O ministro da Fazenda, Guido Mantega: o mercado enfrenta suas medidas (Renato Araújo/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 20 de janeiro de 2011 às 06h24.
Investidores internacionais fazem apostas no ritmo mais rápido em quatro meses na valorização do real, no mesmo momento em que o Banco Central volta a subir o juro básico após uma pausa de seis meses.
O número de apostas na valorização do real subiu em 36.820 na semana até o dia 18 de janeiro, o maior aumento desde o período encerrado em 21 de setembro. Elas estão agora em 31.681, segundo dados da BM&FBovespa SA em São Paulo. Em 11 de janeiro, o número de apostas na queda do real frente o dólar superava o de apostas de alta em 5.139, a maior quantia em seis meses.
A retomada na confiança de investidores estrangeiros no real sinaliza que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pode ter dificuldade para frear a alta do real, que já dura dois anos, em meio ao início de um ciclo de aperto monetário para conter a inflação. O presidente do BC, Alexandre Tombini, elevou a Selic ontem em 0,5 ponto percentual, aumentando o retorno para quem compra títulos de renda fixa no País, que tem a maior taxa de juros reais entre os países do G-20.
“O Banco Central e o governo têm objetivos diferentes”, disse Paul Biszko, estrategista de mercados emergentes do Royal Bank of Canada, em Toronto, numa entrevista por telefone. “Eles estão numa situação difícil. O Brasil continua inundado por fluxos diversificados de capital. Tudo o que eles podem fazer é desacelerar o ritmo da valorização.”
O real subiu em seis dos últimos sete dias e se fortaleceu 39 por cento desde o início de 2008 contra o dólar, o segundo maior ganho entre as 16 moedas mais importantes acompanhadas pela Bloomberg, atrás apenas do dólar australiano.
Lucro dos exportadores
A disparada da moeda brasileira reduz o lucro dos exportadores ao tornar seus produtos mais caros em dólar. A valorização também ajudou a aumentar o déficit anual em transações correntes do País para um recorde de US$ 49 bilhões.
Na tentativa de segurar o real, o governo triplicou o Imposto sobre Operações Financeiras nas compras de títulos de dívida brasileira por estrangeiros no mercado local, adotou um depósito compulsório sobre posições vendidas em dólar e autorizou o Fundo Soberano a comprar dólares no mercado futuro.
Na semana passada, o BC voltou a fazer apostas contra o real no mercado futuro, por meio do leilão de US$ 1 bilhão em contratos de swap cambial reverso. Mantega disse a jornalistas em 14 de janeiro que poderia tomar mais medidas se necessário.
Nenhuma das medidas até agora foi suficiente para enfraquecer o real, disse Roberto Melzi, estrategista do Barclays Capital em Nova York.
Fluxos ‘maciços’
“Os fluxos que estão entrando são maciços”, disse Malzi. “De maneira geral, há um limite” sobre o que pode ser feito, disse.
Investidores vieram em bando para o País em busca de retornos maiores, em meio a juros próximos de zero nos Estados Unidos, Japão e União Europeia. Os estrangeiros aplicaram US$ 62 bilhões em ações e títulos de renda fixa brasileiros nos primeiros 11 meses do ano passado, contra US$ 46 bilhões em 2009, segundo dados do BC.
Em sua primeira reunião de política monetária como presidente do BC, Tombini elevou a Selic para 11,25 por cento. A decisão do Comitê de Política Monetária ficou de acordo com a previsão mediana numa sondagem da Bloomberg com 51 economistas. As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro mostram que os operadores esperam que a Selic suba mais 200 pontos-base para 13,25 por cento até o fim do ano, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Em 3 de janeiro, esses contratos sinalizavam expectativas de aumento da taxa para 12,75 por cento.
Outras nações em desenvolvimento também aumentaram esforços para limitar a valorização de suas moedas. O banco central do Chile tem um programa de US$ 12 bilhões para comprar dólares no mercado à vista. No mês passado, Coreia do Sul e Taiwan apertaram os controles de capital para ajudar a segurar a entrada de recursos externos.