Rebanho na Fazenda Santa Izabel, em São Félix do Xingu, no Pará: demanda por regularização foi maior que a esperada (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 12 de abril de 2021 às 06h00.
Última atualização em 14 de abril de 2021 às 10h34.
Um debate ganhou espaço na Faria Lima nas últimas semanas entre analistas e investidores. Qual a melhor ação de empresa de carnes para ter no portfólio?
De um lado, a JBS (JBSS3), maior empresa de proteína animal do mundo, conhecida como boa pagadora de dividendos e queridinha dos analistas. Do outro, Marfrig (MRFG3), uma companhia que apresentou um balanço surpreendente em 2020 e voltou a causar entusiasmo nas recomendações com o anúncio do primeiro pagamento de dividendos dos últimos 11 anos.
As duas gigantes foram as maiores beneficiadas da bolsa no último ano entre as empresas brasileiras do ramo de alimentos e proteína. As ações da líder JBS avançaram 63%, acima do ganho do Ibovespa de 54,95%. No mesmo período, os papéis da Marfrig acumularam alta de 102,46%, quase o triplo do registrado pela concorrente BRF (BRFS3).
Companhia | Valorização em 1 ano | Preço da ação* |
Marfrig (MRFG3) | 102,80% | R$ 18,13 |
JBS (JBSS3) | 63,03% | R$ 31,63 |
BRF (BRFS3) | 39,13% | R$ 24,39 |
Minerva (BEEF3) | 19,75% | R$ 10,73 |
*Com base no fechamento do pregão de 08/04 |
Marfrig e JBS têm um forte ponto positivo em comum: são empresas com atuação global que têm forte exposição ao mercado americano. Os Estados Unidos são a maior indústria de gado e o maior país consumidor de carne bovina do mundo. Além disso, os EUA passam por um ciclo positivo no mercado pecuarista desde 2014, o que favorece as margens dos negócios relacionados à carne.
Para 2021, as perspectivas para o setor continuam boas. A expectativa do mercado é a de que a recuperação econômica global impulsione a demanda por carne, favorecendo as exportadoras brasileiras.
Ainda assim, é consenso entre analistas que JBS e Marfrig são empresas muito similares para que o investidor tenha as duas ações na carteira. O ideal nesses casos seria diversificar os riscos escolhendo apenas um case por setor.
A EXAME Invest conversou com analistas para entender qual o melhor papel para inserir o setor de proteína no portfólio.
Bruno Lima, head de renda variável da EXAME Invest Pro, destaca que a geração de caixa da JBS é mais eficiente que a da Marfrig, o que pode favorecer o negócio quando as condições externas não forem mais tão positivas.
“A expectativa é que o ciclo da pecuária nos EUA se normalize em meados de 2022, com menos gado disponível para o abate. É algo que vai afetar as duas empresas, mas há dúvidas sobre se os resultados da Marfrig vão continuar tão bons quanto agora”, explica.
Para a JBS, as expectativas são mais otimistas. “Acreditamos que, mesmo com o fim do ciclo, a empresa conseguiria gerar resultado positivo na ótica de margem e principalmente de geração de caixa, dado que a estrutura de capital está mais equacionada”, explica.
Outro aspecto em que a JBS larga na frente é a estrutura de capital e de negócios. “A JBS tem uma diversificação maior, trabalha com couro, carnes processadas, etapas com maior valor agregado. Além disso, a Marfrig é muito alavancada e essa é uma diferença importante principalmente quando as taxas de juros voltarem a subir”, destaca Alvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do banco digital modalmais.
A Marfrig possui 10 bilhões de reais em valor de mercado, contra 73 bilhões de reais da JBS. Em linhas gerais, isso significa que a Marfrig tem uma probabilidade maior de conseguir, por exemplo, dobrar de tamanho.
Ainda assim, Paloma Brum, analista da Toro Investimentos, defende que o melhor case para o setor é a própria JBS, que pode crescer ainda mais em um negócio em que já é gigante.
“Se a Marfrig adquire novas plantas, novos projetos, é um salto mais relevante de business. Se a JBS fizer a mesma coisa, a entrega não tem impacto tão relevante, mas o pouco que ela cresce em valor absoluto já é maior que Marfrig. O valor agregado conta muito”, afirma.
Lima, da EXAME Invest Pro, lembra ainda que existe uma outra via de crescimento para a JBS: uma nova oferta na bolsa. “Está nos planos da companhia abrir o capital da operação nos Estados Unidos, o que pode reprecificar todo o negócio”, diz.
O banco BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) recomenda a compra dos papéis da JBS ao preço-alvo de 36 reais por ação. Para Marfrig, a recomendação é neutra, mirando o preço de 16 reais por cada papel.
Os motivos são os mesmos citados pelos analistas ouvidos pela EXAME Invest: maior potencial de crescimento da JBS e dúvidas quanto à continuidade do bom desempenho da Marfrig após o fim do ciclo da pecuária nos EUA.
Já o Credit Suisse aposta na Marfrig como escolha prioritária para o setor e vê a ação a 23 reais. O banco aponta que a empresa vem se destacando desde 2018, quando adquiriu a americana National Beef.
O Credit Suisse espera que a operação da Marfrig nos EUA volte a surpreender, seguida pela recuperação das margens da operação na América do Sul, onde a empresa tem forte presença.
A perspectiva também é positiva para JBS. Assim como o BTG, o Credit Suisse enxerga as ações da companhia a 36 reais como preço-alvo. Os destaques para 2021 devem ser as operações da empresa nos Estados Unidos, também beneficiadas pelo ciclo positivo no mercado pecuarista.