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IPOs nos EUA: freada brusca reduz número de ofertas em quase 80%

Operações nos primeiros cinco meses do ano sofrem forte recuo em comparação com 2021, ano recorde

Investidores fogem das estreantes na bolsa e causam queda na oferta de ações (Germano Lüders/Exame)

Investidores fogem das estreantes na bolsa e causam queda na oferta de ações (Germano Lüders/Exame)

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Beatriz Quesada

Publicado em 24 de maio de 2022 às 06h45.

Última atualização em 24 de maio de 2022 às 08h59.

No auge da principal crise financeira do século, em 2008, poucos investidores estavam dispostos a colocar dinheiro em novos negócios na bolsa – mesmo na maior economia do mundo. O mercado americano registrou apenas 62 ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) naquele ano, pior saldo para este tipo de oferta desde o início dos anos 2000.

Passados 13 anos, o cenário se inverteu completamente: 2021 foi o ano recorde de estreias na bolsa americana, que registrou 1.035 IPOs. A explicação está, em parte, na pandemia. Nos últimos dois anos, a economia americana contou com forte estímulo fiscal que se somou a um cenário de juros baixos que já estava estabelecido como tendência desde a crise de 2008. O momento foi propício para que uma enxurrada de empresas fossem à bolsa captar recursos, muitas delas ainda sem dar lucro, mas com perspectivas de ganhos futuros. 

E então a disparada sofreu uma freada brusca. A mesma pandemia que exigiu estímulos trouxe consigo um cenário de inflação global, que levou os Estados Unidos a subir sua taxa de juros pela primeira vez desde 2018. A consequência? Forte queda na quantidade de ofertas.

Os EUA receberam 113 IPOs em 2022 – menos do que os 118 registrados apenas em janeiro do ano passado. Comparando o intervalo de janeiro a maio nos dois anos, o número de 2022 é representa um recuo de 77% frente às 496 ofertas nos primeiros cinco meses de 2021.

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Vale lembrar que a base de comparação é injusta, uma vez que o ano de 2021 bateu um recorde histórico. Ainda assim, a diferença evidencia o tamanho da mudança enfrentada no mercado de lá para cá. 

“Com os juros subindo, o dinheiro fica mais caro e os investidores se tornam mais seletivos. A competição fica ainda mais acirrada porque muitas empresas listadas, com histórico mais consolidado, caíram muito e estão muito baratas”, avaliou Gustavo Aranha, sócio e diretor de distribuição da Geo Capital, gestora especializada em investimentos no exterior.

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Os juros, que estavam estacionados no intervalo entre 0% a 0,25% desde o início da pandemia, começaram a ser elevados em março de 2022 e já operam entre 0,75% e 1%. Acompanhando a alta, a quantidade de ofertas caiu pela metade, passando de 32 em fevereiro para 14 no mês seguinte.

Isso não significa, no entanto, que não exista espaço para IPOs no mercado americano. Isso porque a taxa de juros nos EUA deve ficar em torno de 3% este ano, uma faixa considerada baixa pelo mercado. Tanto é que o nível atual de ofertas está bem perto do total de IPOs realizado em 2016. E, se seguir na mesma toada nos próximos meses, o montante total deve ficar próximo dos valores registrados entre 2017 e 2019.

A grande mudança está no perfil das empresas procuradas pelos investidores. “A expressão do momento hoje no mercado é ‘geração de fluxo de caixa’. Empresas que apresentam balanços sólidos e entregam valor para seus acionistas conseguem captar, mas o discurso de crescimento futuro não é aceito mais de forma tão simples quanto no passado”, afirmou Guilherme Zanin, analista da Avenue, corretora voltada para investimentos nos EUA.

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