Após anos de “fluxos de entrada substanciais” os mercados emergentes são “vulneráveis” a “deslocamentos globais de carteiras de valores”, explicaram analistas do Deutsche Bank AG (REUTERS/Neil Hall)
Da Redação
Publicado em 20 de junho de 2013 às 14h44.
São Paulo – Os investidores estão retirando dinheiro dos mercados emergentes no ritmo mais rápido em dois anos devido à queda de ações, títulos e divisas causada por um desaquecimento econômico e um menor estímulo global.
Mais de US$ 19 bilhões saíram de fundos de investimento em ativos de países em desenvolvimento nas três semanas finalizadas em 12 de junho, o maior valor desde 2011, segundo a EPFR Global. Os investidores estrangeiros se livraram de US$ 5,6 bilhões de ações brasileiras e de US$ 3,2 de títulos indianos neste mês.
A reversão do fluxo de US$ 3,9 trilhões que chegou aos mercados emergentes nos últimos quatro anos foi agravada por protestos populares no Brasil e na Turquia em desafio a várias políticas dos governos, do combate à inflação ao desenvolvimento de infraestrutura.
Por sua vez, o Banco Mundial estima que a China, a maior economia em desenvolvimento, terá a taxa de crescimento anual mais lenta desde 1999, enquanto os déficits de contas correntes na Indonésia, no Brasil e no Chile são os maiores em uma década.
Contribui para a reversão a especulação de que a Reserva Federal Americana e o Banco Central Europeu porão fim ao fluxo de dinheiro barato. O presidente da Fed, Ben S. Bernanke, disse ontem que os responsáveis pela política econômica talvez “moderem” o ritmo das compras de títulos neste ano, reduzindo a injeção de dinheiro na economia americana, parte do qual chega a outros países.
Os títulos de governos de países emergentes em moeda local caíram 4,8 por cento desde 31 de dezembro, segundo dados compilados pelo JPMorgan. As commodities, medidas pelo S&P GSCI Index, caíram 3,3 por cento no mesmo período devido à menor demanda da China.
Após anos de “fluxos de entrada substanciais” os mercados emergentes são “vulneráveis” a “deslocamentos globais de carteiras de valores”, explicaram analistas do Deutsche Bank AG.
Na Turquia, protestos em Istambul provocados pela indignação a respeito dos planos de desenvolvimento, desataram uma onda de manifestações contra o governo em todo o país em 31 de maio, a maior perturbação em uma década de poder do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, com pelo menos quatro mortos e milhares de feridos em choques entre os manifestantes e a polícia.
Tensão no Brasil
No Brasil, os protestos começaram por causa do aumento das passagens de ônibus e cresceram até transformarem-se nas maiores manifestações no país em duas décadas.
“É uma etapa perigosa”, disse Stephen Jen, cofundador do hedge fund SLJ Macro Partners LLP. “O Fed começará a normalizar as taxas. É um processo gradual, mas a pressão apontará em uma única direção: a favor do dólar e contra os mercados emergentes”.
As importações potencializadas por empréstimos baratos levaram os déficits de conta corrente no Chile, no Brasil e na Indonésia aos valores mais altos em pelo menos uma década, deixando os países vulneráveis à fuga de capitais, segundo dados compilados pela Bloomberg.
O declínio dos ativos de mercados emergentes pode acelerar ainda mais esse fluxo e criar um círculo vicioso, acredita Phillip Blackwood, que gerencia US$ 3,7 bilhões em dívidas de países em desenvolvimento na EM Quest Capital LLP de Londres.
“É o começo do fim do dinheiro fácil”, disse, apostando na desvalorização da lira e do peso colombiano. “A situação positiva anterior está se revertendo. É a tempestade perfeita para mais quedas”.