A ascendência do governo sobre Petrobras, particularmente na sua política de determinação de preços dos combustíveis, é uma das questões mais criticadas pelo mercado (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 25 de janeiro de 2012 às 09h46.
São Paulo - A substituição de José Sergio Gabrielli por Maria das Graças Foster no comando da Petrobras dificilmente gerará mudanças drásticas para a estatal, especialmente no que diz respeito à influência política exercida pelo governo sobre a administração da petrolífera.
A ascendência do governo sobre Petrobras, particularmente na sua política de determinação de preços dos combustíveis, é uma das questões mais criticadas pelo mercado, sem falar no modo como a estatal realiza compras de equipamentos, muitas vezes valorizando mais o conteúdo nacional do que o preço eventualmente mais baixo no exterior.
Dessa forma, apesar de cautelosos em relação à forma de administração a ser adotada por Graça Foster, como é mais conhecida, os analistas não acreditam que ela venha a acrescentar alto valor às ações da Petrobras no médio prazo.
"Nossa visão é cética quanto a uma eventual mudança na qualidade da gestão da Petrobras, na medida em que não há nenhum tipo de indicação de que os principais fatores de risco que atualmente ameaçam o valor da empresa, na sua maioria relacionados a influência estatal, venham a ser mitigados em função da nova gestão da companhia", disse o analista Ricardo Corrêa, da corretora Ativa.
A Petrobras anunciou na segunda-feira que o presidente do Conselho de Administração, o ministro Guido Mantega (Fazenda), indicou Graça Foster para ser a nova presidente da empresa, o que deve ser aprovado em reunião no dia 9 de fevereiro.
Apesar do perfil técnico e de ser funcionária de carreira da companhia, o que agradou o mercado, Graça Foster tem estreitas ligações, inclusive de amizade, com a presidente Dilma Rousseff.
Um analista que preferiu não ser identificado avaliou que Graça Foster tem uma agenda pesada pela frente.
"Há três anos a produção de petróleo está estagnada e abaixo da meta, há uma dependência excessiva de importação de combutíveis, as reservas não estão crescendo no ritmo adequado e a necessidade de conteúdo local pode atrasar investimentos", disse.
A questão da produção praticamente estagnada nos últimos anos foi citada por fontes do governo como um dos fatores que levaram Dilma a acelerar mudanças no comando da Petrobras.
Mas relatório do banco UBS salienta como ponto negativo da executiva o fato de Graça Foster nunca ter trabalhado na área de exploração e produção de petróleo, segmento que mais precisa de atenção na agenda de investimentos da empresa.
Fontes do governo disseram ainda à Reuters que a nova comandante da estatal foi encarregada por Dilma a dar uma espécie de choque de gestão na estatal, o que mexeria com cargos de escalões mais baixos.
Mas os ministros Mantega e Edison Lobão (Minas e Energia) disseram na segunda-feira que pouca coisa mudará na Petrobras. Para o ministro da Fazenda, a estatal dará continuidade em sua estratégia com Graça Foster. Lobão admitiu "pequenos ajustes" no plano de investimentos, mas "não mais do que isso".
O Santander concorda e afirma em nota aos clientes que "tradicionalmente mudanças de comando não se traduziram em alterações significativas para a orientação estratégica da empresa, e não vemos razão para que seja diferente desta vez".
Valor para as ações
"Profissionalmente, Graça Foster tem reputação de ter sólido conhecimento técnico da Petrobras, de ser exigente com seus subordinados, seus compromisso com metas. Mas isso é suficiente para agregar valor à Petrobras?", questionou um outro profissional do mercado de ações, que também pediu para não ser identificado.
Ele acrescentou que a nova presidente da Petrobras vai assumir num momento em que o mercado vem punindo as ações da companhia com um preço abaixo do potencial de crescimento da empresa.
A maior cautela mostrada nesta terça-feira na avaliação das perspectivas para a Petrobras sob o comando de Graça Foster difere da reação inicial bastante positiva da véspera. Na segunda-feira, as ações da empresa chegaram a subir mais de 5 por cento durante o pregão com os operadores justificando a alta pelo perfil técnico da nova presidente.
Nesta terça-feira, segundo dados preliminares, o papel preferencial da Petrobras fechou em alta de 1,07 por cento, a 25,40 reais, enquanto o Ibovespa subiu 0,16 por cento e o petróleo em Nova York caiu 0,63 por cento.