A taxa dos títulos perpétuos da Lupatech está em 13,33 por cento, apontando queda de 109 pontos-base nos últimos 30 dias (Germano Lüders/EXAME)
Da Redação
Publicado em 11 de junho de 2012 às 08h25.
Rio de Janeiro/Nova York - Os títulos em dólar da Lupatech SA estão superando papéis de outras companhias em dificuldade com especulações de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social pode apoiar a empresa, dados os sinais de que o plano de venda de ações corre risco de fracassar.
A taxa dos títulos perpétuos da Lupatech está em 13,33 por cento, apontando queda de 109 pontos-base nos últimos 30 dias, e fica 1.081 pontos-base acima dos títulos do Tesouro americano com vencimento em 2042, segundo a Trace. A empresa começou a ser negociada em níveis de distress, ou altíssimo risco, quando os papéis passaram a render mais de 1.000 pontos-base acima dos Treasuries, em 30 de abril. O rendimento médio de dívida de altíssimo risco em todo o mundo caiu 1 ponto-base, ou 0,01 ponto percentual, no mesmo período para 16,61 por cento, segundo dados do Bank of America Corp.
Investidores estão apostando que o BNDES vai aumentar seu apoio à Lupatech, que fornece equipamentos para projetos de perfuração em grandes profundidades tocados pela Petróleo Brasileiro SA, em meio a especulações de que a empresa não vai conseguir levantar R$ 700 milhões com uma venda de ações. O governo vem ajudando a Lupatech desde dezembro, quando o BNDES e um fundo de pensão estatal concordaram comprar juntos R$ 300 milhões em novas ações.
“Há a expectativa de continuidade no apoio do governo”, disse Alfredo Viegas, diretor executivo de mercados emergentes na Knight Capital, em entrevista por telefone de Greenwich, no estado americano de Connecticut. “Isso se refletiu no preço dos títulos. A Lupatech tem o apoio do BNDES. Obviamente há o interesse do governo brasileiro em continuar comprando Brasil no setor de petróleo e gás. Há certamente o interesse do governo de manter a empresa à tona.”
Oferta de ações
Os bônus da Lupatech rendem 918 pontos-base a mais do que a dívida do governo brasileiro com vencimento em 2041, menos do que 1.027 um mês atrás, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A empresa tem nota de crédito Caa2, oito níveis abaixo do grau de investimento e nove níveis abaixo da nota soberana brasileira.
A ação da empresa sediada em Caxias do Sul caiu abaixo dos R$ 4 fixados por ela em 10 de maio para a venda, eliminando qualquer incentivo aos investidores participarem de uma oferta que daria recursos suficientes à companhia para pagar suas dívidas e acrescentar novas linhas de produtos para voltar à lucratividade, disse Filippe Goossens, analista da Moody’s Investors Service. Os únicos compradores serão BNDES, Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, e um dos sócios da Lupatech, disse ele.
Petros e BNDES são respectivamente o segundo e terceiro maiores acionistas da are Lupatech. A GP Investimentos Ltd. concordou comprar R$ 50 milhões em novas ações em dezembro.
Recursos da Previ
A Lupateach disse em 7 de maio que as ofertas pela venda de ações valeriam até 6 de junho.
A Lupatech disse em comunicado em 28 de maio que solicitou junto ao BNDES uma linha de crédito de R$ 400 milhões em maio, e o banco concordou em avaliar a concessão dos recursos por meio de outras instituições financeiras. Os recursos serão utilizados para rolar dívidas de curto prazo, disse a Lupatech.
A Lupatech não respondeu a dois e-mails enviados e a dois telefonemas em busca de comentários.
Representantes do BNDES, da Petros, da GP Investimentos, da Petrobras e do Ministério das Minas e Energia não quiseram fazer comentários para esta reportagem, após contatos por e-mail e telefone.
A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil SA, provavelmente vai assumir uma fatia da Lupatech se a empresa precisar de mais recursos, disse Adriano Pires, que comanda o Centro Brasileiro de Infraestrutura no Rio de Janeiro.
"Não se pode deixar morrer"
“O governo acha que, no setor petrolífero, não se pode deixar morrer esses tipos de empresas como a Lupatech”, disse Pires em entrevista por telefone do Rio de Janeiro. “É uma estratégia para criar uma indústria local. No fim das contas, o BNDES e os recursos da Previ e da Petros vão salvar a companhia.”
A Previ não está negociando a compra de participação na Lupatech, segundo a assessoria de imprensa do fundo de pensão, em comunicado por e-mail.
O setor de serviços à indústria brasileira de petróleo tem uma necessidade esperada de US$ 400 bilhões em bens e serviços para os 10 anos até 2020 para atender sua meta de mais de dobrar a produção, disse no ano passado o superintendente da ONIP, Carlos Camerini. A Petrobras, principal cliente da Lupatech, tem uma exigência das autoridades reguladoras do País em obter até 70 por cento de seus bens e serviços localmente.
Aquisições da Lupatech
A Lupatech fez 17 aquisições entre 2007 e 2010, em antecipação ao aumento das vendas para a Petrobras, que estava se tornando a maior investidora do setor petrolífero. A companhia fez apostas equivocadas na demanda por equipamentos para produção petrolífera, enquanto a Petrobras concentrava os gastos na exploração da região do pré-sal.
Os R$ 350 milhões que a Lupatech deve levantar com a oferta de ações podem não ser suficientes para manter a liquidez da companhia, disse Goosens, da Moody’s. A empresa pode precisar de fontes adicionais de financiamento porque tem R$ 300 milhões em dívidas vencendo ao longo do próximo ano, e a empresa ainda precisa encontrar bancos dispostos a atuar como agentes financeiros para a linha de crédito de R$ 400 milhões do BNDES, disse ele.
"Longo processo"
“Há tantas incertezas que é difícil dizer se isso é uma melhora significativa”, disse Goosens em entrevista por telefone de São Paulo. “Os R$ 350 milhões, isso é só um passo num longo processo.”
O rendimento dos títulos da Lupatech caiu em relação à máxima de 27 por cento em 23 de novembro, dois dias antes do BNDES dizer que está tentando ajudar a companhia a implementar seu plano de investimento como parte da estratégia de expandir o setor de serviços à indústria de petróleo do País.
“A ideia é de que o BNDES sustentará a empresa”, disse Richard Segal, diretor de mercados emergentes da Jefferies International Ltd., em entrevista por telefone de Londres. “Investidores privados estão deixando o BNDES ser a válvula de segurança aqui.”