B3: enquanto as ações ainda estão mantendo seus ganhos, os investidores estrangeiros sacaram R$ 2,6 bilhões de ações brasileiras no mês passado (Renato S. Cerqueira/FuturaPress)
Ligia Tuon
Publicado em 9 de março de 2019 às 08h30.
Última atualização em 9 de março de 2019 às 08h30.
Estrategistas e investidores estão se preparando para um período agitado com o início da tramitação do projeto de lei para a reforma da Previdência.
Embora a expectativa seja de que a reforma, a principal da agenda econômica do governo, seja aprovada e coloque as contas fiscais do país de volta aos trilhos, há certa preocupação. Há relatos de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, começou a negociar a reforma diretamente com os deputados devido à preocupação de que o governo tenha feito pouco progresso na divulgação da proposta no Congresso. Os congressistas retomam o trabalho na próxima semana.
"O risco político vai continuar prejudicando o mercado", disse You-Na Park, estrategista do Commerzbank em Frankfurt. "Enquanto o mercado não puder ter certeza de que a reforma será aprovada pelo Congresso, a incerteza persistirá e isso deve pesar sobre os ativos brasileiros."
O real apagou todos os ganhos de 2019 na quinta-feira em meio às polêmicas causadas por um tuíte do presidente Jair Bolsonaro e ao humor azedo com ativos de risco. Os operadores estão cada vez mais se preparando para um mercado agitado, levando a volatilidade implícita de uma semana à maior alta entre as moedas de mercados emergentes na semana passada. Enquanto as ações ainda estão mantendo seus ganhos, os investidores estrangeiros sacaram R$ 2,6 bilhões de ações brasileiras no mês passado, de acordo com dados da B3 compilados pela Bloomberg.
Os investidores estão se concentrando na rapidez com que o projeto será encaminhado para votação na Câmara dos Deputados e quanto será a economia com o projeto, estimada pelo governo em R$ 1,16 trilhão em 10 anos.
"Algo precisa acontecer antes que o otimismo comece a se esvair", disse Brendan McKenna, estrategista de câmbio do Wells Fargo em Nova York. “Quando o projeto de lei for para a Câmara dos Deputados, eu gostaria de ver uma economia na área de pelo menos R$ 700 bilhões para colocar o Brasil em uma trajetória sustentável. Qualquer coisa abaixo disso e o real estará em apuros."
A instalação da CCJ na Câmara dos Deputados, a primeira comissão que precisará analisar o projeto de lei antes que ele seja enviado para votação no plenário, pode ser um sinal positivo, disse ele. Se nenhum progresso for visto, o dólar poderá “facilmente” subir para R$ 4, segundo McKenna.
O deputado Felipe Francischini do PSL disse ao Globo que, se a comissão não estiver instalada na próxima semana, a votação da reforma pode ser atrasada para o segundo semestre do ano.