Expectativa é que o mercado de capitais atue cada vez mais como um propulsor da economia brasileira, segundo CEO da bolsa (Victor Moriyama/Bloomberg/Bloomberg)
Beatriz Quesada
Publicado em 16 de dezembro de 2020 às 15h14.
A poucos dias para o final de 2020, a bolsa brasileira conseguiu reverter as perdas da pandemia. Impulsionados pelo otimismo com a vacinação contra a covid-19, investidores estrangeiros estão migrando posições para ativos mais arriscados. Nesse contexto, mercados emergentes, como o Brasil, têm tudo para começar 2021 com o pé direito -- se o cenário fiscal colaborar.
“Ainda existem incertezas à frente, mas há também uma certa celebração nos mercados globais de que a vacinação em massa seja efetiva. Isso, aliado à injeção de liquidez promovida pelos Bancos Centrais, traz uma perspectiva de retorno de crescimento para as economias do mundo todo”, afirmou Gilson Finkelsztain, CEO da B3, em teleconferência com jornalistas na manhã desta quarta-feira, 16.
Para a bolsa brasileira, Finkelsztain destacou que a tendência de alta se fortalece com a entrada de novos investidores, que estão buscando opções de maior risco diante da baixa taxa de juros -- a Selic permanece na mínima histórica de 2% ao ano.
Os institucionais também estão balanceando portfólios em busca de maiores retornos e, como terceiro pilar, o investidor estrangeiro está retornando ao Brasil. Segundo informações divulgadas ontem pela B3, o saldo líquido da entrada de capital estrangeiro no país está positivo em 7,89 bilhões de reais no mês de dezembro.
“A expectativa é que o mercado de capitais atue cada vez mais como um propulsor do crescimento das empresas e desenvolvimento da economia. Esperamos um fortalecimento do mercado como fonte de recursos para desenvolvimento do país”, disse o CEO da bolsa.
Para que isso aconteça, no entanto, é preciso endereçar medidas para melhorar o cenário fiscal do país. “O governo precisa controlar a inflação para que os juros se mantenham baixos e esse cenário positivo se materialize para o mercado. O primeiro passo é reforçar o compromisso com a manutenção do teto de gastos. Os investidores precisam ter clareza de qual é a agenda fiscal do governo”, argumentou Finkelsztain.
Na avaliação do CEO, um posicionamento mais assertivo do governo é essencial para reforçar o último direcionamento do Banco Central e estimular os mercados. Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, o BC demonstrou preocupação com os recentes dados inflacionários -- que vêm superando as estimativas do mercado --, mas manteve o argumento de que a recente alta da inflação é apenas “temporária”. A expectativa é que a taxa Selic seja reajustada no segundo semestre do próximo ano, segundo análise da EXAME Research.
Além do teto, Finkelsztain defendeu que o governo deveria focar em outros dois aspectos: sinalização de andamento de reformas e andamento de concessões e privatizações. “É o que o mercado gostaria de escutar”, concluiu.