Márcio Mello, presidente da HRT: posição reforçada na Namíbia com aquisição da UNX (Eduardo Monteiro/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 6 de maio de 2011 às 17h35.
São Paulo – O mercado não entende o potencial de petróleo na costa da Namíbia e alguns analistas menos ainda, disse o presidente da HRT (HRTP3), Márcio Rocha Mello, em entrevista exclusiva para EXAME.com.
“O meu potencial de upside é um dos maiores do mundo. Tenho 7 bilhões de barris certificados e só explorei 20% da minha área, que é 10 vezes maior que a área da OGX, por exemplo. Ninguém, no mundo, tem mais dados que a HRT no Amazonas, exceto a Petrobras, e na Namíbia”, ressaltou.
Mello conta que os rumores sobre a intenção do governo da Namíbia em nacionalizar os recursos minerais são completamente infundados. A notícia foi relatada em uma análise do banco Itaú BBA e muito questionada por Mello.
"A analista do Itaú BBA, Paula Kovarsky, foi leviana. Não foi nem o ministro, mas sim um adjunto. Ele mencionou apenas que, devido à riqueza do país, deveria pensar mais em trazer os recursos da mineração para o país com o aumento dos royalties. Mas é só um discurso! Ela extrapolou isso para petróleo e gás", afirmou.
"Só falta ela dizer que vão nacionalizar as cabras e os avestruzes porque a Namíbia é um dos maiores produtores. Uma coisa é pensar e outra é fazer. Não existe nada formal. Por isso estou indignado. Ela nem ligou aqui para saber a nossa opinião. Perguntei para o ministro. Vocês vão soltar algum comunicado? Ele respondeu: 'Comunicado sobre o quê? Não tem nada'".
Petra
A participação de 45% da Petra na bacia do Solimões, atual parceira da HRT, deverá ser vendida até o final de maio e com a ajuda da HRT, adiantou o executivo.
"Várias empresas nos procuraram para entrar na bacia do Solimões. Várias. Selecionamos algumas e informamos a Petra. Elas queriam comprar a parte da HRT e da Petra na bacia, mas como não quero vender estamos as encaminhando para a Petra. São empresas muito grandes. Se isso sair será espetacular para a HRT, Petra e para o Brasil. Elas são de grande porte e com muita experiência e tecnologia, o que deve nos ajudar", disse.
Novas certificações
Mello também afirmou que já está em curso um novo mapeamento dos recursos da empresa na Amazônia. A intenção é ampliar o percentual da área da companhia que está certificada de 20% para 70%.
"É um trabalho de 10 meses, mas com os primeiros dados já começamos a certificar. Com isso vou analisar cerca de 70% da minha área. Hoje só analisei 20%. Já temos 11 descobertas e 52 lugares para perfurar. Em 8 delas vou furar para produzir e transformar em reservas provadas P2", afirma.
Segundo ele, uma nova certificação deve sair até o final do ano. Confira os principais trechos da entrevista:
De onde partiu a ideia de participar de blocos exploratórios na Amazônia? Por que não procurar a bacia de Campos ou Santos?
Na Amazônia, estava em 1979 furando um poço. Foi a maior descoberta até hoje em Jaraqui. Desde aquela época a Amazônia nunca saiu da minha cabeça.
Eu era um garoto quando terminei um mestrado na Bahia, então fui para o Rio de Janeiro na Petrobras e fui direto para um projeto na Amazônia. O líder do projeto, à época, faleceu e eu assumi ainda com 26 anos.
Na Amazônia tem tanto gás que coletávamos amostra do chão e analisávamos a quantidade de gás que estava saindo. Não é exagero eu te falar que vi gente cozinhando porco-do-mato no chão, com o gás. Esse hidrocarboneto se dissolvia na água e as plantas ao chupar a água do lençol freático têm um desenvolvimento retardado e ficam com coloração amarela.
É possível ver uns 100 quilômetros de árvores como se estivessem envenenadas.
