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Mercado espera convite para a última dança

Novo estímulo monetário nos EUA poderia dar um fôlego adicional para as ações

O dançarino de chapéu não é Ben Bernanke, mas vai precisar ser (Getty Images)

O dançarino de chapéu não é Ben Bernanke, mas vai precisar ser (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 26 de julho de 2012 às 19h12.

São Paulo - Pouco antes da crise financeira mundial de 2008, Chuck Prince, CEO do Citigroup, disse que “quando a música parar, em termos de liquidez, as coisas vão ficar complicadas. Mas enquanto a música estiver tocando, você tem que levantar e dançar. Nós ainda estamos dançando.” Cinco anos de crise depois, os investidores americanos esperam por mais uma dança, a ser conduzida por Ben Bernanke, presidente do Banco Central americano (Federal Reserve). A metáfora é utilizada por Neel Kashkar, chefe de ações globais da enorme gestora PIMCO para explicar a situação da economia e a ansiedade do mercado com a espera da ajuda do Fed.

Nos últimos três anos, os investidores em todo o mundo desfrutaram de fortes retornos desde o pior período da crise. O índice Dow Jones, por exemplo, saltou mais de 50% desde março de 2009. E boa parte dessa recuperação pode ser atribuída à massiva intervenção do Fed por meio de programas de afrouxamento monetário (QE1, QE2 – Quantative Easing - e Operation Twist). E assim a economia americana vem se mantendo em movimento. No momento atual os investidores vivem uma situação parecida. 

Segundo análise de Kashkari, estamos assistindo uma desaceleração mundial sincronizada. Nos Estados Unidos, os indicadores econômicos divulgados nos últimos meses foram decepcionantes. A Europa está consumida por seus desafios da dívida soberana, que está afetando o crescimento econômico da região. Até mesmo a China, que vinha crescendo em um ritmo alucinante, desacelerou significativamente. 

Mais uma dança

A crise global começa, agora, a afetar os lucros e as perspectivas das empresas. A cada novo indicador econômico decepcionante divulgado, investidores e analistas reduzem as projeções de lucro. E a recuperação espera-se que venha com um novo programa de afrouxamento monetário do Fed, o QE3. Ou, como quer a Pimco, a última dança. Contudo, para Kashkari essa pode não ser a solução. É verdade que os QEs melhoraram os indicadores econômicos temporariamente e elevaram os preços dos ativos, mas a liquidez sozinha não é capaz de gerar um crescimento real e sustentável em um contexto de um ciclo de desalavancagem secular, explica.


Para a PIMCO, há custos e riscos associados com um dinheiro tão fácil. Até mesmo o presidente do BC americano reconheceu algumas das consequências não intencionais da injeção de dinheiro no mercado. O problema é que esta liquidez tem que ir para algum lugar, e até agora todas as injeções monetárias do Fed parecem ter ido para mercados de risco, aumentando o preços, mas sem mudar os fundamentos econômicos: o desemprego continua alto (8,2%) e a inflação projetada para esse ano está entre 1,2% e 1,7%, abaixo da meta estabelecida de 2%.

Os custos para empréstimos corporativos e pessoais já estão perto de níveis recordes. O QE3 poderia abaixá-los ainda mais, porém não está claro o quanto isso poderia afetar o comportamento do consumidor e o crescimento econômico. No entanto, do ponto de vista dos investidores, suas carteiras de ações seriam beneficiadas pela nova ajuda financeira do Fed, que elevaria os preços dos ativos. Mas não sem riscos. Os principais riscos se referem à crise na Europa, que vai levar anos para se resolver, e à disfunção política em Washington relacionada ao penhasco fiscal.

O que fazer?

Mesmo assim, Neel Kashkar, acredita que no longo prazo nós podemos encarar a alta inflação como consequência do déficit de economias desenvolvidas e das agressivas políticas monetárias por todo o mundo. Não se sabe quando esse cenário inflacionário vai se firmar, então para aqueles investidores que podem aguentar a volatilidade do mercado de ações, o melhor é continuar investindo em ações de alta qualidade - como as de empresas as quais os consumidores recorrem para economizar dinheiro e empresas que vendem produtos que as pessoas precisam comprar mesmo com a economia enfraquecida.

Enquanto Bernanke não convida os investidores para o baile – a expectativa é de que isso aconteça na próxima reunião do BC em 13 de setembro – o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, tenta salvar os mercados. Conhecido como Super Mario, justamente por ter evitado a quebra do seu país em 1990, Draghi salvou o dia ao dizer para quem quisesse ouvir que está preparado para salvar o euro. "Dentro do nosso mandato, o BCE está pronto para fazer o que for preciso para preservar o euro. E acredite em mim, será suficiente", afirmou Draghi na quinta-feira. O mercado adorou.

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