Meirelles já avisou que a classificação do Brasil é baixa em comparação com outros países, como Itália, Portugal e Irlanda (ARQUIVO/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 7 de dezembro de 2010 às 06h11.
Nova York - As taxas dos principais títulos da dívida externa do Brasil estão no menor patamar em seis meses em relação aos da Rússia. O nível atual reflete expectativas de que a nota de crédito brasileira será elevada.
Os bônus em dólar do Brasil com vencimento em 2019 rendiam na semana passada 132 pontos-base a menos do que a dívida de prazo semelhante da Rússia, que tem nota de crédito um nível maior. A diferença é a maior desde maio, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A diferença aumentou porque as taxas dos papéis russos subiram mais rápido do que as dos títulos brasileiros no último mês.
Economistas sondados pelo Banco Central estimam que a economia brasileira vai crescer 7,5 por cento este ano, o ritmo mais acelerado em mais de duas décadas e quase o dobro da expansão prevista pelo Ministério da Economia da Rússia. Para a inflação, a projeção é que os preços no Brasil avancem menos do que na Rússia. O presidente do BC, Henrique Meirelles, disse ontem que a classificação BBB- do Brasil também é baixa em comparação com Itália, Portugal e Irlanda, que têm notas pelo menos três níveis mais altas, e provavelmente será elevada.
“O Brasil tem sido negociado como BBB+ já há algum tempo”, disse David Spegel, estrategista-chefe de dívida de mercados emergentes do ING Groep NV em Nova York. “As agências de classificação de crédito têm estado tão atrás da curva que o mercado vê isso como meio irrelevante.”
A taxa dos bônus brasileiros de cupom 5,875 por cento com vencimento em 2019 despencou 118 pontos-base, ou 1,18 ponto percentual, desde o final de abril para 3,59 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O rendimento do título russo com cupom 5 por cento e vencimento em 2020 caiu 53 pontos-base no mesmo período. No último mês, o rendimento das notas russas subiu 57 pontos-base e as do Brasil, 42.
Grau de investimento
O Brasil, que recebeu pela primeira vez o grau de investimento em 2008, é classificado um nível abaixo da Rússia, que tem nota BBB pela Standard & Poor’s, e dois níveis abaixo da nota russa Baa1 pela Moody’s Investors Service.
O custo para que os investidores se protejam contra um calote na dívida brasileira por meio de contratos chamados credit-default swaps é de 107 pontos-base, comparado a 150 para a dívida russa, segundo preços da CMA. Esses contratos pagam ao portador o valor de face em troca do instrumento em questão ou o equivalente em dinheiro, caso um governo ou empresa deixe de cumprir seus acordos de dívida.
“Isso reflete as divergências fundamentais”, disse Win Thin, estrategista-chefe global de mercados emergentes da Brown Brothers Harriman & Co. em Nova York. “Ainda que a Rússia tenha classificação superior à do Brasil, essas notas perderam todo significado. O Brasil é mais seguro. O Brasil tem mais credibilidade.”
A melhora da nota brasileira depende de como o governo da presidente eleita Dilma Rousseff vai retirar as medidas de estímulo implantadas durante a crise financeira global, disse ontem Regina Nunes, representante da Standard & Poor’s no País, durante um evento em São Paulo.