Bradesco: resultado do banco segue pressionado pela inadimplência (Eduardo Frazão/Exame)
Repórter de Invest
Publicado em 4 de agosto de 2023 às 15h21.
Última atualização em 4 de agosto de 2023 às 15h49.
O Bradesco está mirando no copo meio cheio. O banco chega aos 80 anos em meio a uma longa batalha pela recuperação dos patamares históricos de rentabilidade. Ainda assim, a gestão vê uma luz no fim do túnel com a queda de juros anunciada esta semana pelo Banco Central, a primeira de um ciclo que pode incentivar a economia brasileira.
“Estamos observando um cenário de redução já contratada da taxa de juros, com melhora da expectativa dos agentes econômicos, [com projeção de] crescimento da carteira de crédito e redução de índices de inadimplência. Isso nos mostra um quadro de melhoria substancial ao longo do segundo semestre de 2023 e também para o ano de 2024”, disse o CEO do Bradesco, Octavio de Lazari, em coletiva com jornalistas nesta sexta-feira, 4.
Com a Selic caindo, é possível que o Bradesco veja a recuperação de três fatores que estão puxando para baixo sua atividade principal. O primeiro é a inadimplência, que pode voltar ao controle conforme as taxas diminuem. Se cair, o indicador leva junto as provisões com devedores duvidosos (PDDs), que atualmente são uma grande pressão nos números da empresa. Isso abre espaço para crescimento da carteira de crédito, turbinando a última linha do balanço.
Por enquanto, o lucro líquido segue caindo: houve uma baixa de 35,8% no segundo trimestre na comparação anual, para R$ 4,518 bilhões. Já o retorno sobre patrimônio líquido (ROE) do banco, que indica a capacidade de rentabilizar seu capital, ficou em 11,1% – ainda longe do patamar histórico de 18%.
Mesmo que fraco, o balanço ficou em linha com o consenso de mercado da Bloomberg, que estimava um lucro de R$ 4,484 bilhões. Porém, a empresa só conseguiu ficar dentro das estimativas graças a um salto no resultado de seguros, que subiu 30% ano contra ano e apresentou uma rentabilidade de 25%.
No crédito, seu core business, o Bradesco continua patinando. A carteira de crédito expandida do banco chegou aos R$ 868,7 bilhões, aumento de 1,6% em 12 meses. Porém, o número representa uma queda de 1,2% na comparação trimestral, mostrando que a retomada da concessão ainda não está a pleno vapor.
Para somar, a inadimplência de longo prazo subiu de 3,5% para 5,9%. Deterioração também nas provisões para devedores duvidosos, que avançaram 94,2% frente ao mesmo período do ano passado, para R$ 10,31 bilhões.
O horizonte segue nebuloso, tanto que o Bradesco revisou para baixo o guidance da carteira de crédito para 2023. Antes, o banco esperava um crescimento da carteira de 6,5% a 9,5% no ano. A projeção agora foi reduzida para um intervalo inferior, entre 1% e 5%.
O tamanho do desafio contrasta com o otimismo da gestão com os próximos meses. Para analistas, é um sinal de que o Bradesco pode, sim, se recuperar – mas em um ritmo ainda mais lento do que o esperado.
“O início do ciclo de corte de juros e o desempenho superior das ações em relação aos pares nos últimos meses criaram otimismo de que a rentabilidade do banco poderia retornar rapidamente aos níveis históricos de 18%. Mas quando o Bradesco reportou tal ROE pela última vez, no 2º trimestre de 2022, o Ebitda era duas vezes maior”, avaliaram os analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) em relatório.
Os analistas do Itaú BBA, por sua vez, alertaram que o Bradesco pode não ter um bom desempenho ao longo do resto do ano. “A nova projeção sugere lucros estagnados no segundo semestre em comparação com os níveis atuais”, disseram.
A retomada do crédito (e do lucro) está ligada ao movimento inadimplência. Lazari não quis bater o martelo e dizer que o banco já chegou a um pico, mas defendeu que o indicador atingiu uma certa estabilidade, principalmente nas safras recentes, de 15 a 90 dias. A inadimplência de curto prazo mais saudável reflete a política conservadora, que aumentou o foco em produtos com garantias.
O desempenho, segundo o CEO, deixa o Bradesco confortável em aumentar a originação de crédito. A concessão de novos empréstimos, no entanto, não deve atingir todos os segmentos. Micro e pequenas empresas, além de pessoas físicas, principalmente de baixa renda, não terão um crescimento expressivo na concessão. O cálculo aqui é não aumentar a inadimplência da carteira crescendo em segmentos de maior risco.
O banco não quer repetir o erro do último ciclo de queda nos juros. Em 2020, quando a Selic chegou à mínima histórica de 2%, o Bradesco concedeu mais crédito do que deveria. E foi esse descompasso que colocou o banco na espiral negativa em que está até hoje.