Carnes: autoridades de saúde pública também alertaram que o uso em excesso de antibióticos pelo setor agrícola (Alexandre Severo/Exame)
Karla Mamona
Publicado em 11 de novembro de 2020 às 10h18.
(Bloomberg) -- Uma coalizão de investidores com US$ 25 trilhões sob gestão disse que alguns dos maiores fornecedores de carne não estão fazendo o suficiente para prevenir surtos de doenças infecciosas, e destacou a necessidade de melhorar medidas como biossegurança e bem-estar animal.
Cerca de 75% das 60 maiores empresas de capital aberto que fornecem carne, laticínios, peixes e ovos foram consideradas de alto risco quando se trata de conter potenciais doenças zoonóticas futuras, segundo análise do grupo Fairr. Mais da metade das empresas mostrou alto risco em critérios que incluem uso de antibióticos, condições de trabalho e bem-estar animal, disse a associação com sede em Londres.
A crise de covid-19 destacou condições de trabalho precárias em muitos frigoríficos, que enfrentaram dificuldades para conter o contágio, e também o vínculo entre a criação de animais e a propagação de doenças.
Um surto de coronavírus em fazendas de visons na Dinamarca e casos de gripe aviária em partes da Europa recentemente aumentam essas preocupações. Autoridades de saúde pública também alertaram que o uso em excesso de antibióticos pelo setor agrícola tem contribuído para uma crescente resistência microbiana.
“Esses sistemas intensivos de produção animal colocam em risco o bem-estar animal, o bem-estar humano e resultados ambientais”, disse a diretora executiva da Fairr, Maria Lettini. “Os investidores agora pedem às empresas de carne e laticínios que façam muito mais em biossegurança, condições de trabalho e padrões de bem-estar para evitar a criação e a propagação da próxima Covid-19.”
Segundo a análise, a pandemia destacou a falta de medidas suficientes para proteger trabalhadores e evitar cortes na cadeia de abastecimento.
O relatório da Fairr indicou que fornecedores de proteína animal não têm feito o suficiente para combater a mudança climática: três em cada quatro não declararam ou definiram metas significativas para as emissões de gases de efeito estufa.
Ainda assim, há sinais de avanço. Cerca de 25% das empresas agora fornecem uma imagem completa de seu impacto climático com a divulgação das chamadas emissões de Escopo 3, que incluem as emitidas por fornecedores, segundo a Fairr. Sete empresas também prometeram metas com base na ciência para a redução de emissões.
“É realmente um setor que tem desafios de sustentabilidade significativos”, disse Michaela Zhirova, responsável por pesquisa e produtos ESG da Nordea Asset Management, que faz parte da Fairr. “Os investidores devem continuar a pressionar por melhoras mais rápidas.”