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Mercado se apega ao longo prazo à espera de mais turbulência política

Investidores não desistiram de ver a aprovação da nova Previdência, mas ajustaram suas estratégias para uma tramitação longa e bastante confusão no caminho

Bolsa: a volatilidade é benéfica para os chamados day traders, que usam pouco os fundamentos da economia para definir compras e vendas (Germano Lüders/Exame)

Bolsa: a volatilidade é benéfica para os chamados day traders, que usam pouco os fundamentos da economia para definir compras e vendas (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 1 de abril de 2019 às 06h20.

Última atualização em 1 de abril de 2019 às 06h55.

A semana levará o índice Ibovespa, nos 95 mil pontos, em direção aos 90 mil ou aos 100 mil pontos? O turbilhão de semana passada, com bruscas variações diárias e alta dose de indefinição política, serviu para gestores e investidores ajustarem seus discursos.

O mercado financeiro brasileiro, que desde o meio de 2018 vem apostando na implementação de reformas liberais para impulsionar o crescimento e valorizar as empresas e a moeda local, levou um balde de água gelada na semana passada com a dificuldade de articulação política do governo Jair Bolsonaro. Os investidores não desistiram de ver a reestruturação do sistema de Previdência Social aprovada no Congresso, mas ajustaram as suas estratégias para contemplar um tempo mais longo de tramitação e bastante confusão no caminho.

“Vai ter muito sacode”, resume Marco Antonio Tulli Siqueira, chefe da mesa de operações da Bovespa da corretora Coinvalores. “A votação deve ficar para o final do trimestre, porém ainda há incerteza sobre os pontos que entrarão e ficarão de fora, definindo o tamanho da economia para os cofres públicos. O brasileiro sabe que aqui as coisas acabam acontecendo, mas é tudo um parto.”

A queda de 3,9% entre o fechamento de segunda-feira, dia 25, e os primeiros minutos de negociação na quarta, dia 28, foi causada, segundo operadores do mercado e gestores, principalmente pela pesada venda de ações de empresas que dependem do mercado doméstico, como as varejistas, e pela saída de estrangeiros que se assustaram com o aumento do risco. Foi esse movimento que fez a moeda americana disparar 2,3% contra o real em pouco mais de um dia.

“O que se observa na economia real é que os agentes, como no setor de construção civil, estão postergando as suas decisões de investimento em função dessa bagunça”, diz Luiz Fernando Alves Junior, gestor do fundo Versa. “A maior preocupação é que o ruído político atrapalhe a aceleração da atividade. Porém, a equipe econômica é muito competente e tem projetos que vão além da Previdência que nos animam muito.”

A volatilidade é benéfica para os chamados day traders, que usam pouco os fundamentos da economia para definir compras e vendas, e permitiu que alguns investidores de longo prazo que haviam ficado de fora do rali de 4,9% do Ibovespa – o principal índice acionário brasileiro – neste ano até o dia 26 pudessem comprar papeis a preços menos esticados.

Desde então, a bolsa subiu 4,2%, porém puxada pelas empresas cuja maior parte das receitas é proveniente do exterior e atrelada ao dólar, como a mineradora Vale e o frigorífico JBS. Algumas instituições financeiras também reforçaram as aquisições de ações nos dois últimos dias da semana como sinalização de apoio a Bolsonaro em um momento delicado. Não querem desistir do otimismo apesar das grandes e sucessivas demonstrações de inabilidade do capitão reformado e de seus aliados mais próximos.

Para André Paes, diretor institucional da gestora Infinity Asset Management, a instabilidade já era esperada. “O novo governo está só começando. Uma coisa é o discurso, outra é a prática. Porém, quanto mais demorar para se concretizar a expectativa sobre a reforma, maior é o risco que o investidor corre”, diz.

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