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Investidor quer agenda micro além da reforma da Previdência

A tramitação demorada da reforma da Previdência faz crescer a expectativa com o andamento de uma agenda microeconômica

Investidor: previdência não deixará de ser o grande ator nos próximos meses (Alex Wroblewski/Getty Images)

Investidor: previdência não deixará de ser o grande ator nos próximos meses (Alex Wroblewski/Getty Images)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 10 de março de 2019 às 08h44.

Última atualização em 10 de março de 2019 às 08h44.

(Bloomberg) -- Depois da euforia inicial com a agenda pró-mercado do presidente Jair Bolsonaro, os investidores começam a pedir mais. A tramitação demorada da reforma da Previdência faz crescer a expectativa com o andamento de uma agenda microeconômica por parte do governo.

O leilão de 12 aeroportos na próxima semana pode ser o primeiro teste de uma agenda alternativa para animar os mercados. Também passaram a integrar o radar dos agentes temas como telecomunicações, saneamento básico e a autonomia formal do Banco Central.

“O leilão dos aeroportos é um bom indicativo do apetite dos investidores estrangeiros”, disse Bernd Berg, estrategista da Woodman Asset Management, na Suíça. “Enquanto o processo da reforma vai caminhando, acredito que é essencial que o governo ande com outros pontos, como privatização de companhias e melhoria do ambiente de negócios.”

Outro tema de interesse dos investidores é a Medida Provisória 868, que altera o marco regulatório e possibilita privatizações no setor de saneamento. O ministério da Economia está trabalhando junto com a Casa Civil para a aprovação da MP, que caduca em abril e pode atrair R$ 500 bilhões em investimento privado até 2033, disse o secretário de Desenvolvimento da Infraestrutura do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, em entrevista por telefone.

Na avaliação de Ilya Gofshteyn, estrategista do Standard Chartered Bank, a discussão envolvendo a reforma da Previdência está drenando o progresso de outras iniciativas. "Colocar as contas públicas em ordem é claramente crítico, mas no meio tempo outras leis de menor porte também podem melhorar o sentimento."

A Previdência não deixará de ser o grande ator nos próximos meses, mas uma agenda microeconômica, que não interfira na tramitação da reforma, começa a ser esperada pelo mundo financeiro. “Acho que pode andar em paralelo, mas primeiro tem que começar a contar o prazo para Previdência”, disse Luiz Eduardo Portella, sócio e fundador da Novus Capital.

Dentro do ministério da Economia, há divergência sobre o assunto. Segundo uma fonte próxima ao ministro Paulo Guedes, o governo deve escolher apenas um tema de cada vez para empenhar seus esforços. Já para um secretário da pasta, o governo deveria considerar como manter os investidores interessados no Brasil no caso de um debate prolongado sobre a reforma da Previdência. Calibrar o humor do mercado financeiro seria fundamental para evitar grande volatilidade e diminuir o impacto de eventuais notícias negativas que possam surgir sobre a reforma, segundo ele. Ambas as pessoas falaram sob condição de anonimato porque a discussão não é pública.

A desidratação que a reforma sofrerá no Congresso nos próximos meses já é esperada pelos analistas, mas seu tamanho deverá provocar impacto no preço dos ativos.

O interesse do mercado em variar o tema pode ser comprovado pelo interesse dos agentes no secretário de Privatizações, Salim Mattar. Falas recentes de Mattar causaram certo alvoroço e mexeram com ações de empresas. Com um estilo despojado, o secretário chegou a dizer que pretende “reprivatizar” a Vale.

As medidas micro são "um ponto-chave que o mercado está despercebendo, já que está muito focado na reforma da Previdência," diz Shamaila Khan, diretora de dívida para mercados emergentes da AllianceBernstein, em Nova York. "No âmbito micro, haverá diversas medidas que devem melhorar o ambiente de negócios no Brasil."

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