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Juros mais altos e risco de crédito exigem varejo online mais racional, dizem Via e Meli

O cenário de competitividade agressiva ficou para trás, argumentam executivos

Fulcherberguer: quem não está organizado é um grande fornecedor de market share, diz CEO da Via (Leandro Fonseca/Exame)

Fulcherberguer: quem não está organizado é um grande fornecedor de market share, diz CEO da Via (Leandro Fonseca/Exame)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 14 de fevereiro de 2023 às 16h26.

Última atualização em 14 de fevereiro de 2023 às 17h02.

Após o caso Americanas, a maré baixou e expôs quem estava pelado — ou pelo menos malvestido. O escrutínio sobre o varejo cresceu, aumentando o risco de crédito e se somando a um desafio que o setor já vinha enfrentando há mais de um ano: a escalada dos juros.

"Estamos falando de spread de crédito, que fica mais caro ainda não só porque o juro aumentou, mas porque o risco de crédito é maior. Do ponto de vista do investidor, significa que ele vai ser mais seletivo. Se tornou, então, ainda mais importante, mergulhar ainda mais nos números e diferenciar alhos e bugalhos", diz Stelleo Tolda, um dos fundadores e membro da plataforma de marketplace Mercado Livre (Meli).

Segundo ele, agora o varejo online está tendo de mudar de mentalidade. Depois de um período de juros baixos no Brasil e no mundo que permitia um cenário de competitividade muito grande e agressiva. "Mas agressiva ao ponto de efetivamente prejudicar as empresas."

A visão é similar a de Roberto Fulcherberguer, CEO da VIA, dona da Casas Bahia e Ponto, que diz que o comportamento do investidor também mudou, que parou de olhar apenas para crescimento e passou a dar mais importância para a rentabilidade. "Por um tempo ninguém queria saber de lucratividade, só de quanto GMV [vendas brutas] cresce e quantos clientes tem na base. Mas não importa a que custo? Naquele momento não importava.

"Depois das crises e taxas de juro subindo no mundo, o excesso de liquidez secou e, de fato, a cada dez perguntas do investidor, nove são sobre lucro"Roberto Fulcherberguer, CEO da VIA
."

Por isso, os dois executivos acreditam que o novo contexto vai exigir do e-commerce uma postura mais racional. "É uma mudança relevante e que de fato vai privilegiar companhias que estão olhando para a perpetuidade e não em como fazer as coisas na loucura, de maneira rápida, que não é sustentável", disse o executivo ao responder sobre o caso Americanas, mas sem citar a empresa nominalmente. Fulcherberguer e Tolda se apresentaram nesta tarde no CEO Conference, evento do BTG Pactual (do mesmo controlador da EXAME).

Consolidação do varejo online

Com esse ambiente, os dois executivos acreditam que haverá uma migração de participação de mercado no e-commerce, que vai ficando mais consolidado em alguns grandes players. De acordo com Tolda, o mercado brasileiro é muito grande e com potencial de crescimento "gigantesco", o que garante espaço para mais competidores, mas é de esperar, sim, algum nível de consolidação.

"Vai haver uma consolidação no que diz respeito a essa acomodação, mas acho que os players que estão bem posicionados em sua estartégia, estrutura de capital e foco na experiência tendem a sair ganhadores de shares. Acreditamos que vamos ganhar share também", diz Tolda.

Já segundo o presidente da VIA, no curto prazo o desenrolar do caso Americanas assusta o mercado, mas no médio e longo prazo é oportunidade de captura de "market share". "Não existe vácuo no varejo", diz. "Quem não está organizado, é um grande fornecedor de market share. A  VIA já foi fornecedora no passado, mas nos reorganizamos e hoje capturamos share."

 

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