda vemos um um impacto limitado do coronavírus sobre a economia brasileira, em que pese o alto grau de incerteza sobre seus efeitos sobre as cadeias de produção e comércio globais”, escreve Karel Luketic, estrategista-chefe da XP Investimentos. Mesmo com a queda pronunciada na semana passada, a tendência primária de alta, que vem desde 2016, segue intacta, segundo Raphael Figueredo, sócio e analista da Eleven Financial. “Respeito o momento atual, mas tecnicamente não houve nenhuma alteração significativa”, afirma.
No exterior, a segunda-feira começou com mercados um pouco mais calmos depois da pior semana desde a crise financeira de 2008. O europeu Stoxx 600 subia 1,6% por volta das 6h30. O japonês Nikkei encerrou o pregão em alta de 1%, assim como índice MSCI de ações Ásia-Pacífico (com exceção do Japão).
Ainda é pouco para compensar as quedas da semana passada. Mas além da expectativa de uma resposta coordenada dos governos mundo afora ante o coronavírus, outro dos motivos para o ligeiro otimismo é a expectativa de que o banco central americano, o Fed, cortará sua taxa básica de juros, atualmente entre 1,5% e 1,75%, já na próxima reunião, em 18 de março. Taxas menores nos EUA podem fazer os dólares voltarem a fluir em investimentos nos mercados internacionais. A ver se o Ibovespa seguirá as altas dos estrangeiros nesta segunda-feira.