Furamos uns 30 poços com um índice de sucesso de quase 90%. Com isso, como a Petrobras só descobria o gás condensado decidiu deixar de lado e caminhou mais para o sudeste. Em 1981 achou o campo de Urucu, com óleo. Então ela sentou em cima e ficou explorando o óleo, que é o melhor do Brasil. Ela produziu até hoje 250 milhões de barris com 43 a 47 graus API (medida de densidade) e quase zero teor de enxofre, nitrogênio e gás carbônico.
É o reservatório com a maior recuperação. A média no Brasil é 25% e lá é 55%. A Bacia do Solimões é hoje a segunda que mais produz petróleo e gás no país. Foram furados 230 poços em 40 anos e a terceira maior produtora é a bacia do Recôncavo, mas que foi muito mais explorada. Lá, o número de poços chega a 10 mil. E área do Solimões é enorme, do tamanho da França, não é nada.
Eu era presidente da Associação Brasileira de Geólogos de Petróleo e, como estava preocupado porque só se falava de offshore, fiz um seminário para falar sobre as bacias terrestres e apresentei a Bacia de Solimões. Na plateia estavam dois convidados da ANP que viriam a ser dois diretores da HRT, o Milton Franke e o John Forman.
Eles ficaram tão impressionados com a minha apresentação que colocaram os blocos para oferta. A argentina OMS, então, comprou os blocos por 200 mil dólares. E eu segui a minha vida como o dono da maior companhia de consultoria de petróleo no Brasil. Depois, em 2009, decidi montar a minha companhia de exploração. E onde fui colocar o primeiro dinheiro? Em Solimões. Era o meu sonho. É a maior fronteira exploratória do Hemisfério Sul. Comprei 55% de 21 blocos em uma área 48 mil quilômetros quadrados. Ali já tinham 21 poços perfurados pela Petrobras e com 11 descobertas. Nessas eu consegui certificar com a D&M meio bilhão de reservas de contingência.
Nas áreas em que a Petrobras não tinha perfurado eu refiz a sísmica e certifiquei muito mais porque 45% ficou com a Petra. A diferença da HRT é que pensamos 20 anos na frente. A maior parte está preocupada no amanhã.
E a Namíbia? Como foi o processo de chegar até lá?
Desde 1998 eu trabalho na Namíbia, quando estava na Petrobras. Depois, em 2006, quando já tinha saído da Petrobras consegui um contrato de serviços com a britânica Chariot. Eu fiz tudo para eles, além do private placement e o IPO deles. Ali eu pensei. Se vou fazer para os outros, por que não eu? E hoje sou a maior companhia de petróleo da Namíbia, após a aquisição da UNX, com quem eu também já tinha trabalhado. Antes eu era um espectador e hoje sou um maestro.
A América do Sul e a África já estiveram juntos. O equivalente da Amazônia na África é a Líbia, Argélia e Tunísia. Lá tem 100 bilhões de barris do mesmo óleo da Amazônia, só que com mais de 100 mil poços. E a costa da Namíbia é análoga à bacia de Santos. E como não poderia comprar ali, então comprei a Namíbia, que é maior que a da Petrobras em Santos.
O meu potencial de upside é um dos maiores do mundo. Tenho 7 bilhões de barris certificados e só explorei 20% da minha área, que é 10 vezes maior que a área da OGX, por exemplo.
Ninguém, no mundo, tem mais dados que a HRT na Amazonas, exceto a Petrobras, e na Namíbia.
E como é o relacionamento com a Petra na Amazônia?
Eles também são ex-geólogos da Petrobras e hoje o CEO da Petra é o Roberto Viana. É um relacionamento bom e cordial, mas ainda estamos carregando eles. Foi o acordado no momento da aquisição dos blocos. A HRT tem todas as despesas até 125 milhões de dólares. Provavelmente em julho isso acaba e passaremos a fazer uma chamada de capital, quando a Petra precisará participar de 45%. O BTG Pactual agora é sócio deles.
A HRT pretende comprar a Petra?
Não. Não pretendemos comprar a Petra. De jeito nenhum, mas várias companhias estão interessadas em comprá-la. Temos conversado com elas e até o final de maio devem negociar essa participação de 45% da Petra.
É a venda do direito de compra?
