Luis Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset: "O Brasil está em um caminho melhor (Germano Lüders/Exame)
Repórter
Publicado em 20 de março de 2024 às 11h45.
Última atualização em 21 de março de 2024 às 10h28.
Luís Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset e uma das principais referências do mercado brasileiro, acredita que o crescimento do Brasil voltará a superar as estimativas neste ano. O boletim Focus, que agrega as estimativas para os principais indicadores econômicos do Brasil, prevê que a economia brasileira crescerá 1,80% neste ano. Na avaliação de Stuhlberger, o Produto Interno Bruto (PIB) terá uma alta de "no mínimo" 2,5%.
"Eventualmente, será mais que isso [2,5%]. Com todas as reformas feitas desde o governo de Michel Temer, dá para estimar que o nosso PIB potencial cresceu de 1,5% para perto de 2,2%", disse a uma plateia de investidores em evento realizado nesta terça pela Hedge Investimentos.
O PIB potencial seria o quanto o Brasil pode crescer sem gerar efeitos negativos pela inflação. "Então, o Brasil pode crescer mais sem aumentar tanto a Selic."
Stuhlberger também vê mudanças estruturais sobre a taxa de desemprego, atualmente em 7,6%. no menor nível desde 2015. "Possivelmente, as reformas fizeram a taxa de desemprego de equilíbrio, a Nairu, talvez tenha caído para 7%. Antes era entre 7,5% e 8%. Ainda é um número muito alto, mas é melhor. Isso também vai na direção de que podemos ter uma taxa de juro mais baixa."
Na avaliação de Stuhlberger, o Brasil estaria com um juro real demasiadamente alto, com a Selic de 11,25% (ao menos até a noite de hoje) e um Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) de 3,8% esperado para o fim do ano. "É a maior taxa de juros real do mundo. Qualquer conta elementar diz que, se o juro for esse até 2060, o Brasil quebraria no meio do caminho."
O Comitê de Política Monetária (Copom), irá anunciar nesta noite de quarta-feira, 20, qual será sua decisão para a taxa de juros. A ampla expectativa é de que se confirme mais um corte de 0,50 ponto percentual, como já sinalizado na última decisão. A única dúvida é quanto a possibilidade de o Copom reiterar em seu comunicado que manterá no plural o trecho sobre a manutenção do ritmo de cortes ou se adotará o singular. "O mais importante para o Brasil, hoje, é a letra 'S'. Seria importante o BC manter o ritmo, pelo menos, pelas próximas duas decisões, porque reduziria a Selic para um dígito. O Brasil está em um caminho melhor", afirma.
O gestor pondera que o fiscal ainda é um desafio no país, mas que a situação cambial é confortável. "Pode gerar US$ 100 bilhões, reduzir o déficit da conta corrente e ser credor em dólar, em vez de devedor. Por isso dá para imaginar um cenário positivo. Estamos com um otimismo moderado com o Brasil."
Dado o cenário, o gestor da Verde acredita que o dólar, atualmente próximo de R$ 5,01, estaria acima do razoável. O valor justo, pelas contas da Verde, seria de um dólar a R$ 4,70. "A partir daí, adicionamos um prêmio de 3% a 4%. Então o câmbio hoje seria de R$ 4,90." Segundo Stuhlberger, o valor adicional do dólar seria devido aos posicionamentos recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "E também tem o efeito do Fed, que leva a uma pequena depreciação do câmbio. Uma questão importantíssima é saber até quanto vão cortar os juros. A taxa precificada hoje é perto de 3,90%, que seria bem acima do juro neutro americano de antes da pandemia, de 2,5%. Isso só tem uma explicação: o Donald Trump."
Para o gestor, o mercado está precificando taxas de juros mais altos no fim do ciclo de cortes do Fed devido à possibilidade de o ex-presidente voltar ao poder nos Estados Unidos. Isso porque, segundo Stuhlberger, as políticas de Trump tendem a gerar inflação, como o cerco aos imigrantes e protecionismo para produção de bens localmente. "Trump é juro mais alto."