Investidores acham que a Lupatech vai dar calote em seus papéis denominados em dólar desde setembro de 2010 (Eneida Serrano)
Da Redação
Publicado em 24 de novembro de 2011 às 08h01.
Nova York - Investidores estão apostando que a Lupatech SA vai se tornar a primeira empresa brasileira a dar calote em seus papéis denominados em dólar desde setembro de 2010. A empresa solicitou aos detentores de seus títulos perpétuos mudanças nos covenants.
O valor de face dos US$ 275 milhões em bônus perpétuos da empresa sediada em Caxias do Sul, com cupom de 9,875 por cento, desabou 11,6 centavos de dólar ontem para seu menor valor em registro de 36,5 centavos. Com isso, o rendimento dos papéis deu um salto de 651 pontos-base para 27,04 por cento. O rendimento médio de dívida global em situação de estresse subiu 20 pontos- base ontem para 18,49 por cento, de acordo com dados do Bank of America Corp.
As opções de financiamento da maior fornecedora de equipamentos e serviços para o setor de petróleo do país estão diminuindo. Diante do adiamento de encomendas da maior cliente, a Petróleo Brasileiro SA, a Lupatech disse ontem em comunicado que quer permissão dos detentores de títulos para alterar os limites contratuais dos papéis em dólar, já que colocou à venda uma unidade que serve como garantia.
“Após a crise em 2008 e 2009, a Petrobras, que representa 70 por cento das vendas, começou a adiar e cancelar pedidos, então a Lupatech, que tem custo fixo elevado, enfrentou uma queda dramática nas margens, mas continuou com a dívida referente a todas as aquisições”, disse Filippe Goossens, analista da Moody’s Investors Service. “Isso os colocou numa posição insustentável de alavancagem e liquidez”.
Os títulos da Lupatech pagam 2.228 pontos-base, ou 22,28 pontos percentuais, a mais do que a dívida do governo brasileiro com vencimento em 2041, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
‘Significativo’
Em setembro de 2010, o frigorífico Independência SA deu calote em US$ 165 milhões em bônus, tornando-se a última emissora brasileira a deixar de honrar seus pagamentos internacionais.
A chance de reestruturação “é significativa”, disse Goossens em entrevista por telefone de São Paulo. Os títulos da Lupatech têm classificação de risco Caa3 na escala da Moody’s, ou nove níveis abaixo do grau de investimento.
Os lucros da Lupatech desabaram após a empresa ter realizado 17 aquisições entre 2007 e 2010, em antecipação ao aumento da demanda com o desenvolvimento dos campos da camada pré-sal, a maior descoberta de petróleo no Ocidente em aproximadamente três décadas.
A Lupatech disse em comunicado que está tentando vender a unidade Steelinject Injeção de Aços Ltda. e fazer mudanças nos covenants para ter flexibilidade para vender outros ativos no futuro. O período para aprovação da solicitação começou ontem e termina em 13 de dezembro. Os detentores de dívida que concordarem com a mudança vão receber um pagamento em dinheiro de US$ 2,50 para cada US$ 2.000 em títulos.
A Steelinject representa menos de 1 por cento dos R$ 1,5 bilhão em ativos totais da empresa, segundo comunicado.
A permissão para venda da Steelinject não vai impactar o nível de garantia dos títulos, de acordo com outro comunicado por e-mail da Lupatech. A companhia disse ter “total” apoio de seus principais acionistas, a Fundação Petrobras de Seguridade Social - Petros e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, nos esforços para melhorar a estrutura de capital e a eficiência das operações.
O BNDES deverá tomar providências antes que a Lupatech dê calote, já que detém 11 por cento de participação numa empresa que é estratégica para os planos do governo de desenvolver o setor de petróleo e gás, disse Klaus Spielkamp, operador de renda fixa da Bulltick Capital Markets.
“O BNDES procuraria alguma forma de salvar a Lupatech, provavelmente por meio de financiamento de longo prazo em vez de aumento de participação”, Spielkamp afirmou em entrevista por telefone de Miami. “Os títulos podem ter chegado ao fundo do poço abaixo de 40 centavos de dólar, mas ainda pode demorar para haver melhora.”
As assessorias de imprensa do BNDES e da Petros, ambas no Rio de Janeiro, se recusaram a fazer comentários para esta reportagem.