Dilma e Lula: as análises são de que o governo deverá ser mais proativo no esforço de retomar o crescimento com iniciativas criticadas (Nelson Almeida / AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de março de 2016 às 09h50.
Nova York e Londres - A nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva como ministro sinaliza mudanças da política econômica para uma direção não desejada por investidores estrangeiros, segundo analistas.
Ainda que a presidente Dilma Rousseff rechace a ideia de guinada, as análises são de que o governo deverá ser mais proativo no esforço de retomar o crescimento com iniciativas criticadas, como aumento dos gastos públicos e uso de bancos públicos para incentivar o crédito.
Com isso, há temor de que reformas prometidas para arrumar a situação fiscal sejam engavetadas em Brasília.
Analistas estrangeiros acreditam que, além do papel político, Lula na Casa Civil poderia determinar a mudança da agenda de prioridades econômicas com um tom mais desenvolvimentista.
A analista sênior de risco soberano da agência de classificação de risco Moodys, Samar Maziad, entende que a mudança no gabinete de Dilma Rousseff sugere um governo mais propenso a reabrir a torneira dos gastos em detrimento do esforço para o ajuste das contas.
Ela lembra que a nota do Brasil tem perspectiva negativa. Portanto, um novo rebaixamento pela Moodys é possível.
A percepção é semelhante na agência Fitch. A diretora de ratings soberanos para América Latina, Shelly Shetty, nota que "receios sobre a trajetória fiscal vão continuar prejudicando a confiança" na economia brasileira.
Por isso, a diretora diz que a instituição continuará monitorando atentamente os desdobramentos políticos e econômicos no Brasil.
Entre os itens polêmicos mais citados pelos analistas estão o incentivo ao crédito por meio dos bancos estatais, aumento de gastos em programas simbólicos do governo, como o Bolsa Família, e a pressão para a redução do juro pelo Banco Central em um período em que o governo não tem dinheiro em caixa e a inflação segue muito acima da meta.
Se esse tipo de agenda econômica for executada, há o temor de que o governo adie ou mesmo engavete as reformas estruturais, como a da Previdência.
Receita
Ainda que essa possível agenda econômica tenha funcionado após o estouro da crise em 2008, o mesmo receituário não deve fazer o mesmo efeito em 2016, diz o economista para o Brasil do banco espanhol BBVA, Enestor dos Santos.
"Naquela época, tínhamos dívida pública baixa, o governo podia gastar mais, bancos públicos tinham posição financeira muito melhor e, como a inflação estava caindo, o BC podia cortar juro. Hoje, está tudo ao contrário."
Dado o momento de forte incerteza, não parece que Lula terá o mesmo magnetismo que tinha em seus dois mandatos anteriores, avalia o gestor da Janus Capital nos EUA, Dan Raghoonundon.
No caso de rumores da troca de comando do BC, o analista avalia que os investidores podem não mais estar dispostos a dar o benefício da dúvida para um novo presidente escolhido por Lula. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.