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Mercado de açúcar está em momento crucial

São Paulo - O mercado global de açúcar está em um momento crucial no qual as produções futuras no hemisfério norte dependem de um bom clima no curto prazo para poderem trazer algum alívio à situação de elevada demanda do Brasil, disse à Reuters o analista Jonathan Kingsman. O analista, um dos mais respeitados no […]

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

São Paulo - O mercado global de açúcar está em um momento crucial no qual as produções futuras no hemisfério norte dependem de um bom clima no curto prazo para poderem trazer algum alívio à situação de elevada demanda do Brasil, disse à Reuters o analista Jonathan Kingsman.

O analista, um dos mais respeitados no mercado e fundador da Kingsman SA, empresa de consultoria sediada em Lausanne, acredita que os problemas nos portos brasileiros com atrasos para o embarque de açúcar devido à elevada procura podem se arrastar pelo restante da safra do centro-sul se estiagens reduzirem a produção em alguns países importantes.

"Eu chamaria o momento de ponto crucial, porque em várias partes do mundo lavouras estão ficando muito dependentes do clima. Há seca na Europa, na Ásia, então se isso afetar a produção poderemos ver um aperto no mercado de açúcar e os preços poderiam subir muito", disse Kingsman à Reuters na noite de terça-feira, após participar de um encontro com traders e executivos de usinas em um hotel em São Paulo.

"Se não afetar, se chover, se o tempo ficar bom, então nada acontece", afirmou, acrescentando que nessa situação os futuros do açúcar bruto em Nova York deveriam permanecer no intervalo entre 15 e 18 centavos de dólar por libra-peso. "Eu acho que há mais potencial para subir do que para cair, mas vai depender do clima".

Jonathan Kingsman, ex-trader da Cargill, também foi operador de futuros na ContiCommodity e na Paine Webber, antes de abrir sua própria corretora em 1990, que posteriormente se tornou uma consultoria que aconselha grandes grupos industriais, bancos, tradings e fundos de hedge.

Portos brasileiros

O Brasil vai embarcar um volume recorde de açúcar em julho, acima de 2,6 milhões de toneladas, segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).

A grande demanda, com muitos países buscando recompor estoques, está causando grandes atrasos no carregamento de navios, que em alguns casos estão tendo de esperar até 40 dias para receber o produto no porto de Santos, o maior do país.

A situação gerou novas críticas sobre a gestão governamental no setor de infraestrutura. Kingsman, no entanto, evitou culpar alguém pelo que está acontecendo, apesar de aconselhar os envolvidos no setor a apressarem investimentos visando as próximas temporadas.

"Eu acho que essa demanda é excepcional. Os portos estão fazendo um trabalho tremendo de movimentar todo esse volume. Para ser honesto, ninguém viu essa situação se formando e eu acho que seria errado criticar alguém pelo que está acontecendo", afirmou o analista.

"Agora, para o futuro, o que vai acontecer é que o mundo se tornará cada vez mais dependente do açúcar brasileiro. Esse é o único lugar do mundo que realmente tem potencial para elevar a produção. Então o país precisa investir para elevar a capacidade de exportar açúcar".

De acordo com dados da consultoria Kingsman SA, o Brasil passou de uma fatia de 20 por cento no mercado global de açúcar em 2000 para mais de 50 por cento nesse ano.


Rerorma do setor de açúcar na Índia

Se o clima é o principal foco do mercado no curto prazo, Kingsman avalia que a eventual liberalização do setor de açúcar na Índia vai atrair a atenção nos meses mais à frente.

O consultor falou em 70 por cento de chance de o governo indiano seguir com a idéia de mudanças no setor, com redução da participação do Estado, e acredita que isso poderá ocorrer em um prazo de 5 a 6 meses.

Para ele, a eventual reforma poderá consolidar a Índia como um pequeno importador líquido do produto.

"Depende da forma final da liberalização. Se produtores de cana indianos receberem cerca de 140, 150 rúpias (por 100 kg) então muitos deles vão se dedicar a outras safras. Então podemos imaginar uma situação após a reforma em que a competição por terra na Índia faça o país se tornar um pequeno importador líquido do produto", declarou.

A consultoria Kingsman deverá divulgar uma nova estimativa para a produção global de açúcar em cerca de seis semanas. Atualmente ela estima a produção na Índia em 2010/11 (abril-março) em 24 milhões de toneladas, enquanto projeta o volume no centro-sul do Brasil em 34 milhões de toneladas.

"É extremamente difícil de projetar a produção indiana. O consenso é de 25 milhões de toneladas, mas o intervalo vai de 20 a 30 milhões", afirmou o analista, acrescentando que se o número final vier abaixo de 24 milhões, o país deverá importar açúcar no ano que vem. Se vier acima de 27, provavelmente exportará.

Para o centro-sul brasileiro, o clima seco, apesar de acelerar o processamento, poderá reduzir o volume final de cana.

Kingsman está mantendo o número de 595 milhões de toneladas para a safra da região, mas disse que alguns no mercado já estão reduzindo para 580 ou 575 milhões de toneladas.

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