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‘Mercados estão errados’ sobre inflação, diz fundo de pensão

Na semana passada, negociações com títulos reforçaram as expectativas de que a inflação pode se acelerar para os maiores níveis dos últimos anos

Os mercados de dívida abriram mais calmos na segunda-feira, com a expectativa de investidores de que os bancos centrais devem aumentar as compras de ativos para evitar que os rendimentos aumentem muito rapidamente (Mario Tama/Getty Images)

Os mercados de dívida abriram mais calmos na segunda-feira, com a expectativa de investidores de que os bancos centrais devem aumentar as compras de ativos para evitar que os rendimentos aumentem muito rapidamente (Mario Tama/Getty Images)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 1 de março de 2021 às 10h52.

O nervosismo pela expectativa de juros mais altos colapsou o maior mercado de títulos do mundo, mas Sam Sicilia nem piscou.“Os mercados estão errados” sobre as expectativas de inflação, disse Sicilia, diretor de investimentos do Host-Plus, um fundo de fundo de pensão em Melbourne com 56 bilhões de dólares australianos (US$ 43 bilhões) sob gestão. “As forças deflacionárias são maiores. As taxas de juros ficarão efetivamente em zero.”

Com governos ao redor do mundo ainda injetando trilhões de dólares em estímulos para enfrentar a pandemia, gestores de fundos de pensão que analisam os efeitos de longo prazo levantam a questão: a inflação vai voltar? Em caso positivo, mais de US$ 46 trilhões dos ativos de pensão globais seriam afetados com o aumento sustentado dos juros por bancos centrais.

Entrevistas com cinco fundos de pensão que ajudam a administrar parte dos 2,9 trilhões de dólares australianos (US$ 2,3 trilhões) em ativos de aposentadoria da Austrália revelam uma categoria de investidores pouco preocupados com o risco de alta dos preços.

Na semana passada, negociações com títulos reforçaram as expectativas de que a inflação pode se acelerar para os maiores níveis dos últimos anos como conclusão inevitável dos US$ 19,5 trilhões em estímulos globais para combater a crise de coronavírus.

Os rendimentos dos títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA subiram para níveis pré-pandemia na quinta-feira, o que sacudiu os mercados de ações e de crédito, enquanto operadores antecipavam apostas de aumento dos juros nos EUA com previsão de alta estimada por um breve período para o final de 2022, pelo menos um ano antes do prazo sinalizado pelo Federal Reserve.

Os mercados de dívida abriram mais calmos na segunda-feira, com a expectativa de investidores de que os bancos centrais devem aumentar as compras de ativos para evitar que os rendimentos aumentem muito rapidamente.

“Não acho que eles gostariam de arriscar qualquer recuperação” ao permitir que as taxas nos mercados subam muito rapidamente, disse Michael Clavin, responsável por renda fixa do Aware Super, o segundo maior fundo de pensão da Austrália em ativos com 140 bilhões de dólares australianos sob gestão. Pode haver uma “explosão de dados inflacionários, mas não temos realmente certeza de que seja sustentável.”

Como Sicilia, Clavin aponta os avanços tecnológicos como o maior obstáculo à alta dos preços no longo prazo. Economistas buscam há anos quantificar o impacto deflacionário da tecnologia em vários segmentos, de cadeias de suprimento até o aumento dos salários, mas o efeito geral suprimiu a alta de preços. E isso sem incluir o maior desemprego devido à pandemia.

“Ainda há um grande obstáculo para recuperar os empregos que foram perdidos”, disse Clavin. “Não vejo como superar essas forças deflacionárias sem algum tipo de aumento salarial.”

Sicilia continua a evitar os títulos “escandalosamente caros” e está investindo em ações e private equity com a aposta de que ativos de risco continuarão a apresentar desempenho superior com a manutenção dos juros perto de mínimas históricas.

“Em cinco a dez anos, teremos pessoas dizendo ‘deveríamos ter comprado ações a 20 vezes o lucro’”, disse. “Se a tecnologia é a principal causa da ausência de inflação, isso significa que não será possível gerar inflação tão cedo.”

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