Libra: "É mais um efeito secundário da era das mudanças informáticas" (Ben Stansall/AFP)
Da Redação
Publicado em 7 de outubro de 2016 às 14h47.
A libra esterlina registrou uma queda relâmpago nesta sexta-feira nos mercados asiáticos, antes de se recuperar, o que deixou os investidores perplexos, em meio ao nervosismo suscitado pelo Brexit.
A divisa britânica ganhou terreno às 13H00 GMT (10H00 horário de Brasília) em Londres, com uma cotação de 1,2380 dólares. Na quinta-feira, às 23H00 GMT (20H00 horário de Brasília), em Tóquio, a libra despencou a 1,1841 dólar, menor valor desde 1985.
A queda foi brutal, de 6,1% comparado com 1,2614 dólar cotado horas antes.
A queda em relação ao euro foi similar. A moeda europeia chegou no mesmo momento a 94,15 pence, um nível que não era visto desde o início de 2009, contra 88,42 pence às 21h00 GMT (18h00 de Brasília). Mais tarde voltou a ficar acima dos 89 pence.
Às 13H00 GMT (10H00 horário de Brasília) em Londres a libra estava a 90,28 em relação ao euro.
O Banco da Inglaterra (BoE) anunciou que está "examinando o que ocorreu" para provocar uma queda tão abrupta e repentina, disse um porta-voz à AFP.
A libra não havia sofrido tal descalabro desde o anúncio dos resultados do referendo de 23 de junho em que a maioria dos britânicos apoiou a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit). Então caiu cerca de 10% e causou o caos nos mercados financeiros.
A divisa estava em queda livre desde que a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou no domingo que ativará antes de 31 de março o artigo 50 do Tratado de Lisboa, que abre caminho para uma saída do Reino Unido da UE.
"O que ocorreu foi uma loucura - chamem de um crash relâmpago - mas um movimento desta magnitude mostra até onde a divisa pode baixar", reagiu Naeem Aslam, analista de Think Markets, em uma nota citada pela agência Bloomberg News. "A libra esterlina está assombrada por temores de um Brexit duro", acrescentou.
Alguns corretores alegaram fatores técnicos para explicar esta queda repentina, tendo como possível causador as declarações do presidente francês, François Hollande.
Hollande defendeu na quinta-feira à noite a firmeza diante do Reino Unido nas futuras negociações sobre seu divórcio da UE.
"Tem que existir uma ameaça, tem que existir um risco, tem que existir um preço", disse Hollande em um discurso em Paris. "O Reino Unido decidiu fazer um Brexit, acredito inclusive que um Brexit duro, já que é preciso ir até o fim na vontade dos britânicos de sair da União Europeia".
"Infelizmente", os comentários foram transmitidos pela imprensa entre o fechamento de Nova York e a abertura na Ásia, em um momento em que a liquidez é sempre limitada", explicou Jeffrey Halley, analista de Oanda. "Em alguns minutos, a libra despencou devido a vendas ordenadas por algorítmos como um fenômeno bola de neve devido à escassa atividade no mercado".
Alguns sugeriram a possibilidade de um "fat finger", um erro involuntário de uma pessoa, mas ele considera essa hipótese pouco provável. "É mais um efeito secundário da era das mudanças informáticas", estimou.
Razão técnica ou não, uma queda ssim parece para alguns inevitável quando se tem a perspectiva de um divórcio sem compromisso no plano econômico com Bruxelas, que seria o pior cenário para os círculos de negócios, com uma possível perda do acesso ao mercado único.
"Achávamos que a queda de hoje não era mais do que uma questão de tempo", afirmou à AFP Yosuke Hosokawa, do Sumitomo Mitsui Trust Bank. "Os fatores negativos se acumulavam contra a libra e, no fim, isso estourou. Ainda não vimos o pior. O recorde de 31 anos (ante o dólar) pode ser batido".
*Atualizado às 13h47