Mina da Vale: nova conversão terá de ser submetida ao crivo dos acionistas titulares de ações preferenciais em uma assembleia especial (Germano Lüders/Exame)
Rita Azevedo
Publicado em 19 de outubro de 2017 às 15h56.
Última atualização em 19 de outubro de 2017 às 16h06.
São Paulo -- A Vale informou ao mercado ontem à noite sobre a aprovação, em Assembleia Extraordinária, da proposta de conversão de todas as ações preferencias (PN, sem voto) classe “A” em ações ordinárias da empresa, na proporção de 0,9342 ação ON por PNA, mesma proporção do movimento de conversão anterior.
A medida agradou analistas, que veem o avanço do processo como um indicador de melhora de governança da empresa, reduzindo seu desconto em relação aos seus pares. A Vale divulgou hoje que a produção de minério de ferro foi recorde no terceiro trimestre. Apesar das boas notícias, a ação ON da mineradora cai 0,6%, refletindo o mau humor do mercado em geral no Brasil e no exterior. O Índice Bovespa recua 1,49%, para 75.448 pontos, enquanto o Euro Stoxx 50 cai 0,53%. O Dow Jones, em Nova York, recua 0,23%.
A empresa também informou sobre o Direito de Retirada. Apenas os acionistas das ações PNA dissidentes da deliberação da Assembleia Especial que aprovou a Conversão das Ações Remanescentes terão o direito de retirar-se da companhia. O valor patrimonial a ser pago ficou em R$ 24.26 por ação, calculado com base no último balanço aprovado pela Assembleia Geral Ordinária de 20 de abril de 2017, levantado em 31 de dezembro de 2016.
A aprovação da conversão permitirá que a Vale antecipe sua entrada no segmento Novo Mercado, nível de mais alta governança corporativa da B3, inicialmente esperada para 2019, diz o BB Investimentos em relatório aos investidores. Ao se tornar uma corporação sem controle definido, o banco acredita que o desconto existente com relação aos seus pares internacionais diminua, considerando que um dos pontos questionados pelos investidores sobre a interferência em sua governança deva ser minimizado.
O processo deve também aumentar a liquidez das ações da empresa e melhorar o acesso ao mercado de capitais. Além disso, ao ter o controle diluído, a Vale aumentará a influência do Corpo Diretivo na administração da companhia, diretoria essa que deverá ser composta por especialistas com melhor visão e experiência de mercado e menos interferência de um ou outro controlador.
Para o analista Gabriela Cortez, a Vale está se consolidando como líder na indústria do minério de ferro, aproveitando-se do momento positivo em que atualmente se encontra. O processo de entrada no Novo Mercado agregará ainda mais à tese de investimentos da companhia, com uma melhora na sua governança ganhando espaço. “Não obstante, operacionalmente, lembramos que o Sistema Norte operará com capacidade de 230 mtpa em 2020, quando o S11D estiver operando totalmente”, diz a analista em relatório.
O projeto deve ser entregue dentro de cronograma e abaixo do orçamento inicial de US$ 19,7 bilhões (atualmente em US$ 14,5 bi). A nova unidade será uma das mais eficientes e flexíveis do mundo. Adicionalmente, com a ocupação da capacidade (ramp up) de S11D, o BB Investimentos espera mais redução de custos e ganhos de margens por vir, fortalecendo a geração de caixa, diminuindo a alavancagem e aumentando os resultados.
A mina conta com um minério de ferro de altíssima qualidade (quase toda a produção do sistema já entrega um minério com teor de 65%) e uma estrutura bastante enxuta que faz dela uma das minas com um dos menores custo. “Dito isto, reafirmamos nossa visão positiva sobre a companhia, mantendo nosso preço-alvo 2018 em BRL 43,00 (USD 12,70) com recomendação Outperform (compra)”, diz a analista.
A notícia da proximidade com o Novo Mercado deve favorecer as ações da Vale, juntamente com a do aumento de produção no terceiro trimestre, diz a corretora Coinvalores. O desempenho operacional da mineradora seguiu sólido no terceiro trimestre. A produção consolidada de minério de ferro foi 3,6% maior do que a registrada no trimestre anterior, devido ao aumento de produção no Sistema Norte e o ramp up do S11D, onde há maior eficiência operacional, e a redução na produção do Sistema Sul e Sudeste, dado a estratégia atual de maximizar as margens. Dessa forma, o teor médio de ferro apresentou ligeira melhora, saindo dos 63,8% do 2T para 64,1% agora.
Já para o Itaú, a notícia sobre o Novo Mercado é marginalmente positiva, pois confirma que a governança da empresa atingirá os mais altos padrões brasileiros. O banco mantem a recomendação de compra (outperform) com preço justo para o fim de 2018 de R$ 41,00.
A Vale é uma das empresas preferidas do universo de cobertura da Itaú Corretora, considerando a dinâmica de cortes de custos, melhora na governança corporativa e o cenário favorável com o preço do minério de ferro no patamar atual. Nos últimos três pregões, as ações apresentam quedas consecutivas, que o banco vê como um ponto de entrada favorável para uma operação de curto prazo.
A corretora espera também resultados fortes no terceiro trimestre, beneficiados por melhores preços realizados do minério de ferro (US$ 65/tonelada vs. US$ 50/tonelada no segundo trimestre), menores custos de caixa e resultados mais fortes da operação de metais básicos. A empresa divulgará seus resultados no dia 26 de outubro, e os analistas do Itaú projetam um lucro antes de impostos, depreciação e amortização (Lajida ou Ebitda) de US$ 4,3 bilhões.
Além dos indicadores fundamentalistas, de acordo com a análise gráfica, com as quedas recentes, a ação aproximou-se do suporte em R$ 31,50, que pode ser um ponto de retorno para ação nos próximos dias. Neste caso, a ação VALE3 poderá buscar as resistências em R$ 33,65, R$ 34,30 e R$ 35,70.
Este conteúdo foi originalmente publicado no site Arena do Pavini.