Segundo a Marfrig, o impacto da decisão russa é limitado, já que o país representa 4,7% das vendas da empresa, que possui pauta diversificada de exportação (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 3 de junho de 2011 às 08h41.
Nova York e São Paulo - O embargo da Rússia à carne brasileira levou à desvalorização dos títulos da Marfrig Alimentos SA e da JBS SA vendidos no último mês.
Os bônus em dólar da Marfrig registraram ontem a maior queda entre as notas de empresas brasileiras, resultando num salto de 16 pontos-base no rendimento, para 8,72 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O segundo maior frigorífico da América Latina vendeu US$ 750 milhões em títulos no dia 4 de maio. O rendimento dos papéis emitidos pela JBS, maior produtora mundial de carne bovina, subiu 11 pontos-base, ou 0,11 ponto percentual, para 7,52 por cento, o maior nível desde a emissão em 20 de maio.
A Rússia, maior mercado para as exportações brasileiras de carne, proibiu a importação do produto de 85 plantas do País devido a preocupações sanitárias. Foi a segunda vez este ano que o governo russo anunciou medidas contra os frigoríficos brasileiros. Em abril, foi restringida a compra de carne bovina e suína de oito plantas brasileiras.
“Esta é uma questão meio recorrente”, disse Luz Padilla, que administra cerca de US$ 400 milhões em dívida, incluindo títulos da Marfrig e da JBS, como chefe do fundo de renda fixa de mercados emergentes da DoubleLine Capital LP em Los Angeles. “Levando em consideração o quanto isso se repete, obviamente não é positivo no fim das contas”.
O rendimento médio de bônus corporativos de mercados emergentes estava inalterado ontem a 5,65 por cento, de acordo com o JPMorgan Chase & Co. A taxa da dívida externa do governo brasileiro em dólares com vencimento em 2019 se manteve próxima ao menor nível em seis meses de 3,65 por cento.
Manter exportações
O embargo se aplica a operações da Marfrig, JBS e BRF - Brasil Foods SA, a maior exportadora mundial de frango. A Rússia restringiu temporariamente as compras, a partir de 15 de junho, de unidades no Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná, disse a autoridade sanitária russa em comunicado publicado ontem em seu website.
Marfrig e JBS dizem que planejam manter suas exportações para a Rússia a partir de unidades localizadas em áreas não afetadas pela proibição, de acordo com comunicados enviados ao mercado ontem. A JBS afirma que pretende solucionar quaisquer problemas que possam ter causado a suspensão pelos russos.
Representantes de Marfrig e JBS, que pediram para não serem identificados em obediência às políticas internas, se recusaram a fazer comentários adicionais para esta reportagem. Um representante da Brasil Foods, que também pediu para não ser identificado de acordo com a política da empresa, se recusou a fazer comentários.
O rendimento dos bônus da Brasil Foods com vencimento em 2020, no total de US$ 750 milhões, avançou dois pontos-base para 5,74 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg.
‘Significantemente impactadas’
A Marfrig afirmou ontem em comunicado que a Rússia representa 11 por cento de suas exportações e 4,7 por cento das vendas.
“Não achamos que as exportações correspondentes delas para aquele país serão significativamente impactadas devido a suas respectivas diversificações geográficas de produção no Brasil e no exterior”, Ruth Mazzoni, analista de dívida do Standard Bank, afirmou em um relatório de ontem.
O embargo não vai afetar a classificação de crédito B+ da Marfrig, disse Viktoria Krane, analista da Fitch Ratings.
“Mesmo se todas as unidades fossem afetadas, o impacto sobre os resultados seria limitado”, disse Krane.