Mercados

Mercado antevê os riscos do pós-Dilma

Chances de impeachment aumentaram, mas os riscos ainda assim são altos devido a instabilidade política que pode se seguir


	Protesto na avenida Paulista: possibilidade de destituição da presidente deixa analistas otimistas, mas riscos não podem ser descartados.
 (REUTERS/Paulo Whitaker)

Protesto na avenida Paulista: possibilidade de destituição da presidente deixa analistas otimistas, mas riscos não podem ser descartados. (REUTERS/Paulo Whitaker)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de março de 2016 às 21h28.

Apesar dos protestos históricos neste domingo contra o governo Dilma, o mercado faz uma pausa no rali recente dos ativos brasileiros, que levou o dólar a cair contra o real para abaixo do nível vigente antes de o país perder o grau de investimento.

Analistas consideram que a chance de impeachment da presidente Dilma Rousseff aumentou, ao mesmo tempo em que reconhecem que os riscos seguem elevados, mesmo diante da hipótese de um novo governo mais comprometido com as reformas.

“As expectativas fizeram o mercado melhorar muito, mas o País ainda tem um longo caminho a percorrer”, diz Jayro Rezende, gerente de tesouraria do Banco da China.

Para ele, os protestos devem manter o governo concentrado em criar ”barreiras de proteção” contra o impeachment, o que deixa as reformas em segundo plano.

”Para termos um rali de mercado consistente, é preciso ver uma melhora de fundamentos também consistente”, afirma Rezende.

A consultoria Eurasia disse em relatório hoje que os protestos maciços deste domingo podem levar Dilma a ser afastada mais rápido do que o previsto. Um impeachment poderia ocorrer ainda em maio, diz a consultoria americana.

O presidente da Câmara Eduardo Cunha, ele próprio tendo o posto ameaçado, teria previsto a votação do impeachment para ocorrer em 45 dias.

Se o enfraquecimento de Dilma é claro, o mesmo não se pode dizer das perspectivas de um eventual novo governo. O vice Michel Temer, que será o novo presidente em caso de impeachment, tem a Lava Jato como seu ”calcanhar de Aquiles”, diz a Eurasia.

A consultoria não concorda com a avaliação de que, caso Dilma caia, o juiz Sérgio Moro se tornará menos agressivo em suas investigações.

Um eventual governo Temer, segundo a Eurasia, estaria sujeito a investigações que poderiam erodir seu capital político, dificultando a aprovação de reformas.

O senador Aécio Neves, que sofreu vaias ontem ao participar dos protestos, também tem aparecido em citações nas delações premiadas da Lava Jato.

Para Rezende, do Banco da China, o fato de ninguém estar aparecendo como um ”representante legítimo” da sociedade brasileira também joga contra a euforia recente do mercado.

Sidnei Nehme, diretor da corretora NGO, vê a queda recente do dólar como exagerada. Para ele, um dos riscos remanescente é o de o governo reagir às ameaças adotando medidas inconsistentes, como o uso de parte das reservas cambiais para incentivar a economia. "Se o governo gastar as reservas, estará enfraquecendo o escudo do País.”

Além disso, as ameaças de denúncias atingindo também figuras da oposição mostram que os riscos vão permanecer mesmo que o impeachment de Dilma se confirme.

”Os protestos foram significativos, mas não vai chover dólar no Brasil. Mesmo que a Dilma saia, não haverá uma solução imediata para os problemas econômicos. O quadro é muito complexo”, diz o diretor da NGO.

Acompanhe tudo sobre:Governo DilmaImpeachmentMercado financeiroOperação Lava JatoPolítica no Brasil

Mais de Mercados

Casas Bahia reduz prejuízo e eleva margens, mas vendas seguem fracas; CEO está confiante na retomada

Tencent aumenta lucro em 47% no 3º trimestre com forte desempenho em jogos e publicidade

Ações da Americanas dobram de preço após lucro extraordinário com a reestruturação da dívida

Na casa do Mickey Mouse, streaming salva o dia e impulsiona ações da Disney