Bolsa de valores: mercado deve ficar volátil, mas aguarda novas sinalizações de Lula (Patricia Monteiro/Bloomberg via/Getty Images)
Beatriz Quesada
Publicado em 30 de outubro de 2022 às 22h19.
Última atualização em 31 de outubro de 2022 às 11h21.
Em 1º de janeiro de 2023, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) volta a comandar o País após vencer as eleições presidenciais na noite de domingo, 30. A decisão já era esperada pelo mercado, mas a vitória ainda não está completamente precificada.
A expectativa é de volatilidade no curto prazo, especialmente nas ações mais sensíveis às mudanças políticas, como as estatais. Em um segundo momento, é hora de entender como será o novo governo de Lula, qual será sua equipe econômica e qual âncora fiscal será adotada a partir do próximo ano.
Além disso, cresce a expectativa sobre a transição de governo, já que o presidente Jair Bolsonaro havia se mostrado resistente a aceitar uma possível derrota nas urnas. Passadas as incertezas, analistas avaliam a possibilidade que a bolsa tenha boa reação e volte a subir. Entenda as principais preocupações e reações do mercado abaixo:
As estatais Petrobras (PETR3/PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3) estarão na mira dos investidores nesta segunda-feira, 31. Lula já criticou o modelo de paridade de preços da petroleira, defendido por acionistas, e também sinalizou que o BB poderia ser usado para ofertar crédito a taxas inferiores às do mercado – decisões que podem prejudicar a rentabilidade das companhias.
No entanto, o rumo das empresas e de seus papéis depende de maiores sinalizações econômicas. Analistas defendem que é preciso aguardar o nome do novo presidente da Petrobras e também entender em que medida o discurso eleitoral de Lula irá se traduzir em mudança efetiva.
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As ações de educação, por outro lado, devem reagir bem. Durante a campanha, Lula declarou que irá fortalecer os programas Programa Universidade para Todos (Prouni) e Fies Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o que pode beneficiar empresas de educação Yduqs (YDUQ3) e Cogna (COGN3), focadas no ensino superior.
O setor de construção voltado para baixa renda também deve subir com a vitória de Lula, de olho no histórico do petista a programas sociais de habitação, como o Casa Verde Amarela (antigo Minha Casa, Minha Vida).
"Construtoras focadas na baixa renda, como MRV (MRVE3), Direcional (DIRR3) e Tenda (TEND3) podem subir bem por conta da afirmação recente de Lula de que irá turbinar o programa habitacional do governo com mais recursos e taxas de juros menores", argumenta Flávio Conde, analista da Levante Investimentos.
Gustavo Cruz, analista da RB Investimentos, reforça a avaliação. “No curto prazo, as estatais devem ter desempenho mais negativo, enquanto educação e construção devem ter reação mais forte. Mas o mercado ainda vai aguardar como o novo governo irá conduzir a economia”, avalia.
Para além da volatilidade nas ações, o foco principal do mercado é entender como será a condução econômica do novo governo. As próximas semanas devem ser de expectativa para anúncio da nova equipe econômica e de quais devem ser as medidas no campo fiscal. A preocupação é que um novo governo de esquerda aumente os gastos sociais para além do que as contas públicas poderiam suportar.
“O lado fiscal é a grande preocupação. Um novo modelo de ancoragem fiscal deve ser estudado pelo novo governo, já que aumentar os gastos de forma demasiada ameaça a sustentabilidade da dívida, joga pressão sobre a taxa de juros longa e pode levar à saída de dólares do Brasil”, afirma Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos.
Existe, no entanto, uma dúvida anterior a tudo isso: a possibilidade de tumulto social caso o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores não aceitem o resultado das urnas. A vitória de Lula ocorreu com margem apertada. O petista ficou com 50,9% dos votos, contra 49,1% do atual presidente. O resultado gera apreensão entre os analistas de que o candidato derrotado conteste o pleito.
“A transição tem que ser pacífica. Se o atual presidente não aceitar o resultado, isso pode trazer instabilidade política, o que mudaria a visão positiva que o Brasil tem entre o investidor estrangeiro”, defende Felipe Izac, sócio da assessoria de investimentos Nexgen Capital.
Passadas as incertezas do curto prazo, a expectativa dos analistas é que a bolsa encontre espaço para uma tendência positiva. “O Brasil é atualmente um país muito bem colocado no cenário externo, principalmente em comparação com outros emergentes. Ao ser bem visto pelo investidor estrangeiro, vemos espaço para a bolsa se fortalecer no médio prazo”, completa Izac.
Cruz, da RB, também vê um cenário positivo à frente. “O mercado pode ter uma reação um pouco mais negativa no começo, mas isso pode mudar se o novo governo for capaz de construir uma narrativa positiva, deixando claro o que será feito”, diz.