A nossa ideia não é exercer o direito, mas apresentar os potenciais compradores para uma negociação direta com a Petra.
É uma compra conjunta?
Não. Várias empresas nos procuraram para entrar na bacia do Solimões. Várias. Selecionamos algumas e informamos a Petra. Elas queriam comprar a parte da HRT e da Petra na bacia, mas como não quero vender estamos as encaminhando para a Petra. São empresas muito grandes. Se isso sair será espetacular para a HRT, Petra e para o Brasil. Elas são de grande porte e com muita experiência e tecnologia, o que deve nos ajudar.
Como está o processo de perfuração no Solimões?
Já estamos perfurando e é um acompanhamento que faço online a partir da minha sala no Rio de Janeiro. As outras 3 sondas já estão caminhando para o local ou sendo montados. A nossa estimativa é que ao final de maio tenhamos as 4 perfurando e até o final de julho terminaremos a perfuração. Teremos resultados a partir de julho.
Melhor que isso estraga.
E qual é o próximo passo?
Já estamos fazendo e expandindo o maior levantamento terrestre já feito no Brasil ao mesmo tempo. São 7 mil quilômetros quadrados de sísmica 2D no Amazonas. São três equipes sísmicas atuando ao mesmo tempo. Uma já está recolhendo dados e as outras duas iniciam em junho. Elas mapeiam as estruturas portadoras de petróleo. É um investimento de 300 milhões de reais.
E quanto tempo leva?
É um trabalho de 10 meses, mas a medida que os dados vêm começamos a certificar. Com isso vou analisar cerca de 70% da minha área. Hoje só analisei 20%. Já temos 11 descobertas, aquelas da Petrobras, e 52 lugares para perfurar. Em 8 delas vou furar já para produzir e transformar em reservas provadas P2.
A intenção é fazer um novo relatório com a certificadora?
Sim. Por exemplo, para a Namíbia já estou com uma certificação em andamento que começou em maio para 20 prospectos novos. E, para o Solimões, a ideia é uma nova certificação antes do final do ano.
E como é o relacionamento com o governo da Namíbia? O mercado tem questionado muito a segurança jurídica do país.
Eu era o principal interlocutor das companhias que prestei consultoria na Namíbia. Encontrei com os presidentes do país. O ex-presidente, Samuel Daniel Shafiishuna, até dormiu na minha casa aqui no Brasil. Ele era geólogo especializado em petróleo. Ele dividiu o sonho comigo de que a Namíbia será uma nova bacia de Santos.
Na Namíbia, existe um partido que liderou a independência, o SWAPO (Organização dos Povos do Sudoeste Africano), e que já está no quarto governo democrático. É um estado democrático parlamentarista espetacular. Eles nunca quebraram um contrato.
Nesta semana alguns analistas ficaram assustados com uma declaração que teria sido feita pelo ministro de Minas e Energia sobre a ideia de nacionalizar os recursos minerais do país. As ações da HRT e da Chariot até caíram forte no dia...
Isso não é verdade. A analista do Itaú BBA, Paula Kovarsky, foi leviana. Não foi nem o ministro, mas sim um adjunto. Ele mencionou apenas que, devido à riqueza do país, deveria pensar mais em trazer os recursos da mineração para o país com o aumento dos royalties. Mas é só um discurso! Ela extrapolou isso para petróleo e gás.
Só falta ela dizer que vão nacionalizar as cabras e os avestruzes porque a Namíbia é um dos maiores produtores. Uma coisa é pensar e outra é fazer. Não existe nada formal. Por isso estou indignado. Ela nem ligou aqui para saber a nossa opinião. Perguntei para o ministro. Vocês vão soltar algum comunicado? Ele respondeu: “Comunicado sobre o quê? Não tem nada”. A ação da Chariot estava muito alta, por isso corrigiu um pouco.
Nenhuma empresa ainda perfurou na Namíba. Por quê?
A Namíbia foi esquecida. O primeiro poço foi perfurado pela Chevron, há 23 anos, e descobriu o campo de Kudu. Na Namíbia não se perfura há 15 anos. Quem vai perfurar lá agora sou eu.