Honda e Nissan buscam união estratégica para enfrentar desafios no mercado global, mas enfrentam sobreposição de operações e incertezas financeiras. (Tomohiro Ohsumi/Getty Images)
Redator na Exame
Publicado em 27 de dezembro de 2024 às 10h46.
A fusão entre a Honda e a Nissan pode ser um dos movimentos mais arriscados da história recente do setor automotivo japonês. Embora a junção de recursos possa oferecer à Honda uma escala necessária para competir globalmente, a parceria também revela inúmeras sobreposições e um histórico financeiro problemático por parte da Nissan.
A combinação é amplamente vista como uma resposta à rápida ascensão dos veículos elétricos na China e na Europa, além da crescente popularidade de modelos híbridos em mercados globais, segundo uma reportagem da Bloomberg.
O CEO da Honda, Toshihiro Mibe, destacou que a recuperação da Nissan é uma condição indispensável para qualquer colaboração significativa. "Precisamos trabalhar juntos para enfrentar as ameaças globais, especialmente da China", disse ele em um evento recente. Com a inclusão da Nissan, a Honda ganharia acesso a uma vasta rede de fábricas, propriedade intelectual e uma força de trabalho significativa, o que pode ajudar a reduzir custos em pesquisa e desenvolvimento e aumentar a eficiência das cadeias de suprimentos. De acordo com Neal Ganguli, da AlixPartners, "a escala é uma vantagem clara, mas ambas as empresas precisam otimizar suas capacidades".
A situação da Nissan é especialmente grave na China, onde a produção anual caiu para cerca de 780 mil unidades, metade do seu pico anterior. Já a Honda, embora em melhor forma financeira, enfrenta desafios para expandir sua participação em mercados importantes, como os Estados Unidos, onde os consumidores têm favorecido SUVs e híbridos.
A fusão também levanta questões sobre as áreas em que as duas montadoras podem complementar seus negócios. A Nissan, pioneira no mercado de veículos elétricos com o Leaf em 2010, perdeu terreno significativo para concorrentes globais. No entanto, modelos como o Sakura, atualmente o carro elétrico mais vendido no Japão, mostram que a empresa ainda pode competir nesse segmento. Enquanto isso, a Honda planeja dobrar suas vendas de veículos híbridos para 1,3 milhão de unidades anuais até 2030, alavancando duas novas plataformas de produção previstas para 2026.
Analistas também destacam que a parceria pode fortalecer ambas as marcas no sudeste asiático, onde a Nissan tem forte presença e a Honda domina o mercado de motocicletas. A inclusão da Mitsubishi Motors, conhecida por seus SUVs e híbridos populares em mercados emergentes, também é vista como um ponto positivo. Contudo, o excesso de capacidade em mercados como a China representa um desafio que precisará ser resolvido antes de avanços mais concretos.
A intervenção do governo japonês é outro aspecto importante desse possível acordo. O Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão teria acelerado as conversas entre Honda e Nissan após rumores de que a taiwanesa Foxconn demonstrou interesse em adquirir a Nissan. Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan exilado no Líbano, comentou que a fusão parece mais um movimento político do que uma decisão de negócios. "Se o governo está colocando controle acima da performance, as chances de sucesso são reduzidas", afirmou Ghosn.
A situação financeira da Nissan é outra preocupação. Nos Estados Unidos, quase 40% das concessionárias da empresa relataram prejuízos no primeiro semestre de 2024, devido a estoques de modelos desatualizados que não atraem compradores. Embora a inclusão de novos híbridos da Honda possa melhorar esse cenário, levará anos para que a parceria produza resultados tangíveis.
A integração entre Honda e Nissan, caso aprovada, seria administrada por uma holding prevista para ser listada em agosto de 2026. Especialistas estimam que levará de três a cinco anos para que os resultados dessa fusão se tornem evidentes. Nesse período, ambas as empresas precisarão enfrentar uma série de desafios, desde a otimizção de capacidade produtiva até a integração de suas culturas organizacionais.
Enquanto isso, o mercado automotivo global continua a evoluir rapidamente, com a China liderando a corrida dos veículos elétricos e novas tecnologias redefinindo as preferências dos consumidores. Para a Honda, a fusão com a Nissan representa uma chance de ganhar escala e competir em um cenário cada vez mais desafiador. No entanto, sem soluções claras para os problemas de sobreposição e excessos de capacidade, a parceria corre o risco de se tornar um peso em vez de um impulso.
Com tantos fatores em jogo, o sucesso dessa fusão dependerá de como as duas empresas abordarão seus desafios internos e externos, e de como o mercado responderá à nova dinâmica entre essas icônicas montadoras japonesas.