Bolsa: "achamos que o Brasil pode emergir como a força econômica que claramente tem potencial para ser", diz BlackRock (Leandro Fonseca/Exame)
Bloomberg
Publicado em 11 de outubro de 2022 às 09h50.
Gestores de recursos de mercados emergentes deixaram de lado o nervosismo que geralmente precede as eleições e elegeram o Brasil como uma das principais opções de investimento, independentemente do vencedor do pleito no dia 30 de outubro.
O UBS Global Wealth Management espera que o índice MSCI Brazil supere o índice MSCI Emerging Markets em até 15% nos próximos 12 a 18 meses. A TD Securities vê espaço para o real brasileiro se valorizar cerca de 7% até o fim do ano que vem. O Ashmore Group diz que os títulos do país são uma barganha após terem sido atingidos pela volatilidade política.
No fim do mês, os brasileiros vão decidir se o atual mandatário Jair Bolsonaro permanece no Palácio do Planalto por mais quatro anos ou se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai alcançar um épico retorno político. A disputa tem ramificações para o meio ambiente, políticas sociais e o atual programa de privatizações em curso, mas os investidores estão apostando que o cenário para as contas públicas no curto prazo não será comprometido — não importa quem seja eleito.
Entre os fatores que sustentam a visão mais construtiva estão: múltiplos descontados, o estágio mais avançado do país no ciclo de juros e o fato de que o Brasil está relativamente isolado das tensões geopolíticas.
“Achamos que o Brasil pode emergir como a força econômica que claramente tem potencial para ser”, disse Amer Bisat, chefe global de renda fixa de mercados emergentes na BlackRock e ex-economista sênior do Fundo Monetário Internacional. “Como investidor, o que importa é que o próximo governo — independentemente de quem vença — mantenha a prudência fiscal e a integridade institucional.”
O Brasil também está bem posicionado em relação a outras economias em desenvolvimento. A Rússia é intocável para muitos investidores por conta da guerra na Ucrânia, enquanto a China enfrenta uma reabertura econômica conturbada. A Turquia viu a lira colapsar em direção a mínimas históricas, enquanto ativos do Chile têm se mostrado voláteis em meio a discussões sobre uma nova constituição.
“Há poucos países emergentes com a liquidez do Brasil, e os que tinham estão lidando com questões que vão desde um problema inflacionário gigante até uma guerra”, disse Bruno Pandolfi, sócio-fundador da SPX Capital, que tem mais de R$ 80 bilhões em ativos sob gestão. “No meio de todo esse cenário, olhando de fora, o Brasil é o menos pior.”
Para os estrategistas, isso significa que o Brasil tem a chance de encerrar anos de desempenho medíocre e superar seus pares emergentes.
Já tem sido o caso no acumulado do ano. Enquanto todas as classes de ativos no mundo emergente estão prestes a registrar queda no ano em meio à alta de juros, as ações brasileiras, o real e os títulos estão em campo positivo.
“Não é um porto seguro, mas no contexto do que está disponível lá fora ou do que está acontecendo no resto do mundo”, o Brasil parece atrativo, disse Gorky Urquieta, gestor da Neuberger Berman, que tem cerca de US$ 25 bilhões em ativos emergentes sob gestão e está “overweight” (exposição acima da média do índice de referência) em títulos locais do Brasil.
Os operadores que apostam na moeda brasileira estão se beneficiando de um carry trade atrativo, com a taxa básica de juros do país no patamar de 13,75% — entre as mais elevadas do mundo. Isso ajudou o dólar a se enfraquecer e se negociado perto de R$ 5,20.
Economistas agora esperam que a taxa Selic permaneça inalterada até o fim do ano antes de iniciar um movimento de baixa gradual, com a inflação em queda abrindo espaço para o Banco Central começar um ciclo de normalização.
Nesse ambiente, Cristian Maggio, chefe de estratégia de portfólio da TD Securities, espera que o dólar recue para R$ 4,83 até o fim de 2023. O Brasil vai continuar entre os países com os juros reais mais altos do mundo mesmo com uma política mais frouxa, segundo ele.
“A inflação está começando a cair, e os juros reais só vão subir, tornando o real muito atraente”, disse Maggio.
Os títulos locais e o real devem apresentar uma boa performance independentemente do resultado eleitoral, e os ativos brasileiros permanecem “extremamente subvalorizados”, segundo Gustavo Medeiros, chefe de pesquisa da Ashmore. Medeiros corretamente previu que o primeiro turno seria mais acirrado do que as pesquisas sugeriam.
“A melhor estratégia seria usar essa volatilidade vinda da política como oportunidade para comprar ativos brasileiros”, disse Medeiros.
O Brasil tem um dos mercados acionários com melhor desempenho ao redor do globo neste ano, e ainda oferece múltiplos atrativos. Após um ganho de 12% para o MSCI Brazil no acumulado de 2022, o índice negocia a 6,8 vezes o lucro estimado para os próximos 12 meses, abaixo da média histórica de 10 anos de 11,2 vezes.
Jonathan Garner, estrategista do Morgan Stanley, está “overweight” em ações brasileiras. A força dos ativos locais neste ano reflete “melhores balanços, um índice de cobertura de dívida externa bem melhor, e dados de conta corrente”.
Daniel Shaykevich, da Vanguard, é mais pessimista. A volatilidade nos mercados financeiros globais, disse ele, pode ser exacerbada pela eleição.
“Estamos cautelosos”, disse Shaykevich. “Mesmo quando se trata dos mercados locais, é necessário pensar na trajetória de longo prazo do país em relação ao fiscal e como isso afeta o juro longo.”
Outros operadores veem um risco mais idiossincrático — a possibilidade de uma turbulência à la invasão do Capitólio nos EUA caso o desfecho da eleição seja contestado. Esse não é o cenário-base dos investidores, mas algum tipo de tensão social violenta pode afetar o humor do mercado.
Natalia Gurushina, economista da Van Eck Associates, diz que o ponto-chave será o próximo governo continuar buscando mudanças que facilitem os negócios no país.
“As reformas de Bolsonaro começaram a dar resultado”, disse ela. “Mas o Brasil precisa de mais mudanças estruturais para elevar a trajetória de crescimento, e garantir a sustentabilidade da dívida.”
Para Will Pruett, da Fidelity, nenhum dos candidatos representaria uma mudança acentuada no ambiente de negócios. Enquanto alguns investidores temem que Lula pise no acelerador em relação aos gastos públicos, Pruett cita que o líder petista foi endossado por Henrique Meirelles e escolheu Geraldo Alckmin como vice.
“Esse é o sinal mais poderoso, a meu ver, de que Lula será pragmático, e não idealista, em sua gestão da economia brasileira”, disse Pruett. “Bolsonaro, obviamente, representa continuidade e acho que continuaria a andar com reformas econômicas positivas se reeleito.”