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Investimentos chineses no Brasil caem 74% em 2020 sob impacto da pandemia

O fluxo de investimentos chineses para o Brasil ficou em 1,9 bilhão de dólares em 2020, ante 7,3 bilhões de dólares no ano anterior

China: O relatório também destaca a ação dos estados, particularmente do Nordeste, na busca por investimentos chineses (Tingshu Wang/File Photo/Reuters)

China: O relatório também destaca a ação dos estados, particularmente do Nordeste, na busca por investimentos chineses (Tingshu Wang/File Photo/Reuters)

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Reuters

Publicado em 5 de agosto de 2021 às 10h35.

Depois de mais do que dobrar em 2019, a entrada de investimentos chineses no Brasil não resistiu ao baque da crise gerada pela pandemia da covid-19 e, no ano passado, despencou 74%, atingindo o menor patamar em seis anos.

É o que mostra pesquisa inédita do Conselho Empresarial Brasil-China divulgada nesta quinta-feira.

O fluxo de investimentos chineses para o Brasil ficou em 1,9 bilhão de dólares em 2020, ante 7,3 bilhões de dólares no ano anterior. A retração no período foi maior do que a queda total dos investimentos diretos líquidos no país no ano, de cerca de 50%, segundo dados do Banco Central.

Apesar de apontar prejuízos à relação política entre Brasília e Pequim com o aprofundamento das tensões entre o então presidente norte-americano Donald Trump em 2020, dado o alinhamento do governo Bolsonaro a Trump, a pesquisa do CEBC descarta que tenha havido abalo às relações econômicas.

O relatório, que é divulgado anualmente mas sofreu atrasos em 2020 por causa da pandemia, atribui os fluxos menores no ano passado ao resultado da recessão global que afetou os investimentos externos no Brasil e no mundo de forma geral.

"Esse tombo pode ser interpretado mais como um esfriamento dos fluxos de investimentos globais no exterior, que caíram 35% em 2020, do que por atritos políticos bilaterais", diz o documento. "A deterioração do ambiente político entre Brasil e China em 2020 não parece ter afetado as relações econômicas bilaterais."

Tulio Cariello, autor do estudo e diretor de conteúdo e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), afirma que, apesar das críticas de Bolsonaro à China durante a campanha à Presidência, seu governo não promoveu rompimentos práticos na relação e houve até avanços institucionais, com a reativação da Cosban, comissão que representa o principal mecanismo de diálogo bilateral.

O relatório também destaca a ação dos Estados, particularmente do Nordeste, na busca por investimentos chineses. Em 2019, sete governadores ou vice-governadores dos nove Estados da região fizeram visitas oficiais à China e o Maranhão promoveu uma missão com 54 empresários ao país asiático.

"Acho que os Estados do Brasil já se deram conta que não necessariamente eles precisam passar por Brasília para fazer esse tipo de iniciativa, de atrair investimentos estrangeiros. Acho que no caso do Nordeste é bem claro isso", afirmou Cariello, ressaltando que a descentralização de esforços contribui para aumentar os investimentos.

Em 2019, o Nordeste foi, pela primeira vez, a região que mais recebeu investimentos chineses no país, respondendo por 34% dos projetos confirmados. Considerando o estoque dos aportes já feitos pela China, no entanto, o Sudeste é o principal receptor, com o Estado de São Paulo concentrando 31% do total de projetos.

A China tem alternado com os EUA a posição de principal investidor no país desde 2010.

SETOR ELÉTRICO CONCENTRA APORTES

O setor elétrico aumentou sua liderança na atração dos investimentos chineses no ano passado, absorvendo 97% do valor dos aportes. Os destaques foram projetos da State Power Investment Corporation (SPIC) --envolvida no desenvolvimento do parque termelétrico do Açu, no estado do Rio de Janeiro-- , da CGN Brasil Energia --que está implantando centrais eólicas na Bahia-- e da State Grid.

No setor financeiro, a pesquisa chama atenção para uma injeção de capital de 222 milhões de reais feita pelo Bank of China em sua filial brasileira e para a inauguração de uma operação bancária da XCMG, maior fabricante de maquinário para construção da China, com investimento inicial de 100 milhões de reais.

Olhando à frente, a avaliação da pesquisa do CEBC é que a presença da China no setor elétrico tende a seguir preponderante nos próximos anos, mas com a perspectiva de os investimentos cresceram também em áreas como logística, portuária, construção civil e transporte.

Cariello ressalta que os chineses também já apresentaram propostas para projetos de saneamento, apontado como prioritário pelo governo brasileiro após a revisão do marco legal do setor. "Todo o setor de infraestrutura de forma geral, e também de exploração de recursos naturais, pode ter certeza que tem uma empresa chinesa interessada em investir", afirmou.

Sobre os investimentos potenciais na área do 5G, em que China e EUA travam globalmente uma complexa disputa política e econômica, a pesquisa faz menção discreta.

"Existem oportunidades de inovação da agenda bilateral que poderiam se beneficiar do crescente avanço da China nas novas fronteiras da tecnologia da informação", diz o documento, ressaltando o potencial de projetos ligados a temas como inteligência artificial, economia digital, internet das coisas e redes 5G.

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